Esses heróicos jornalistas sem éticaUm tempo atrás, postei aqui minha primeira matéria publicada sobre quadrinhos e prometi pra mim mesmo que colocaria outros artigos quando pudesse. Bem, aproveitando minha
participação no programa
Observatório da Imprensa hoje, resolvi resgatar uma de 1991.

No final de 1990, quando cursava o terceiro da faculdade de jornalismo (
Metodista, em São Bernardo do Campo/SP), eu tinha que fazer um trabalho para a disciplina de Ética Jornalística. Como o professor era quadrinhista, o Flávio Calazans, arrisquei: li o código de ética brasileiro da profissão e analisei alguns jornalistas das HQs segundo suas normas. E mostrei o quanto eles os infringiam.
Sobrou pra vários famosos: Clark Kent, Peter Parker, Tintim, Billy Batson, Donald, Peninha, Vic Sage (o Questão), Benevides Paixão (do Angeli), J. Jonah Jameson, Peter Sands (que escreveu a biografia não-autorizada de Lex Luthor) e outros. Mas havia também os jornalistas corretos, caso de Ben Urich, que preferiu não revelar a identidade do Demolidor (na época isso era um "furo") para não prejudicá-lo.

O Calazans deu uma nota alta e me sugeriu transformar aquilo numa matéria. Foi o que fiz. Então, no ano seguinte, com a velha cara-de-pau que Deus me deu, fui procurar "apenas" a
Imprensa, revista especializada em jornalismo, na qual só escreviam feras. Mesmo trabalhando na área desde 1988, era um tiro arriscado. Mas deu certo!
A matéria
Esses heróicos jornalistas sem ética foi publicada na
Imprensa # 44, de abril de 1991, e gerou dois momentos engraçados.
O primeiro foi quando fui buscar meu exemplar. Assim que entrei na sala, o editor Gabriel Priolli fez uma cara esquisita. A primeira coisa que pensei foi que tinha saído alguma lambança na matéria, mas não. Ele estava lamentando o fato de ter colocado uma "mídia burra" na edição.
Explico: assim que se abria a revista, havia uma mídia de página dupla (segunda capa e página 3) anunciando o
Prêmio Líbero Badaró de jornalismo e, naquele ano, quem foi escolhido como garoto-propaganda? Clark Kent, que dizia: "Libere o superjornalista que existe em você.". Não teria nenhum problema se, algumas páginas pra frente, minha matéria não acabasse com o alter ego do Homem de Aço, ao mostrar as numerosas vezes que ele foi antiético! :-)

E o segundo episódio foi quando cheguei à aula e meus colegas de classe (os quais eu não havia avisado sobre a pauta) vieram me cumprimentar pelo artigo. Era uma manifestação sincera mesmo, até que minha professora (não citarei o nome), com cara de poucos amigos, exclamou: "Que absurdo!".
Quando perguntei qual o problema, ela reclamou que o meu crédito (que saiu assim: Sidney Gusman, 24 anos e três de profissão, é redator da
Editora Globo e crítico de quadrinhos) não trazia a informação de que eu era aluno da
Metodista...
Não deu pra agüentar! Caí na gargalhada e perguntei a ela se foi minha faculdade que foi à sede da revista me apresentar como seu aluno, para que eu conseguisse a matéria. O papo acabou ali.
Esta foi a primeira de uma série de matérias que eu viria a fazer com a intenção de falar sobre quadrinhos para públicos que não eram leitores de gibis. Com o tempo posto outras aqui no
Blog.