08 outubro 2007

Tintim e Hergé sob a lupa dos estudiosos

Pode parecer difícil de acreditar, mas é provável que Hergé e Tintim possuam mais livros teóricos do que qualquer outro desenhista ou personagem.

São dezenas, ou até centenas, de obras incluindo biografias (Hergé - Lignes de Vie e Hergé: Fils de Tintin); entrevistas (Tintin et moi : Entretiens avec Hergé); análises genéricas de Tintim, como Tintin and the World of Hergé; estudos detalhados de obras específicas como Les dossiers de Tintin, sobre as três versões de A Ilha Negra, ou Les mystères du Lotus Bleu; suplementos de jornais e revistas, como Tintin - Reporter du Siècle, publicado pelo Le Figaro; cronologia da obra em cinco volumes (Hergé: Chronologie d'une Oeuvre); restrospectiva do Jornal de Tintim (publicada na comemoração dos 60 anos da editora Lombard); catálogos comemorativos de exposições; análises de personagens como Bianca Castafiore; e especiais sobre filatelia (Le Timbre Voyage Avec... Tintin), cidades (Tintin et la Ville), automóveis (Tintin et les Autos); e até um dicionário de nomes (Dictionnaire des noms propres : Tintin de Abdallah à Zorrino).

Desta série de cidades e carros, também existe um volume sobre Tintim e os barcos (Tintin, Haddock et les bateaux).

Isso sem falar nas edições fac-símile, que reproduzem os álbuns originais em preto-e-branco, ou as primeiras edições coloridas, antes das modificações dos álbuns mais recentes, e os Archives Hergé, que são grandes volumes reunindo a obra de Hergé em preto-e-branco.

Além desses livros, os interessados em Tintim e Hergé, como eu, ainda podem encontrar as obras abaixo.


La Petite Bibliothèque du Tintinologue, da Champs/Flammarion, é um estojo que reúne três obras teóricas: Hergé Fils de Tintin (outra versão do livro de Bonoît Peeters), Hergé Écrivain (de Jan Baetens) e Les Métamorphoses de Tintin (de Jean-Marie Apostolidès).

Les Métamorphoses de Tintin, escrito em 1984, tem 444 páginas e foi um dos primeiros livros a fazer uma análise séria dos 22 volumes de Tintim, indo da análise semântica e psicológica à crítica literária, e mostra as transformações pelas quais passaram os álbuns e a arte de Hergé.


Hergé Écrivain tem 224 páginas e é uma análise literária de Tintim, como foco nos textos, personagens e as histórias de Hergé. E é menos centrado na arte.

Hergé Fils de Tintin é uma das biografias mais conhecidas de Hergé, com 648 páginas. Esta versão foi revisada e atualizada, e mostra a vida de Hergé, de 1907 a 1983. No final, inclui uma analise do legado do artista.

Estes livros, no formato pocket book, praticamente não são ilustrados (à exceção de um caderno de oito páginas de fotografias em preto-e-branco em Hergé Fils de Tintin, e uma meia dúzia de imagens em Hergé Écrivain).

Hergé - Tintin le Terrible ou L'Alphabet des Richesses, de Alain Bonfand e Jean-Luc Marion, da Hachette Littératures, tem 144 páginas e faz uma análise do fascínio que Tintim exerce sobre seus leitores, falando de fidelidade e traição, ética e imoralidades, amizades e inimizades, e do bem e do mal.

Outro volume interessante é Tintim Noir Sur Blanc - L'Aventures des Aventures 1930-1942, da Casterman. Bem ilustrado e destinado a colecionadores sérios, analisa todas as edições de Tintim em preto-e-branco, com minúcias de cada uma das impressões destes álbuns.

Só como exemplo, o livro tem tabelas com as diferenças de cinco edições (todas em preto-e-branco) do Cetro de Otokar, publicadas nos anos de 1939, 1941 e 1942, e incluindo uma classificação de até 5 estrelas para mostrar a raridade de cada um destes volumes (que por vezes são vendidos por preços altíssimos, como no caso de Vôo 714 para Sidney e Tintim no País dos Soviéticos).

No epílogo uma tabela mostra as diversas versões e as tiragens conhecidas destes exemplares.

Para finalizar, um dicionário de xingamentos do Capitão Haddock (Le Haddock illustré : L'intégrale des jurons du capitaine Haddock), de Albert Algoud. Este é um livro divertido, num formato horizontal que os franceses chamam de "italiano", em forma de dicionário, explicando as origens históricas e culturais dos diversos impropérios que o marinheiro Haddock utiliza nos álbuns de Tintim.

