31 maio 2006

Tosqueira pouca é bobagem

Bom, ontem escrevi aqui sobre um crossover bem bacana, que rolou apenas nas capas da revista Police Comics (olha nos posts abaixo). Mas hoje resolvi falar de encontros classificados, no mínimo, como toscos!

Você sabia que, mais de uma vez, o Superman dividiu as páginas de um gibi com... coelhos? Pois é, se hoje a Marvel tasca o Wolverine em tudo quanto é capa, pra tentar alavancar as vendas, o Homem de Aço já viveu dias semelhantes na DC.

Vai uma cenoura aí, Super?Em 1982, a editora lançou a revista Captain Carrot and the Zoo Crew (algo como Capitão Cenoura e a equipe do Zoológico), que se passava numa realidade alternativa e usou o kryptoniano na capa da primeira edição adivinhe por quê! Mas não ajudou muito, pois 20 números depois, o título foi pro saco! Quer se surpreender? O roteiro é de Roy Thomas, que escreveu tantas histórias bacanas do Conan e passou por Sociedade da Justiça, Vingadores, X-Men etc! Os desenhos são de Scott Shaw.

Se me ajudar, ganha um copo de leite com chocolate, amigão!Cinco anos depois, outra bizarrice: o Super dividiu a cena de uma edição especial com o coelho do achocolatado Quik! A revista foi produzida, claro, porque a Nestlé deu uma grana pesada pra DC. ´Mas só um detalhe: em 1987, a reformulação do Homem de Aço, para deixá-lo "mais humano" estava em pleno andamento, por John Byrne!

E quer saber a equipe que produziu esta one-shot? Então, segura: Mike Carlin (roteiro), Carmine Infantino (lay-out) e Dick Giordano (traço e arte-final)! É... tem coisa que é bom nem tentar explicar!

Finalmente, em 2000, saiu a minissérie em quatro partes Superman & Bugs Bunny, em que o herói e seus companheiros de Liga da Justiça (a DC não deixou que ele passasse vergonha sozinho) contracenam com Pernalonga, Gaguinho, Papa-Léguas, Patolino, Hortelino Troca-Letras, Frajola, Taz, Piu-Piu e outros.

Não, não é uma HQ da Era de Prata! Olha a panca do Hortelino!

Como a dona da DC Comics é a Warner, claro que ninguém ia chiar por causa desse "inusitado" encontro, né? A história foi escrita por um craque das HQs de humor: Mark Evanier, de Groo. O traço foi de Joe Staton.

O Patolino das Trevas! Adivinhe quem vai salvar a Liga da Justiça!

Ah, todas essas histórias são inéditas em português! E já que estou falando da Turma do Pernalonga: É isso aí velhinho! P-p-por enquanto é só p-p-pessoal!
Sobre o Tarzan

Tarzan #33, Dell ComicsMais uma vez, aproveitando a deixa do Naranjo, que adora caçar Tarzans nos sebos, vou contar um pouco da curiosa história de publicação do Tarzan nos Estados Unidos.

Em 1948 a Dell Comics lançou uma revista (não foi a primeira) com o personagem, que já era muito famoso nas tiras. Essa série durou 131 números e só parou de ser publicada em 1962.

Na maior parte das edições o desenho era de Jesse Marsh. Outro destaque eram as capas fotográficas com Lex Barker interpretando o Tarzan.

Taran #144, da Gold KeyEm 1962, a Gold Key assume a publicação do Tarzan, adotado inclusive a continuidade da numeração, algo bastante comum naquela época. A revista vai do 132 até o número 206, publicado em 1972.

A Gold Key tinha a prática de publicar capas pintadas, que hoje tem um aspecto bem pulp, a maior parte delas de autoria de George Wilson.

Jesse Marsh ainda era o desenhista regular, mas o ótimo Russ Manning já começava a aparecer em histórias backups, do Tarzan, Korak (O Filho de Tarzan) e Brothers of The Spear (que não me recordo se foi publicado no Brasil).

Tarzan #207, o primeiro da DCEm 1972, começa uma fase especial do personagem, com o início do Tarzan da DC. Como não podia deixar de ser, o primeiro número da DC do Tarzan, é o 207, continuando da Gold Key.

Nesta fase o destaque absoluto é Joe Kubert, que desenhou algumas das melhores histórias do personagem (muitas delas saíram aqui pela Ebal).

Mas, além dele, passaram pela revista Burne Hogarth, Gray Morrow, José-Luis Garcia López, Alex Niño e até Carmine Infantino.

Como se não bastasse, a revista também republicou como backup, muitas das tiras de Hal Foster com o personagem.

