12 dezembro 2010

Uma lembrança da Bienal

Em Campinas, minha terra natal, as pessoas que se interessam seriamente pela difusão cultural, sem se preocupar com grupos políticos ou turminhas, são realmente poucas. Por conta disso, duas coisas acontecem: a cidade não tem uma cena cultural forte há décadas – mas, por outro lado, quem se preocupa seriamente com isso acaba se encontrando e se conhecendo. Uma dessas pessoas é o João Antonio Buhrer, que conheci nas gloriosas Rodas de Leitura, projeto interessantíssimo do Sesc Campinas que traz grandes nomes da literatura para a cidade, semanalmente.

Aos interessados, João Antonio envia, com vigor, uma série de e-mails semanais com raridades fotografadas de seu acervo particular, que é gigantesco. Não por acaso, ele batizou a série de Arquivos Incríveis. Lá tem de tudo: entrevistas raras, edições importadas, ilustradores esquecidos, almanaques, livros marcantes, jornais, revistas e, claro, quadrinhos.

E, nesta semana, dada a repercussão da Rio Comicon, João disponibilizou fotos do programa oficial do evento que deu origem aos modernos encontros de grandes nomes de quadrinhos no Brasil: a 1ª Bienal Internacional de Quadrinhos do Rio de Janeiro, realizada em 1991.

No livreto, informações sobre todos os convidados, as exposições, reproduções dos quadrinhos premiados no concurso promovido para a Bienal e, no final, diversas informações acessórias sobre locais e parceiros. E é numa dessas páginas que encontrei uma bela curiosidade: a lista dos expositores que participaram daquele evento.

É uma lista interessante, porque revela um cenário de quadrinhos muito diferente do atual. Naquele ano, vivia-se a época do boom das HQs no País, com o surgimento de muitas editoras que, muitas vezes, não resistiram ao tempo. Também marcava a consolidação das gibiterias, que começavam a aparecer.

Estavam presentes as grandes editoras da época: Abril (que à época começava a publicar minisséries de luxo e graphic novels), Globo (que publicava os quadrinhos da Turma da Mônica, Sandman e Akira, dentre outros títulos), L&PM, Martins Fontes e Record (responsáveis por iniciar o mercado de quadrinhos em livrarias). Mas também estavam por lá VHD DIffusion (publicadora da Animal e de graphic novels europeias para bancas), Ebal (já em sua decadente fase final), Devir (que então trabalhava com importação de quadrinhos) e Icea (editora de quadrinhos nacionais de horror e aventura). E a bizarra participação da publicadora da Enciclopédia Brittanica, completando dez editoras, num cenário em que não havia muitas outras investindo em quadrinhos.

Quase 20 anos depois, temos muito mais editoras no Brasil, tanto em bancas como nas livrarias. Além delas, uma fortíssima cena independente. Seria muito bacana que, no ano que vem, com um novo FIQ em Belo Horizonte, a nova edição da Rio Comicon e a promessa de um evento de grande porte em São Paulo, as editoras, independentes e livrarias especializadas se empenhassem em participar desses eventos. Não só o leitor sairia ganhando, mas também as empresas (institucional e mercadologicamente) e o próprio mercado, que seria visto com cada vez mais força pela mídia e, claro, por futuros patrocinadores.

5 comentários:

JPedro disse...

Olá, gotaria de saber se vocês poderiam dar uma olhada no meu site www.artheroes.tk . Nós somos uma comunidade de desenhistas de Guarulhos-SP, temos muito conteúdo sobre nossas hqs, e estamos prestes a lançar algumas novas, e gostariamos, se for possível, que vocês fizessem uma matéria sobre nós.
Obrigado!!
Art Heroes!

Marcello Santo Nicola disse...

Nossa, já faz quase 20 anos. Foi muito bom esse evento!

Flávio disse...

Onde eu posso obter essas fotos do João Antonio sobre a 1ª Bienal Internacional de Quadrinhos do Rio de Janeiro? Tem algum site ou blog onde estão esses arquivos? Tem para baixar em algum lugar esse livreto?

Grato.

Delfin disse...

Não tem ainda, Flávio, infelizmente. Mas soube que o Márcio Baraldi, do Bigorna, tem publicado alguns desses materiais. A revista que edito, a Machado, em breve trará mais dessas reproduções também.

Flávio disse...

Valeu, Delfin. Vou olhar lá no Bigorna se tem algo e avisa aí quando sair a Machado com esses materiais.