06 maio 2009

Afinal, por que a Vertigo é tão importante?


A coluna desta semana é minha e do Diego, e aproveitamos para discutir um tema que está no ar desde que, no final de 2008, o editor Cassius Medauar saiu da Pixel - e finalmente se consolidou com a entrevista concedida pela Ediouro, semana passada, para o UHQ: por que a indefinição sobre a Vertigo abala tanto os leitores?

Afinal, nesse meio tempo algumas editoras anunciaram que entrariam no mercado de quadrinhos, prometeram bons títulos, mas, mesmo assim, o fato de não termos Vertigo ainda causa grande comoção.

A nossa resposta obviamente não é definitiva, mas é um bom início para uma discussão, então leia a coluna e comente.

P.S.: Aproveitando o ensejo: hoje estreamos o novo visual do Pop Balões, o site sobre quadrinhos e cultura pop editado pelo Diego e por mim. Então, visite e confira também o nosso blog.

23 comentários:

alexandre, fosso de cultura disse...

eu capitulei. um amigo me falou que vai importar alguma coisa na gringa, via amazon. vou pegar carona e rachar frete. quem sabe assim consigo "y the last man", "fables" e outras coisas a preço melhor e principalmente, consigo continuidade.

desisti, mesmo depois de ter esperança em editoras mais sérias como devir e conrad.

Rafael disse...

Apesar das tematicas semelhantes, os quadrinhos da Verigo e similares se sobrepõe, no mercado Brasileiro, às HQs européias a ponto destas estarem praticamente fora das bancas. Em outros tempos tinhamos a Animal, Heavy Metal, Aventura e Ficção, entre outras, que traziam o melhor dos "quadrinhos adultos" europeus. Mesmo sendo superiores em história, desenhos e conceitos, os Europeus perdem pra Maquina Vertigo justamente no quesito "linha de produção". Isto é, Preacher, Hellblazer, 100 Balas, Fabulas tem histórias seriadas com começo meio e fim bem definidos, bem delineados. Seguem inclusive aquela máxima de "um pequeno climax à cada 4 paginas". Enquanto os seus pares europeus se derramam em narrativas psicológicas arrastadas e por vezes inconclusivas, autorais, autobiograficas e autofagicas.
Se um mix dos melhores da europa é cancelado, tudo bem, as histórias nem sempre terminam. E se terminam nem todo mundo entende. A coisa é onirica por natureza.
Enquanto que o cancelamento da linha Vertigo no mercado Brasileiro é como cancelar a Novela das Oito antes do fim.

Victor disse...

Muito bem elaborado o texto.

Mas tem um lance de terminologia que é preciso esclarecer.

O artigo tem como eixo principal a tese de que os leitores buscam quadrinhos "adultos". Essa palavra, como o próprio texto deixa claro, é complicada. Mas grande parte da celeuma some se dissermos que os leitores querem é ter acesso a quadrinhos "não-superheroísticos" (vou chamar de "NSH"). Ou seja, quadrinhos que não sejam de super-heróis. Assim, desde já descartamos a pecha de "adulto" e apolêmica discussão sobre se quadrinhos de super-heróis são ou não coisa de adulto.

Eu, por exemplo, já acho que o gênero super-heróis no estilo americano deu o que tinha que dar. É meu gosto, e não tem nada a ver com achar algo adulto ou não o gênero. Pessoalmente, eu já não vejo graça em histórias envolvendo super-poderes, mega-ameaças à Terra ou ao Universo, arqui-inimigos e, principalmente, cronologias complicadas e inúmeros tie-outs/ins.

Então, há gente que quer comprar coisas como Vertigo não porque procura quadrinhos "adultos", mas porque quer quadrinhos que não sejam de super-heróis, que fujam da fórmula, indepentende de ser "infantil" ou "adulto".

Nunca me passou pela cabeça se algo era adulto ou não: se alguém elogia uma história da Turma da Mônica, sem dúvida eu vou comprar para tentar me divertir, independente de ser "para crianças". Vê-se que, mudando a palavra, parte da polêmica acaba.

E, feita a distinção terminológica, o fato é que, para pessoas em busca de quadrinhos NSH no Brasil, há poucas opções financeiras. Os quadrinhos europeus costumam ser caros, por causa do Euro: caros tanto para as editoras brasileiras quanto caros para os leitores brasileiros que venham a comprar na internet.