A revista variou bastante na periodicidade e no número de páginas: começou mensal com 48 páginas, passou para 32 e chegou a ter 96 páginas bimestrais.

Tarzan #1, da MarvelQuando a revista parou em 1977, no número 259, já estava republicando material do Kubert. Neste mesmo ano o personagem foi parar na Marvel.

Na "Casa das Idéias", Tarzan mudou a numeração e começou do 1 mesmo. Nesta fase quem desenhou o personagem foi John Buscema. A revista durou apenas 29 edições.

Depois disso, o personagem pipocou em diversas editoras como Malibu, Dark Horse e outras, e tirando uma exceção ou outra, sem grandes momentos de brilho.

Uma das que mais gosto deste período nebuloso é uma minissérie de três partes de 1992, da Malibu, Tarzan: Love, Lies and the Lost City, produzida pela Semic, com arte pintada de Peter Snejbjerg e Teddy Kristiansen. Dava gosto de ler.

Tarzan: Love, Lies and the Lost City #1, da Malibu

30 maio 2006

Será que vai?

Prezado leitor,

Venho aqui recorrer para tentar terminar duas matérias na minha coluna do Universo HQ.

É o seguinte: procuro pelas revistas Os Justiceiros (Ebal) números 7 e 23; e pela revista Inter Quadrinhos (primeira série, Editora Ondas) número 4.

Com isso em mãos, duas novas colunas entram no site. Aceito pagar, desde que o preço seja o usual de mercado. Se for doação, brinde, troca ou algo do tipo, melhor ainda.
Thanks!
Se aparecer alguma alma caridosa, é só mandar um e-mail para naranjo@universohq.com.

Grato pela atenção. Voltamos com nossa programação normal.
Mais histórias de sebos

Já que o Franco de Rosa ficou inconformado com minha tentativa de compra da revista do Pimentinha no sebo, narrada anteriormente, aí vai outra.

Estive numa loja de revistas usadas com bastante coisa, tudo devidamente misturado, uma bagunça. Precavido, quando encontrei os quadrinhos perguntei o preço. “As maiores são R$ 2,00 e as menores custam R$ 1,00”, foi a resposta.

Tarzan ExtraLogo que comecei a procurar, gostei do que vi: no meio de inúmeras revistas, um montão de formatinhos (e alguns formatões) do Tarzan da Ebal! Legal! Separei, depois de procurar bastante, diversas edições.

Na hora de pagar, eis a surpresa.

Dono do sebo: “Epa, isso tudo é revista antiga. Não tem como fazer por menos que R$ 5,00 cada”. Quer dizer, o que custaria no máximo uns setenta reais, pelos meus cálculos, subitamente passou para cerca de quatrocentos reais. Fiquei chateado, pra dizer o mínimo. Tentei argumentar que ele tinha passado o valor de um real, mas, adiantou? Fui embora sem levar nada.

Passados uns dois meses, voltei na loja. Quem estava tomando conta era uma moça. Fiz a mesma pergunta sobre valores, obtive a mesma resposta. Encontrei todos os “Tarzans”, gastei os setenta reais e fui embora. Rapidinho.

Ficaram mais claras as minhas “regras para ir aos sebos”?
Um crossover sensacional, mas só nas capas

Entre as décadas de 1940 e 1960, era comum as capas de revistas apresentarem desenhos "nada a ver", que não representavam o que se passava nas histórias em quadrinhos dentro delas.

Que encontro, hein? Cuidado, Homem-Borracha!

E foi nas capas do título Police Comics, da Quality Comics, que rolaram alguns crossovers entre dois excepcionais personagens, que tinham como característica comum a mistura de ação e humor em suas HQs. Estou falando simplesmente do Spirit, do mestre Will Eisner, e do Homem-Borracha, de Jack Cole.

Três das quatro capas aqui mostradas têm a asinatura de Jack Cole. Pena que nos quadrinhos esse encontro inusitado nunca aconteceu, mas seria um presentaço para os inúmeros fãs dos dois heróis, entre os quais me incluo.

Os dois detetives solucionarão o mistério? Nesta, até o Bolão, parceiro do Homem-Borracha, dá as caras
Alex Toth

Por Franco de Rosa

A notícia da morte do Alex Toth me deixou muito triste. Fiquei sabendo pelo Universo HQ. No dia anterior, eu estava consultando três álbuns com desenho dele para um trabalho que estou fazendo, já faz alguns meses, sobre "Preto-e-Branco".

