Estava lendo a matéria das melhores do ano do Sidão e comecei a ficar preocupado com o tanto que teria que se gastar para comprar tudo que saiu no ano. A gente sempre prega que tem que ter diversidade nos quadrinhos, contudo, na hora em que tudo que queremos é publicado, começa a ficar preocupante o tamanho do investimento a se fazer.
Para ter uma idéia, fazendo uma conta do que foi efetivamente lançado no mês de dezembro, cheguei em um valor arredondado de R$ 1.105,00, sendo que, deste valor, R$ 650,00 são só de títulos da Panini. Fazendo uma comparação do poder aquisitivo que se precisaria ter, esse gasto é bem próximo a três salários mínimos, algo bem incompatível com a renda da maioria dos brasileiros.
Um dado interessante: em fevereiro de 2006 fiz o mesmo levantamento para um texto no Pop Balões e o gasto naquele mês era em torno de R$ 500,00, ou seja, em dois anos houve um aumento de mais de 100% no gasto com quadrinhos. Sendo que a inflação foi relativamente baixa, isso mostra que estamos cada vez com mais páginas de quadrinhos sendo lançados todos os meses.
A questão é que, toda vez que olho para esses números, lembro daquela preocupação: esse crescimento é sustentável ou é uma bolha que vai explodir na nossa cara a qualquer momento? Realmente não gosto de fazer previsões, mas pense comigo: o número de leitores não cresce tanto, pelo menos não na proporção em que os títulos estão sendo lançados e as pessoas não têm dinheiro e nem desejo de comprar tudo. Dessa forma, temos os mesmo leitores de anos atrás, gastando mais ou menos o mesmo tanto que podem.
Nem precisa ser matemático ou economista para ver que para essa conta fechar muitos títulos estão vendendo pouco. Não há como saber o lado das editoras, porque elas não divulgam as tiragens e muito menos os números das vendas, mas muitas vezes tenho medo delas estarem construindo castelos de areia.
Temos que ter muita diversidade, precisamos de quadrinhos de todos os tipos e quadrinhos bons que chamem a atenção da mídia não especializada, mas seria importante as editoras pensarem em ações que aumentem os leitores, porque só entupir as bancas e livrarias de quadrinhos e acertar com um ou outro best seller não vai garantir o futuro do mercado.
10 comentários:
Acho que a implosão não acontecerá sem aviso. Antes os lançamentos diminuirão.
então, mas daí não seria uma implosão e sim uma queda. Meu medo e crescer, crescer, crescer e uma hora reveleram que tentaram tudo, não dá mais e leiam essas revistas que sobraram aí e pronto.
Uma coisa: Comparar os lançamentos de dezembro, um dos meses com mais lançamentos no ano (natal, 13º, etc.) com fevereiro, um dos com MENOS (carnaval, praia...) é meio injusto.
De qualquer forma, na França, meca dos quadrinhos ocidentais onde as vendas estão na casa de 100 milhões de álbuns (não periódicos, ÁLBUNS!) por ano, há 300 lançamentos por mês, que custariam mais de 3000 euros para qualquer mortal que se atrevesse a comprar tudo (e sabe-se lá como faria para LER isso!).
Não dá para se comprar tudo. O mérito de haver uma variedade de lançamentos está na possibilidade de um fã de, digamos, HQs franco-belgas poder comprar mais de um ou dois lançamentos por ano.
Hunter (Pedro Bouça)
Acho que não há muito a fazer, Zé (se me permite a intimidade), outro dia, eu li na revista institucional de uma grande livraria aqui de São Paulo que o crescimento de vendas no setor de encadernados e especiais (principalmente, graphic novels) é exponencial. E esse material não precisa sair num mês só, na verdade, ele pode ficar por anos numa prateleira de livraria e comic shops, ou, na melhor das hipóteses, pode ser reeditado sempre que necessário. Isso é interessante justamente para a diversidade, afinal, com pequenas tiragens, qualquer título pode vender “bem” no formato de encadernado, coisa que seria impossível para uma revista mensal, que “encalha” na banca. Estou levantando essa questão porque pelo menos 30% dos títulos de sua conta eram encadernados ou GN (essa foi a mesma conta da revista citada).