Então, restam os quadrinhos norte-americanos, pois o dólar é menos valorizado.

E, sem dúvida, dentre os quadrinhos norte-americanos NSH, grande parte que é publicada vem da Vertigo. Há, outras coisas, é verdade, mas uma boa fatia do mercado é publicado sob o selo Vertigo.

Daí a celeuma com a Vertigo.

Victor disse...

(não vou pedir desculpas por escrever muito. quem quiser não leia, é simples)

Outra distinção a fazer é a seguinte:

Uma coisa é dizer que determinado gênero é adulto. Outra, bem diferente, é dizer que se considera o "culto" a determinado gênero (e, por consequência, o consumo), como um comportamento com denotação infantil.

A primeira hipótese é e sempre será polêmica, porque alguém pode pegar os estereótipos do que é "infantil" e fazer algo adulto (ex.: Persépolis).

Já quando se diz que o "culto" e consumo do mainstream Marvel/DC com cronologia tem características infantis, não é por ser um gênero relacionado a super-heróis. Não é isso. Tem muito mais a ver com a conduta dos leitores do que com o conteúdo da obra em si.

O que torna "infantil" é o comportamento do público (e não o gênero) e como isso é explorado pelas editoras Marvel/DC. Assim, só uma fixação infantil numa tradição que vem do passado pessoal de cada um explicaria porque alguém:

(1) compra todos os principais tie-ins/outs de sagas confusas ou ruins de doer;

(2) compra todos os números de um título para "manter a coleção", por piores que sejam os artistas que trabalham no título em determinada época;

(3) exerce uma vigilância quase xiita em relação aos "cânones" da vida do super-herói, reagindo emocionalmente quando algum artista tenta ousar e fazer algo diferente; e, por fim,

(4) trata o super-herói e sua "mitologia" (já é uma palavra que enche a boca de muita gente) como algo sagrado, reagindo emocionalmente, e com agressão desproporcional, quando tal "mito" é usado de forma "não-convencional" (lembro que muito leitor só faltou exigir linchamento público e ofender a décima geração de desconhecidos quando soube que um grupo GLS tentou usar os "sagrados" super-heróis para defender a causa gay).

Um elemento curioso, e exemplar, é o modo como muitos fãs da Marvel e da DC tratam ambas as editoras como se fossem times de futebol: vestem a camisa da Marvel e saem criticando e ofendendo os fãs da DC, e vice-versa, competindo centímetro a centímetro para ver qual editora é melhor. Marvel e DC não são times de futebol ou partidos políticos: são empresas que querem ganhar dinheiro. Ora, é estranho adultos vestirem a camiseta de empresas que não lhe incluem na folha de pagamento.

Vê-se, então, que é muito mais complicado do que dizer "tal gênero é infantil". Se fosse só isso, a discussão seria simples.

Abraço

Eduardo Nasi disse...

"não vou pedir desculpas por escrever muito. quem quiser não leia, é simples"

O Vitor é dos meus.

Ricardo Soathman disse...

Olá a todos;

Acho que a Verdigo, ao longo dos anos construiu uma imagem sólida, de publicações inteligentes, direcionadas, a um público mais exigente.

A não publicação no Brasil, talvez, seja o reflexo de nosso prórprio relacionamento com quadrinhos de uma forma geral.

Enquanto a Verdigo é, de forma elementar, "vida inteligente" dentro da DC Comics, nós, ainda não compreendemos que quadrinhso é muito mais do que mera franquia de sucesso.

O que talvez nos remeta a um paradoxo, as editoras brasileiras preferem publicar Batman (em uma de suas piores fases) por razões óbvias, do que algum título mais "alternativo".

Enfim...

Para mim, a Verdigo sempre foi o lugar das grandes idéias, de quadrinhos mais elaborados, e por isso, é uma pena que novamente estejamos sujeitos a, mais uma, nova SUPER CRISE.

E, na boa, ninguém aguenta mais SUPERCRISES! Eu não aguento.

É isso...

[]s

Ricardo Soathman

Anônimo disse...

Muito bem elaborado o texto da coluna, levando o leitor de quadrinhos a refletir sobre suas próprias atitudes com relação ao consumo do referido material.

Por sua vez, não há como deixar de notar um dos sentidos que as palavras "adulto" e "culpa" podem despertar: vergonha. Acredito que a forma como o texto foi escrito tende ligeiramente para a afirmação de que o amadurecimento do leitor leva-o a comprar Vertigo por sentir "vergonha" de consumir os comics de super-heróis uniformizados.