Conversei então com o Shima, Seabra, Gustavo Machado e Primaggio. Todos nós sempre cultuamos o Toth. Não só pelo trabalho dele em animação, mas principalmente pelo domínio do preto-e-branco, que descobri ao acompanhar seus trabalhos no Zorro de capa e espada, quando fui desenhar a série para a Ebal.

Arte de TothAlex Toth foi dos poucos artistas que, sem estar presente, reunia numa mesa de bar um bando de desenhistas a comentar os trabalhos dele. Isso sem termos uma única página do cara na frente. O desenho dele aparecia na mente de todos. E todos comentavam os detalhes, ou o que haviam descoberto, ou aprendido com essa fera.

No primeiro encontro que ocorreu entre os quadrinhistas da Grafipar em Curitiba, em 1980, promovido pelo Claudio Seto, na mesma rodinha estavam Shima, Watson Portela, Seabra, Jô Fevereiro, eu e Gustavo Machado. Foi nosso primeiro "grande debate Tothiano", no qual discutíamos as descobertas sobre os trabalhos dele.

Quem havia chamado a atenção de todos para o artista tinha sido o colecionador Giovanni Voltolini. E nós tínhamos naquele período apenas os Zorros de Walt Disney, algumas historietas românticas publicadas na La Selva nos anos 1960 e os quadrinhos da Warren, como referência. Não havia edições em portfólio como hoje.

E todos nós vibrávamos com a paginação e a composição de cenas de Toth, nas quais ele apresentava tudo de forma simplificada, e de como "enganava" ao fazer personagens em primeiro plano, em preto, ocupando a maior parte do quadro, equilibrando a composição.

A expressão "enganando" sempre foi usada pelos desenhistas para dizer que o artista aplicava um truque gráfico que permitia que ele não elaborasse muito o trabalho. E Toth possuía muitos macetes que repetia em suas obras, sempre com sucesso e mestria.

Posso citar uma boa dezena de artistas brasileiros que estudaram a arte de Toth e sempre levantavam seu nome, comigo, em bate-papos: Rodolfo Zalla, Walmir Amaral, Fernando Bonini, Rubens Cordeiro, Joe Bennett, Ota, Ofeliano, Paulo Hamasaki, Mozart Couto, o argentino Eduardo Risso e até mesmo o francês Jean-Claude Mezieres.

Eu possuo dezenas de histórias back-ups de Toth que recortei de um montão de revistas. Também tenho várias cópias de HQs inteiras dos anos 1950. Como muitos outros, coleciono as obras dele e sou apaixonado pelas suas figuras femininas. A Canário Negro que ele fez para a DC nos anos 70 é insuperável. Cheguei a fazer uma historia em quadrinhos de oito páginas inteiramente “clonada” dos desenhos dele em 1982, quando estava aprendendo o ofício. Foi um grande laboratório.

Agora, com a morte dele, fiquei emocionado com as declarações das pessoas no site Tothfan. Principalmente a do espanhol Béa, que começou a publicar na Warren, onde Toth era um deus.

Com certeza, com a morte de Toth, que morreu bonito, sobre a prancheta, como muitos artistas revelam que gostariam de partir pra outra, muita coisa do mestre vai aparecer e ser lembrada. O que só fará bem aos nossos olhos e alma.

Que o mestre Alex Toth descanse em paz.

29 maio 2006

A Alex Toth, minha reverência

Bom descanso, Alex TothPô, fiquei muito triste com a morte do ótimo Alex Toth. Sabia que ele estava doente e tal, mas é sempre um baque quando chega a fatídica notícia.

Como muitos disseram, ao menos Toth morreu como qualquer desenhista sonha: trabalhando. Ele caiu sem vida sobre sua prancheta!

Os sensacionais HerculóidesMinha infância foi povoada por criações dessa fera dos quadrinhos e das animações, algo que eu só viria a saber muitos anos depois.

Eu vibrava com os episódios de Mightor, Herculóides, Galaxy Trio, Homem-Pássaro e, principalmente, Space Ghost! E pode me tachar de velho, mas acho uma babaquice, um desrespeito esses remakes que o Cartoon Network exibe atualmente, em que vários desses heróis se tornaram verdadeiros patetas!

Spaaaaaace GhoooostE ele ainda tinha no currículo trabalhos em desenhos como Jonny Quest, Superamigos e tantos outros. E nos quadrinhos foi um dos criadores do Torpedo! Para saber mais sobre a carreira de Toth, confira esta nota do Universo HQ.

Olha, em homenagem ao talento de Alex Toth, o que eu queria mesmo era que algum roteirista (bom) de quadrinhos bolasse uma história em que todos os personagens criados por ele participassem. Já imaginou? Seria duca!
Ficando velho...