Também foram lançados outros volumes (que eu não tenho) desta série, com o professor Girassol (Le Tournesol illustré) e um livro sobre os segredos do Licorne (Les vrais secrets de la Licorne).

4 comentários:

Hunter disse...

Opa, eis um assunto a que eu estou bem ligado atualmente, já que eu estou lendo TODO esse material, para poder escrever o MEU próprio livro sobre Tintim!

Eu diria que há mais livros sobre Tintim do que sobre qualquer outra série/autor JUNTOS! Sem exagero. E há bons motivos para isso, por sinal, pela importância da série (que faz a ligação entre os quadrinhos quase "amadores" do início do século XX até os trabalhos mais sofisticados de hoje em dia), pela trajetória do personagem e do autor (que passaram por inúmeras mudanças do primeiro ao último álbum), pela própria qualidade da série e seu enorme sucesso (mais de 200 milhões de exemplares vendidos até hoje, com vendas anuais ainda na casa dos dois milhões pelo mundo inteiro).

Em adição ao que você falou, o "Les vrais secrets de la Licorne" é uma compilação das tiras do Segredo do Licorne (que foi publicado em tiras no jornal Le Soir durante a Segunda Guerra antes de ser compilado em álbum). Não é muito diferente do álbum que conhecemos, mas vale pela curiosidade de ver a história em seu formato original. Vai sair um outro com as tiras do "Tesouro de Rackham o Terrível" até o fim do ano.

Faltam também os grandes (e belos!) livros ilustrados Le Monde de Hergé, do Peeters, e Tintin Le Rêve et la Realité, de Michael Farr (este disponível em português aqui na Terrinha), para quem quer algo mais "visual" sobre o personagem. O Le Monde de Tintin, primeiro livro teórico sobre o personagem, editado originalmente nos anos 60 (!). O essencial Tintin et Moi, livro de entrevistas com Hergé feito pelo Numa Sadoul (recentemente transformado em documentário). E a grande biografia de Hergé assinada pelo Pierre Assouline, a maior e mais completa do mercado até a do Goddin ser publicada no mês que vem.

Sim, eu tenho isso tudo. E estou lendo agora!

Hunter (Pedro Bouça)

Sérgio Codespoti disse...

Bacana Hunter.

Já que vc está escrevendo sobre o assunto, mais uns livros (pode ser que vc já tenha visto):

Le rire de Tintin : Essai sur le comique hergéen (Thierry Groensteen)

Le monde de Tintin (Pol Vandromme)

Les Nouvelles Aventures de Tintin et Milou : Le Temple du soleil (facsímile formato horizontal - linda edição)

Hergé par lui-même (Dominique Maricq)

E também saiu um livro sobre a coleção de arte do Hergé, que eu não consigo lembrar do nome, nem estou achando nas buscas.

Boa sorte com o livro.
abs

Sérgio Codespoti disse...

Opa, o Le Monde vc já tinha mencionado.

Hunter disse...

Valeu, Sergio. Desses me falta só o "Rire", que eu coloquei na lista de livros de "segunda linha" junto com o material do Bob Garcia por ser muito específico.

O livro de arte eu acho que é o Hergé collectionneur d'art, que também penso ser um pouco específico DEMAIS.

Vale mencionar também que o Albert Algoud fez, além dos livros do Haddock e do Girassol, outros livros sobre os Dupondt e uma biografia não-autorizada da Castafiore (na qual revela que o "rouxinol milanês" é na verdade Fiorentino Casta, o último castrati!). Estão longe de ser essenciais, mas são muito engraçados!

Uma curiosidade muito legal é o livro TNT en Amérique, do Jochen Gerner, que "descontrói" todo o álbum Tintim na América, reduzindo-o à sua essência iconográfica! Esse eu vi na biblioteca do Instituto Franco-Português de Lisboa e achei o máximo. O mesmo artista fez um trabalho similar na capa do livro britânico Tintin and the Secret of Literature (aquele que diz que a esmeralda da Castafiore é na verdade uma referência a seu clitoris), com uma representação iconográfica da capa de As Jóias da Castafiore (apropriadamente). O liro também está disponível em edição francesa (mais cara que a inglesa!).

Definitivamente, eu ando lendo DEMAIS sobre Tintim...

Hunter (Pedro Bouça)