Bem, não afirmo que o texto pretendeu dizer isso, mas apenas que pode ser interpretado assim. Mas por um outro lado, acredito que algo nesse sentido não existe mais nesse mercado, que passou por um "amadurecimento" nos anos 90.

Talvez naquela época o sentimento de vergonha chegasse a alguns leitores, mas hoje, com os "Nerds" dominando o mundo (Bill Gates, nerd assumido, e Obama, colecionador de Spider-Man), o leitor compra, lê e assume que gostou tanto dos quadrinhos de super-herói quanto dos quadrinhos "adultos".

A Vertigo não é uma "desculpa" para comprar quadrinhos, porque tem o selo"adulto", mas uma opção de podermos apreciar a nona arte na sua forma menos "comercial" e mais na forma "inspirada" dos autores.

Vamos torcer para que a próxima editora que se aventurar em trazer a Vertigo ao Brasil mais uma vez, publique as histórias de Preacher em ordem cronológica inversa, só por precaução.

Samuel Kissemberg
http://skmribeiro.wordpress.com

Diego Figueira disse...

Vitor, seus comentários foram precisos. Apenas tenho algumas dúvidas quanto ao aspecto econômico da escolha entre europeus e os americanos.

Os dois pontos que vc levantou eu acho que se relacionam, pois a denominação de quadrinhos adultos surge do comportamento dos fãs e acaba sendo assimilada pelas editoras que colocam essa expressão em destaque na capa do gibi.

Quanto aos super-heróis, creio que mesmo entre os títulos bons, a maioria das pessoas busca qualidades mais "nobres" ou sofisticadas que tradicionalmente nao são próprias do gênero.

Um roteiro simples, sem ambiguidade moral dos heróis, com desenhos simples e claros, certamente não serão suficientes para um fã desses afirmar sem receio que aquilo é bom.

O entusiasmo de algumas pessoas pelo reconhecimento de quadrinhos como arte muitas vezes pende para a concepção mais restrita e elistisa do seja arte.

Diego Figueira disse...

Samuel, não posso dizer como o texto deve ser intrpretado, mas apenas que tentamos problematizar o emprego da palavra "adulto" e da idéia de que um amadurecimento do leitor que o leva a ter contato com outros generos. Creio que todos estamos de acordo que essa ideia existe e circula bastante no meio dos quadrinhos.

Leandro disse...

eu sempre discordei da nomenclatura quadrinhos para adulto, na verdade nunca entendi.
respeito, mas discordo sobre a culpa. mas uma coisa dita tem total razao, essa nomenclatura ocorre aqui e é reproduzida.
na minha opiniao um dos sucessos do selo vertigo sao (alem da qualidade) a certeza q nao se precisa comprar dez outras revistar para entender um unico titulo e sabe-se q terá um fim (de modo geral, temos suas excecoes como hellblazer). tanto q vejo esses pontos relacionados com os mangas fazerem tanto sucesso (no mundo todo), tendo tanto temas mais infantis como temas mais adultos. e os mangas fazem MUITO sucesso.
abç

Eduardo Roque disse...

Cara, acho q isso já foi dito antes mas gosto pacas d super-heróis, ou melhor, d HQs, seja c/carinhas em rouras ridículas c esmurrando e salvando o mundo ou c/sobretudo bege, fumando 1 após o outro e amostrando o dedo médio p/Capeta ou qualquer coisa feita c/qualidade(nem vou esmiuçar o conceito d qualidade por q isso é pessoal).
Mas nem vem q a maior queixa da galera, minha inclusive, é ficar d novo na mão c/séries incompletas como naquele DVD q dá pane no último capítulo. S/falar q mesmo c/algum lixo(sempre tem) as histórias da Vertigo( ou "Verdigo"? Ñ resisti, Ricardo) eram bem acima da média.
Mas a idéia d publicar d trás p/frente é ótima.
E, ñ adianta, Victor, c ñ quisesse ser lido tu ñ teria escrito. Mas tá maneiro, foi tipo aquele aviso d spoiler do UHQ q a gente sempre ignora. No geral, seu texto foi bem coerente

Eduardo Roque disse...