Pois é, sou da época que internet era algo de ficção.

Um tempinho atrás, o lazer era voltado principalmente para leitura, televisão ou cinema, e olhe lá. Acredito piamente que essa grande segmentação dos quadrinhos ocorreu, principalmente, graças à concorrência cada vez maior de outros veículos.

Afinal, as tiragens gigantes dos quadrinhos começaram a diminuir justamente com o advento da televisão.

Agora, as maravilhas que as novas tecnologias proporcionam são indizíveis. Por exemplo, os nostálgicos, como eu, poderão em breve comprar o box do Muppet Show.

Muppet ShowSe não me falha a memória, a Record passava diversos desenhos todas as tardes, durante a semana, e por volta das 18h começava esse divertido show de marionetes. Pra quem quer relembrar, tem um trecho em vídeo simplesmente imperdível neste link - é o Mahna Mahna!
Cartão de Identidade dos heróis

RG do Super-HomemSuper-herói que se preza também tem RG.

A Ebal colocou como “extra” em alguns almanaques no início da década de 1970 os “Cartões de Identidade dos Super-Heróis”, com direito a assinatura e tudo!

Aqui, você confere o Super-Homem e o Hulk. No verso dos mesmos, consta a filiação, amigos e inimigos.

RG do HulkAgora, se o RG é do Super-Homem com assinatura do Clark Kent, não seria perigoso alguém descobrir a identidade secreta do Homem de Aço?

Pior: o Super ser solteiro tudo bem, mas ter essa informação sobre o Hulk... alguma mulher se candidata? Ou então, imagine numa batida policial, pedirem ao monstro verde: “Senhor, seu RG, por favor”...
Mais velharias...

O Dicionário Marvel saía nas páginas dos formatinhos da AbrilJá que o Naranjo anda desenterrando velharias, quem se lembra do Dicionário Marvel, da Editora Abril?

Cada folha vinha encartada numa revista da editora (em formatinho) e trazia um pequeno resumo do personagem até aquele momento.

Era bastante útil para os jovens leitores, numa época na qual as fontes de referência eram escassas, não havia internet e a cronologia da Marvel ainda era bem picada.

Também era um bom truque para forçar o leitor a comprar todas as revistas da Marvel que a Abril publicava, para completar o pequeno dicionário, que possui 285 páginas.

O Dicionário Marvel saía nas páginas dos formatinhos da Abril

28 maio 2006

Figurinhas de heróis

Livro ilustrado Secret Wars

FigurinhasNunca fui de colecionar álbuns de figurinhas.

Eu até gostava, mas, entre gastar a mesada em quadrinhos ou figurinhas, ficava sempre com a primeira opção.

De toda maneira, é divertido relembrar este álbum aqui, que praticamente fui obrigado a colecionar: o livro ilustrado e as figurinhas das Guerras Secretas (Secret Wars), que acompanhavam as revistas como brinde.

Mais figurinhasA Abril publicou essa minissérie no ano de 1986, em doze edições quinzenais. Eu sabia direitinho o dia em cada uma chegava às bancas, e ia religiosamente comprar.

Possivelmente, o que me chamou a atenção, na época, foi essa reunião de tantos super-heróis numa série à parte, tanto que a trama nem era lá essas coisas.

Relembrando, a entidade Beyonder leva heróis e vilões para uma contenda num distante lugar do universo, e os vencedores teriam seus sonhos realizados - argumento de Jim Shooter e arte de Mike Zeck.

E ainda mais figurinhas!Anos depois, fiquei sabendo que a editora modificou um monte de fatos, incluindo personagens e retirando outros, mas isso não vem ao caso no momento.

Voltando ao álbum: também em formatinho, tinha oito páginas incluindo a capa, e as figurinhas deviam ser coladas numa das pontas, pois debaixo delas estavam textos com a ficha dos heróis.

Divertido!
Como tudo começou

Sempre que dou uma entrevista, vira e mexe me perguntam como comecei a trampar com quadrinhos. Já contei várias vezes, mas como nem todo mundo as leu, resolvi relatar aqui.

Este texto me abriu as portas do mercado de quadrinhosBem, quando terminei o colegial, aos 17 anos, entrei na faculdade de Educação Física (por ser apaixonado por esportes). Eu me formei em 1986 e em 1988 cursei jornalismo. Claro que a intenção era trabalhar com jornalismo esportivo, o que fiz (em rádio) por quase dois anos.