Pensando nisso, se fosse apostar em qualquer coisa, diria que haveria uma queda das revistas seriadas (se é que já não está acontecendo), e um crescimento na produção e venda de especiais e encadernados (que já se figura). Para o médio-longo prazo, haveria um estancamento, já que o salário não sobe muito mais que a inflação. Enfim, em três, quatro ou cinco anos o mercado entraria numa recessão e as tábuas de salvação seriam as republicações dos encadernados e, claro, os medalhões das revistas mensais (X-Men, Homem-Aranha e Batman), além de um ou outro arroubo momentâneo por conta de um modismo (filme ou desenho animado de um personagem) e, também, os mangás que já foram modismos e agora parecem ter tomado seu lugar no cenário de quadrinhos mundial e brasileiro.
O que pode ser “ruim” nisso tudo é que alguns títulos bons que não alcançaram boa vendagem lá fora, de onde os gringos no mercado globalizado tiram suas conclusões, não seriam publicados nem em forma de revista mensal, nem em encadernados. Isso já acontece, eu acho (afinal a revista com mix sempre tende a deixar alguma coisa de fora).
Mas, o que falta mesmo, vou ser sincero, é publicidade para atrair novos leitores e, principalmente, revistas mensais mais baratas para a molecada (que ganha mesada) ser “doutrinada” na arte dos quadrinhos. Resumindo, novos leitores!
Abraço,
Conrad
Zé, um diferencial é que parte dos títulos são lançados pra livrarias e estes podem ficar um bom tempo nas prateleiras. Gibis de banca não tem esse privilégio por causa da rotatividade do mercado de revistas. Acho que problema teremos, mas não tão cedo...
Concordo com o Conrad aí em cima. Falta revista para doutrinar leitores novos. Semana passada comprei a Geração Marvel para o filho de uma amiga minha, que alucina com super heróis, e está aprendendo a ler. Descobri que a revista havia sido cancelada. O mais provável é que as vendagens tenham sido pífias. Agora que moleque de 7/10 anos vai gastar R$7 numa revista mensal, que na maioria das vezes precisa de um vasto conhecimento da cronologia dos heróis envolvidos?
Uma outra dúvida que tenho, e que talvez os donos deste blog possam responder é: Por que não publicar as tiragens? Qual a justificativa deste receio?
Abraços! E parabéns pela iniciativa de colocar mais colaboradores no blog!
Guilherme, não divulgam mais para não revelar o quanto esses números baixaram em relação a outros tempos.
Só que é uma faca de dois gumes. Sem esses números, como você atrai anunciantes? Eles têm que acreditar na palavra do editor? Por isso que, tirando Turma da Mônica, é raro ver anúncios nos gibis.
Algumas pessoas acham que a venda de quadrinhos cresceu analisando apenas bancas "especiais", que recebem praticamente todos os materiais justamente por venderem mais.
Mas nem se cita que são mais de 35 MIL pontos no Brasil. Basta uma rápida perguntada em bancas pequenas pra constatar que a coisa não é bem assim.
As vendas cresceram porque há muitos títulos, não há campeões de vendas. Isso que deveria ser analisado.
Abraço
Obrigado pela resposta Sidney!
E você colocou um ponto muito interessante: anúncio em gibis.
Eu como comprador não me importaria nem um pouco em ter páginas de anúncios no meio de revistas, desde que a qualidade fosse melhor, ou o preço baixasse.
Você ainda ressaltou este crescimento horizontal no seu artigo de melhores de 2007. Muito bom por sinal.
Até acho que o trabalho com heróis nos últimos anos melhorou muito e nem se compara com o que tínhamos no passado, mas este tipo de atitude deixa uma impressão de que ainda há um certo amadorismo na realização deste trabalho de edição.
Sei lá, fazendo uma generalização, é mais ou menos como a economia no Brasil. Ela vai bem porque o mundo vai bem. O mesmo com quadrinhos, vai bem porque o poder de consumo do brasileiro vai, na medida do possível, bem.
Agora se pintar uma crise... (que seja só a infinita, ou final?!?!) ;-)
Abraços
Esse e o meu receio, Guilherme... uma crise.
Abraço
Acho que a crise está aí, só que ela não é "Infinita" nem "Final", é "Secreta" (como aquela guerra da Marvel); digo isso justamente plo exposto... se nem nós sabemos quanto gibis são tirados de casa título, como os investidores vão saber? Se nem as editoras sabem seu público, como indicar ou investir na propaganda de um produto?
Enquanto o mercado editorial e das livrarias crescer, o mercado vai se segurando, até que venha (se já não chegou) a recessão, o poder de compra fica imcompatível com o crescimento do mercado, e os editores tem que pisar no freio.
Precisamos de novos leitores! E mais leitores! Mas, pra isso além de t=ítulos mais acessíveis, precisamos de mais gente alfabetizada, mais gente trabalhando e, claro, mais divulgação desses quadrinhos.
Abraço!
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