Esqueci: acabei d ler a matéria dos Super na campanha pelo direito dos homossexuais.
Show d bola, principalmente o Hulk d pearcing

Ricardo Soathman disse...

Eduardo, é o sono!

Então, onde vocês leram, Verdigo, entendam Vertigo, beleza?

[]s

Ricardo Soathman (almost sonâmbulo e quase alucinando!)

Rodrigo Ramos disse...

E quais os motivos pra Vertigo não dar certo no Brasil? Incopetência? Valores? Público? Por que tanta comoção mas na hora do vamos ver ninguém compra?

Será que funcionaria uma revista com: Hellblazer, Preacher, Y e Monstro do Pântano nos moldes dos mixes atuais da Panini? E uma com Transmetropolitan, DMZ, Frequencia Global e 100 balas?

Me parecem perfeitos, mas e aí? Teria mercado?

Victor disse...

Nasi, só a turma paciente do UHQ pra aguentar a gente.

Wallisson Narciso disse...

Até hoje não me conformou com o fato da Pixel deixar todos os leitores do selo VERTIGO na mão. Eu fui um dos que protestou no blog deles, nunca vi um post com tantos comentários.

Quanto ao texto, aprecio a sua excelente colocação:

".. a interrupção de uma ideia bem difundida de quadrinhos "adultos", um remédio que não deixa de conter em si um pouco do próprio veneno que se pretende tratar."

pwagnerbr disse...

Simplesmente lamentável a decisão da Ediouro. Mas não chega a ser surpresa, visto não a primeira editora que trata os seus leitores dessa forma (e certamente não será a última). Enquanto isso, ficamos à deriva, esperando que alguma outra editora relance as mesmas histórias de sempre, e que nunca chegam ao fim, deixando o público brasileiro afastado do que acontece de novo no mercado de quadrinhos "adultos" mundo a fora. E não é pouco o nosso atraso. Basta uma olhadinha no site da Vertigo. Obras novas como Fables, House of Mystery e DMZ, entre tantas outras, são apenas sonhos distantes dos leitores tupiniquins. Quem sabe se a Vertigo americana não lança algum tipo de assinatura para suas obras serem lidas online?

Amalio Damas disse...

O Vitor tem razão. Em muitos casos temos que sacudir a pessoa que está em surto por alguém ter falado mal de Cavaleiro das Trevas, falando com firmeza: "Meu amigo, O BATMAN NÂO EXISTE!". Caso a pessoa continue afirmando que irá decapitar o crítico da fase escrita por Grant Morrison (esse existe) é recomendado dar uns tapas na cara e jogar um balde gelado na cabeça do indivíduo pra ver se ele acorda pra vida.

Anônimo disse...

Bem, a resposta é bem simples, como muitos já sabem. Quadrinhos no Brasil não são, e nunca, serão levados a sério. Infelizmente.

Glauco

outro Victor disse...

ah! Amalio (e victor), esse discurso de que leitor de super-herói tem que acordar pra vida é tão imbecil.

parece que quem não lê (super-heróis) fica ofendido porque quem lê é apaixonado por isso.

deixe de recalque poxa!

a comparação com o futebol foi muito feliz. quer dizer que quem é apaixonado pelo seu time também é infantil? times não são como empresas? etc e etc...

isso não deveria ofender vocês tanto assim não.

sei lá, só a minha opinião.

Alessandro disse...

A cada dia que passa eu consolido minha opinião de que nós somos poucos aqui no Brasil. Quando falo "nós" estou me referindo a quem gosta de quadrinhos um pouco diferentes dos de super heróis. Quadrinhos de heróis também tem seu lugar mas o fato é que "nós" também queremos ler outras coisas. E somos poucos.

"Nós" não conseguimos sustentar uma editora que publique esse tipo de HQ´s.

Infelizmente é assim...

Eduardo Nasi disse...

Não direi nada.

Apenas leia:

http://www.lanacion.com.ar/anexos/fotos/88/992888.JPG

Amalio Damas disse...

Outro Victor, eu também gosto de quadrinhos e do Corinthians, mas eu sei que o Batman é apenas um personagem de gibi e nunca aplaudirei alguém que está em perigo, como alguns dos meus vizinhos idiotas que aplaudiram e gritaram quando houve fogo na comemoração do campeonato do timão. O que eu quis dizer é que muita gente exagera e os extremismos sempre são perigosos, foi só isso. Mas respeito a sua opinião.