Mas era uma época brava. Não ganhava nada (mesmo) na rádio e ainda estava na faculdade de jornalismo (a Metodista, de São Bernardo do Campo, na qual me formei em 1991). Então, eu e um grupo de amigos criamos um jornal mural (falo de 1989, não tínhamos nem sequer computador, quanto mais net), no qual comecei a fazer algumas críticas de quadrinhos. Era a época do boom da Abril e da Globo, e todos os grandes jornais de São Paulo abriam páginas e páginas para falar de HQs.

Primeira página de minha matéria de estréia, publicada em Fantasma # 7 e Sandman # 7, da GloboAí, como a galera da faculdade sempre falava que meus textos estavam bacanas, decidi usar minha boa e velha cara-de-pau para tentar a sorte! Enfiei vários desses textos (datilografados, em sulfite e com as pontas das folhas furadas – por causa das tachinhas) debaixo do braço e saí visitando as pessoas que escreviam à época - André Forastieri (Folha), Marcelo Alencar (Estadão), Alessandro Gianinni (Jornal da Tarde), Franco de Rosa (Folha da Tarde), Rosane Pavam (Diário do Grande ABC) e Leandro Luigi Del Manto (Editora Globo).

Fui sempre bem recebido, mas conseguir um frila eram outros quinhentos. Até que, numa dessas visitas, o Leandro leu e gostou do meu texto sobre Cinder e Ashe (é este aí acima), minissérie que ele editou ainda na Abril. Aí, perguntou se eu gostava de música, porque queria publicar na HQ Press (seção que saía nas páginas centrais de Sandman e Fantasma, aquele remake da DC Comics) uma matéria sobre quadrinhos e música!

Cara, naquela hora, minha alegria era tanta, que se o Leandro me perguntasse se eu gostava do Palmeiras (sou corinthiano fanático) era capaz de dizer sim... Bom, agora exagerei um bocado! :-)

Segunda página de minha matéria de estréia, publicada em Fantasma # 7 e Sandman # 7, da GloboLógico que topei! Lembro que quando saí da Globo (na rua do Curtume, na Lapa), olhei pra trás pra ver se tinha alguém olhando e quando me vi sozinho, dei um salto, como se estivesse comemorando um gol. E, pra mim, foi um gol mesmo! Era a chance de entrar no mercado de quadrinhos, algo que, até então, era um sonho apenas.

Só quando baixou a adrenalina que percebi: a missão não seria nada simples. O Leandro queria sete laudas (9.800 caracteres). Eu quase não tinha material de referência e meu conhecimento sobre quadrinhos não era tão grande. Aí, liguei para a Livraria Muito Prazer, que ficava na av. São João, expliquei a situação e perguntei se poderia passar o dia pesquisando lá.

Como a resposta foi sim, fiquei lá horas e horas, folheando centenas de HQs e anotando, anotando, anotando. Começou aí o meu gosto pela pesquisa, algo que sempre norteou meus textos desde então.

Terceira página de minha matéria de estréia, publicada em Fantasma # 7 e Sandman # 7, da GloboÉ incrível me recordar como as coisas mudam, mas aquele texto eu escrevi primeiro à mão! Só depois datilografei! Resultado: 14 laudas! O dobro! Quando entreguei, enquanto o Leandro ia lendo, minha agonia só aumentava. Depois de um bom tempo, ele falou: "Gostei muito; tenho que dar um jeito de publicar inteira essa matéria!"

A sensação de dever cumprido só não foi maior do que a satisfação de sentir que eu finalmente estava assinando minha entrada no mercado de quadrinhos.

A matéria saiu nas edições 7 de Fantasma e Sandman; e como as revistas são de 1990, coloquei as quatro páginas (com poucas ilustrações, porque eu escrevi demais) aqui, num tamanho legal, pra quem quiser ler.

Depois, com ela debaixo do braço, consegui mais frilas. Passei para jornais (o primeiro foi o Jornal da Tarde), entrei na Globo, pra trabalhar como redator, escrevi para várias revistas e o resto é história (que, com o tempo, contarei aqui).

Quarta página de minha matéria de estréia, publicada em Fantasma # 7 e Sandman # 7, da GloboDesde então, acho que não passei nem um mês de minha vida sem escrever (nem que fosse uma notinha) sobre quadrinhos. Claro que, hoje, quando leio aqueles textos do jornal mural, penso: "Nossa, como eu pude escrever isso?". Mas isso é natural com qualquer profissional, em qualquer ramo de atividade, quando se recorda de seu início de carreira! E, quer saber? É uma lembrança deliciosa!

