O que estamos lendo... na Europa (2)
Didier Conrad é um dos artistas que estou descobrindo por aqui. Da sua obra, que já é bem grande, li
La Piège Malais (
A Armadilha Malaia) e os dois volumes de
Raj.
Conrad é um importante desenhista e escritor francês que ajudou a revolucionar a revista belga
Spirou na década de 1980. Ele nasceu em 1959, em Marselha, na França.

Este artista criou
Les Innommables, série que conta as aventuras de três mercenários no Oriente, nas décadas de 1940 e 1950;
Bob Marone, paródia da famosa série de quadrinhos
Bob Morane (que possui inclusive um desenho animado baseado me suas aventuras). Essasa duas foram em parceria com Yann.
Também fez
Donito, um garoto pirata capaz de respirar embaixo d'água;
Le Piège Malais (
A Armadilha Malaia), premiada aventura de época na Índia nos tempos do Raj;
Tatum, paródia de um agente secreto futurista; e desenhou
Kid Lukcy e Cotton Kid;
La Tigresse Blanche e, mais recentemente,
Raj.
Como era de se imaginar, o sujeito já ganhou diversos prêmios, incluindo o
Grand Prix de Angoulême, em 1994, por
Donito.

Além disso, passou um tempo nos Estados Unidos, trabalhando para a
DreamWorks SKG, no desenho
O Caminho para El Dorado (
The Road to El Dorado).
A Armadilha Malaia foi lançada na década de 1990, em dois álbuns da
Dupuis, da coleção
Aire Libre, com 48 páginas cada um. A versão que li é o encadernado (um "albão" capa dura que por aqui eles chamam de
Intégrale) da série.
O livrão traz uma biografia do autor,
sketches e diversos extras bacanas (mas não reimprime as capas originais).
Nesta aventura, o jovem francês Ernest encontra a prostituta Kaliani, na Índia do século 19, numa aventura entre os miseráveis. A história mistura ação, humor e sexo.
A arte do álbum é estilizada e até um pouco caricatural, mas as figuras são agradáveis e bem expressivas, e o colorido é aquarelado e perfeito pro material. Lendo o livro, é fácil de entender por que ganhou um prêmio de melhor álbum do ano, na época em que foi lançado.

Conrad, que curte bastante locais exóticos e cenários históricos, voltaria à Índia na série
Raj, em colaboração com Wilbur.
Wilbur é o pseudônimo da francesa Sophie Commenge, que nasceu em 1960, em Saint-Claude, no arquipélago caribenho de Guadalupe (de possessão francesa), e é esposa de Conrad. Esta autora também já escreveu sob o pseudônimo de Lucie, na série
Bob Marone, juntamente com Yann e Conrad. Além disso, ajudou nos roteiros de
L'Avatar, Tatum e
La Piège Malais.
A cor desses álbuns é de Julien Loïs, um trabalho simples e discreto, sem exageros (bem diferente do colorido da
Armadilha Malaia), mas muito competente.
Raj - Les disparus de la ville dorée, o primeiro volume da série, é uma história de espionagem e intriga política, que se passa na Índia do século 19, mais precisamente em 1831, quando Alexander Martin, viaja de Londres a Bombaim (cidade que hoje se chama Mumbai) para entrar para o Serviço Político Indiano, cujo papel é ajudar a Companhia das Índias Orientais - a famosa e poderosa East India Company - a desenvolver seus interesses no país.

Basicamente, ele precisa impedir que outros países se estabeleçam na região e ameacem o domínio inglês. Mas os seus chefes não encaram com entusiasmo o idealismo e os princípios morais do jovem.
Alexander Martin lidará com corruptos, estrangeiros e locais, numa trama que envolve o assassinato de Sir Thomas e o desaparecimento de três ingleses. O protagonista terá que decidir se prende o capitão de uma companhia portuguesa, um inocente, acusado dos crimes.

No segundo e último volume,
Raj - Un Gentilhomme Oriental, Martin se recusa a acreditar na versão oficial para os desaparecimentos e continua a sua investigação, e a busca por seu amigo, o jornalista David Baltimore, que o leva à pequena ilha de Elephanta, onde aparentemente sopram os ventos da loucura.
Para a série
Raj, Conrad mudou o seu traço, um fato muito destacado pela imprensa especializada daqui, indo muito mais para a linha clara. Aliás,
Raj tem sido divulgado como uma aventura digna de Tintim, não só pelo traço, mas pelo espírito dos personagens. Esta é uma bela HQ destinada a todas as idades, que traz um pouco do idealismo perdido em muitas histórias modernas, principalmente no mercado norte-americano.