O intercâmbio entre quadrinhos e cinema já se tornou algo bem natural e agora temos acompanhado um bom trânsito entre as HQs e o teatro. Não estou falando de adaptações, pois já tivemos várias montagens de HQs nos palcos (isso é assunto para outro post), mas sim de quadrinhistas brasileiros que estão buscando seu espaço no teatro.
Hoje estreia Meninas da Loja, uma peça dirigida por Fernanda D´Umbra e escrita pelo cartunista Caco Galhardo. Ao mesmo tempo, no mesmo teatro, domingo se encerra a temporada de Música para Ninar dinossauros – escrita e dirigida por Mário Bortolotto e com atuação de Lourenço Mutarelli.
Não tenho muito para falar da peça do Galhardo, além de que estou curioso para assisti-la. A sinopse diz que Meninas da Loja é sobre quatro funcionárias presas do lado de fora da loja de sapatos na qual trabalham. Olhando assim, pode não parecer muita coisa, mas quem conhece o trabalho do cartunista sabe que ele tem um jeito peculiar de sintetizar relacionamentos e pessoas.
De Música para Ninar Dinossauros, posso falar um pouco mais, já que fui assistir e gostei.
A peça retrata dois momentos na vida de três homens um tanto à deriva e com dificuldades de se relacionar com mulheres que não sejam prostitutas. Alternam-se – com transições de cena muito bem elaboradas – o retrato de momentos do trio jovem com suas versões quarentonas, sempre acompanhados por três prostitutas.
No elenco estão Lourenço Mutarelli, Mario Bortolotto e Paulo de Tharso representando versões deles mesmos. É inevitável associar os personagens com os atores, mas, quem conhece um pouco de cada um deles, sabe que aquilo é um exagero de suas peculiaridades.
O elenco ainda conta com três atores para interpretar as versões jovens e seis atrizes no papel dos dois trios de prostitutas (coincidentemente, entre elas está Carolina Manica, namorada do quadrinhista Rafael Grampá).
A peça, obviamente, tem alguns problemas: a interpretação do trio de quarentões é tão natural que se assemelha à de atores de filmes. Isso acaba constrastando com os outros atores, que seguem uma linha de atuação de teatro mesmo, um tanto mais “afetada” e exagerada. Nenhum dos dois modos são ruins, o problema surge do contraste entre eles.
Outra falha grave da produção é quando um dos atores da versão jovem (anos 70) saca uma nota de R$ 20,00. Erraram escolhendo uma nota de Real que não existia na época e erraram mais ainda escolhendo uma bem chamativa. Isso é uma falha de produção que poderia ter sido bem resolvida usando uma nota de dólar, que é muito mais atemporal que a nossa moeda.
Mas isso são coisas que se releva facilmente quando está na plateia rindo do texto muito bem equilibrado de Bortolotto e curtindo a trilha sonora bem escolhida.
Um dos momentos memoráveis da peça é quando o personagem de Bortolotto define sua geração como uma "geração que chegou atrasada”. É uma explicação um pouco longa e que só tem graça ao vivo, mas é muito interessante.
Então, se você ainda não viu Música para Ninar Dinossauros, corra, pois sábado, às 21h, e domingo, às 20h, rolam as últimas apresentações. Já Meninas da Loja estará em cartaz quintas às 21h e sextas às 21h30, até 2 d ejulho. Ambas no Espaço Parlapatões, na Praça Frankilin Roosevelt, 158 – Centro, São Paulo/SP – bem ao lado da Livraria HQMix, onde você sempre pode encontrar algum quadrinhista fazendo compras ou lançando um trabalho.
2 comentários:
Não sou fã de teatro, como já conversei contigo. O ator real em cena tira de mim a "suspensão da descrença", e eu não consigo me envolver com a história, qualquer que seja. Mas pelo que vc disse de Músicas para Ninar Dinossauros parece valer o esforço. Vou ver se me arrisco a ver uma dessas duas últimas apresentações.
Olá. só passei aqui para divulgar meu blog demônios na cozinha, onde disponibilizo a série gratuitamente via media fire. Caso haja interesse, o endereço é este:
www.demoniosnacozinha.blogspot.com/
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