Por isso mesmo, todas essas matérias estão na página de abertura de meu portfólio (tenho todas as matérias que publiquei até hoje). Guardo-as com todo carinho, pois foi com aquelas folhas datilografadas e amareladas que minha carreira começou! E devo muito a elas!

27 maio 2006

Trocando as bolas... digo, as capas!

O título de capa dessa edição da Ebal é deveras interessante.

Como você confere na imagem, essa revista, publicada no ano de 1979, em formatinho, promete apresentar As Origens Secretas dos Supervilões!

A origem dos Supervilões, digo, heróis!Portanto, ficamos sabendo dos primórdios de...

Arqueiro Verde!
Legião dos Super-Heróis!
A Caçadora (Terra 2)!

Sim, somente super-heróis. Alguém possivelmente havia “tomado umas” na redação da saudosa editora carioca...
Super expectativa

"They can be a great people, Kal-El, they wish to be. They only lack the light to show the way. For this reason above all, their capacity for good, I have sent them you, my only son".
Jor-El

Confesso: Desde o último Senhor dos Anéis, só agora volto a criar grande expectativa para ir ao cinema.

Aliás, mal vejo a hora.

Superman Returns tem tudo para ser o lançamento do ano. E Kevin Spacey como Lex Luthor me impressionou nos trailers... pobre Homem de Aço, vai ser um massacre. :-)

Superman ReturnsO primeiro Superman, de 1978, com o eterno Christopher Reeve, foi o motivo que me fez começar a gostar pra valer de super-heróis e conseqüentemente de quadrinhos. Por isso, periga rolar muita emoção no cinema.

Que bom - e tenho certeza de que não sou só eu, certo, Nasi?

Acho que vou aproveitar e assistir ao teaser e aos trailers... de novo.

26 maio 2006

O dia em que entrevistei Don RosaClint Eastwood e Romário? Que nada! Don Rosa e Marcus Ramone

Não é segredo a minha paixão (eu diria amor, ou até idolatria) pelos quadrinhos Disney. Imaginem, então, a minha euforia pela oportunidade que tive de estar frente a frente com um de seus maiores representantes, meu grande ídolo Don Rosa, o Mestre dos Patos.

Tudo começou em uma tarde de sábado, no mês de março de 2004, quando eu conversava ao telefone com o Sidão. Papo vai, papo vem, ele me fez a seguinte pergunta:

- Topa entrevistar o Don Rosa?

Lembro-me de, antes de responder, pensar comigo mesmo: “O cara tá perguntando a um rato se ele quer comer queijo?”.

- Tá falando sério? É claro que topo! – eu disse.

Don Rosa estaria chegando ao Brasil em maio daquele ano, como um dos convidados especiais do Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco, na cidade de Recife. Como moro em Maceió, seria um pulo só até lá. O Sidão acertou com o organizador do evento para disponibilizar um tempinho do Don Rosa pra mim.

Pois bem, no dia 23 de maio (o festival só aconteceria dias depois), lá estava eu em Recife, no Mar Hotel, em que Don Rosa se hospedava. Ele estava curtindo a praia de Boa Viagem e demorou um pouco a aparecer.

Don Rosa é gente fina!Quando chegou, destacou-se no meio de uma multidão de turistas: branco feito alma penada (um pouco avermelhado por causa do sol), com bermuda até os joelhos, camiseta “ula-ula” colorida e sandália de couro, ao lado de sua esposa, Ann.

Aproximei-me e, para espantar meu nervosismo, arrisquei uma piadinha. Ou eu pagaria um mico federal, ou ele se mostraria acessível como eu gostaria que fosse. A segunda opção, graças aos deuses dos quadrinhos, aconteceu quando eu disse:

- Boa tarde, o senhor é o Clint Eastwood?

Ele começou a rir e disse que eu não era o primeiro a “confundi-lo” com o famoso ator e diretor de cinema. Pronto, ganhei-o no papo. Depois, pediu-me que o aguardasse mais um pouco, até que fosse tomar banho e trocar de roupa.

Passaram-se uns vinte minutos e ele retornou. Fomos a uma sala reservada para darmos início à entrevista. O tiozão tem uma estatura considerável, e somando-se ao fato de que sou apenas um centímetro maior que o Romário, senti-me como o Mickey diante do Prof. Pardal. Não contive um rompante de tietagem e disse:

- Meu Deus, não acredito que estou conversando com o grande Don Rosa!

A resposta foi automática:

Autógrafo para o Universo HQ- Sinto muito, mas meu nome é Clint Eastwood.

Caímos na risada e, a partir daí, a conversa foi uma descontração só. Ele não parava de fazer careta (principalmente para as lentes da máquina fotográfica), e dava boas gargalhadas cada vez que eu pronunciava “Róza” em vez de “Rôussa” (ou como quer que seja a pronúncia correta de seu sobrenome).

Para “dar o troco”, desafiei-o:

- Ah, vai, duvido que você consiga dizer “Tio Patinhas e Patacôncio”.

Don Rosa em açãoO resultado foi hilário, e está até hoje gravado na fita da entrevista. Imagine algo como um alemão tentando falar “Itaquaquecetuba”, ou a reconstituição dos primeiros ensaios da linguagem falada, nos primórdios da humanidade.

Tanta desinibição, porém, não o impedia de ficar desconcertado a cada elogio que eu fazia sobre sua obra. Ele ficou visivelmente ruborizado quando falei que o considerava o novo Homem dos Patos (e não considere isso uma heresia contra Carl Barks, por favor!).

Legal, também, foi a tiração de sarro do Mestre dos Patos com a edição brasileira da Saga do Tio Patinhas. Ele pegou um dos meus exemplares e fingiu não conseguir ver nada naquele formatinho. Chegou a perguntar:

E não é que ele tirou um sarro dos formatinhos do Tio Patinhas?- Tem alguma coisa impressa nisso aqui?

Uma surpresa negativa, entretanto, foi constatar que Don Rosa é quase um completo desentendido de quadrinhos. Desconhecia a imensa maioria dos personagens e quadrinhistas por mim citados. Até mesmo alguns da Disney. Do Brasil é que não sabia de nenhum, mesmo, e chegou a me pedir desculpas por isso.

Mas nada que diminuísse o brilho desse gênio da nona arte, muito menos o meu deslumbramento por estar ali com ele. Principalmente por sua simpatia.

O coroa é mesmo gente fina!
Obras de (Nona) Arte

Como todo fã de quadrinhos, eu também tenho pelas paredes de minha casa (no escritório onde trabalho) alguns pôsteres, todos devidamente enquadrados. Hoje, resolvi "apresentá-los".

Sandman autografado por GaimanEste primeiro é o menor deles em tamanho, mas tem um grande valor pra mim. Adoro esta arte do Mike Dringenberg, com o Sandman manuseando um humano dormindo como se fosse uma marionete. A imagem não é difícil de achar na net; a diferença é que meu pôster está autografado por Neil Gaiman! "Dream a little!", ele escreveu, quando de sua primeira passagem pelo Brasil! ;-)

O segundo ganhei num aniversário, do Leandro Luigi Del Manto. É uma imagem promocional da minissérie Orquídea Negra em que Dave McKean fez a heroína entre o Monstro do Pântano e o Batman. Belíssima arte. Muito legal a forma como ele trabalhou as cores na área de cada personagem.

Monstro do Pântano, Orquídea Negra e Batman juntos, no traço de Dave McKeanComo a maioria dos leitores, eu achei muito ruim o primeiro crossover Marvel versus DC, aquele que foi decidido pelos votos dos leitores (deu cada absurdo no resultado...). Mesmo assim, como fã dos heróis das duas editoras não resisti a ter na minha coleção este pôster, desenhado pelo italiano Claudio Castellini (valeu pela informação, Marquito!). Afinal, é uma imagem bem bacana.

O pau quebrou entre heróis da Marvel e da DC! Só que a HQ era ruim à beça.Pena que este encontro tenha sido tão banalizado e ocorrido num momento sinistro, em que o Superman estava cabeludo, o Hulk era inteligente, o Homem-Aranha era o Ben Reilly, o Wolverine estava com as garras de ossos etc.

Deixei pro final o meu favorito. Ganhei de minha ex-chefe Flavia Ceccantini, quando trabalhava na Editora Globo, em 1991. É o cartaz do Festival de Lucca, na Itália, até então um dos principais do planeta (hoje perdeu relevância). Desenhado por Massimo Rotundo, apresenta alguns dos principais personagens de quadrinhos do mundo, independentemente do gênero.

Que reunião fantástica de personagens, hein?Num amplo salão dividem o espaço Batman, Superman, Tocha Humana, Homem-Aranha, Fantasma, Asterix, Dick Tracy, Tarzan, Dylan Dog, Ranxerox, Ken Parker, Tintim, Tex, Pato Donald, Mickey, Gato Felix, Mandrake, Conan, Táxi, Krazy Kat, Druuna, Bionda, Valentina, Mafalda, Little Nemo, Lucky Luke, Ferdinando, Diabolik, Sombra, Flash Gordon, Spirit, Torpedo, Arzach, Popeye, Snoopy, Major Grubert e, no centro, Corto Maltese, um de meus personagens favoritos.


O pôster é uma homenagem a uma pintura de Rafael intitulada La escuela de Atenas (obrigado pela valiosa dica, meu amigo Nirlando), que reproduzo aqui. Olhe como Rotundo foi fiel na posição dos personagens.

Não é à toa que, pra mim, este pôster é uma obra de (nona) arte.
Valeu a pena!

Biografia de Mort WalkerTem coisas que são um verdadeiro parto.

Sempre fui fã do trabalho de Mort Walker, desde moleque, com as revistas do Recruta Zero da RGE, que tinham boa parte do material produzido no Brasil.

Como tudo que é bom é também eterno e atemporal, quando adulto continuei apreciando o trabalho deste gênio, agora nas tirinhas. São sacadas geniais, de quem curte a vida e sabe colocar no traço as particularidades do cotidiano. Impossível não se identificar.

Era inevitável: meu sonho era fazer uma entrevista com Walker. Não foi fácil. Mas, com um pouco de sorte e persistência, consegui o contato, e com a ajuda dos meus parceiros do Universo HQ, realizei o bate-papo por correio, pois o genial criador do Recruta Zero, agora um senhor de idade avançada, é avesso aos computadores.

O livro estava autografado!Passado pouco mais de mês desde que a entrevista estava online, eis que recebo um pacote por correio. Era o livro cuja capa você confere acima, a autobiografia completa, repleta de imagens do criador e seu trabalho, direto dos Estados Unidos.

Já não precisava tanto, quando começo a folhear e encontro o que você vê ao lado. Quase enfartei.

E, já que tem gente neste blog aqui me fazendo inveja, pergunto: quem se importa com bat-badulaques? ;-)

25 maio 2006

Guia para comprar quadrinhos em sebos

Ah, você quer um gibizinho?Alguns donos de sebos são pessoas do lado negro da força.

Não estou me referindo às lojas especializadas. Nessas, quase sempre as revistas antigas já estão com preços marcados. Já nos sebos, nada tem preço. Tudo depende da sua atitude para pagar (bem) caro, ou nem tanto.

Confira algumas diretrizes básicas, as quais eu mesmo elaborei, para tentar se dar bem nestes estabelecimentos que oferecem tentadoras revistas em quadrinhos usadas.

1. Nunca, nunca demonstre interesse. Por nada. Nem que seja aquela revista que você procura há exatos dezenove anos.

2. Nem pense em perguntar o preço de uma revista só. Pegue seis, sete, dez exemplares e pergunte, como se aquilo fosse uma porcaria: “Quanto custa isso daí?”

3. Se você encontrar uma revista (ou várias) a qual procurava desesperadamente, e que vai comprar de qualquer jeito, coloque com outras que não valem nada, misture e tente levar tudo junto. Mesmo que gaste um pouquinho mais.

4. Tente saber dos preços de maneira global. Pergunte: “Quanto custam essas revistas menores? E as maiores? Se eu levar bastante tem desconto?”.

5. Nem pense em dar uma de entendido. O cara do sebo vai achar que você sabe mais que ele, e ai você está, literalmente, ferrado. Tudo que quiser comprar vai custar caro.

6. Minta. Diga algo como “Sabe que meu sobrinho adora gibizinhos? Vou levar um montão pra ele se divertir. Você faz um preço legal?”

7. Não entre no sebo e pergunte “Cadê os quadrinhos?”. Procure você mesmo.

8. Se você encontrar uma coleção dispersa, e localizar todos os números, não coloque em ordem numérica para depois pedir o preço. Neste caso, volte já ao item 3.

9. Entrou no loja, e perguntou algo do tipo “Tem o Akira número 10?”, pronto. Se tiver, acabou de quadruplicar o preço, no mínimo.

10. Lembre-se: o dono de sebo está pouco se lixando para as revistas que você tanto adora. Ele só quer lucrar com isso, afinal, é um comerciante. Portanto, negocie sem emoção. Tenha calma. Nem pense em tentar socar o sujeito, não vale a pena (quer dizer, pode até valer, mas é melhor deixar quieto).

11. Se você fizer uma compra, e achar que o cara que forneceu os preços está sacaneando, não leve as revistas. Fale que pensou bem, deixe num lugar fácil de achar e volte no dia seguinte. De preferência, na hora do almoço. Existe grande chance daquela pessoa que informou os valores estar fora. E, acredite, com outro vendedor os preços podem ter uma variação incrível – para cima ou para baixo, vai na sorte.

Sebo é uma delícia!É isso. Boa sorte na próxima compra!