03 dezembro 2006

Uma lição para Ronaldos, Robertos e Parreiras

Pela segunda vez este ano, peço licença no Blog para falar de esportes. Felizmente, dessa vez é pra comemorar, não para desabafar, como foi após nossa eliminação vexatória da Copa do Mundo de futebol, na Alemanha. Que seleção é essa do vôlei masculino? A única vez que senti algo parecido em termos de identificação com o torcedor foi com o saudoso Ayrton Senna.

Ricardinho, um gênio, nas alturas após o bicampeonato mundialEu joguei vôlei por muito tempo, em seleções de escolas e universidades e adoro o esporte. Passei a jogar depois do boom do vôlei nos anos 80, conseqüência dos vice-campeonatos mundial e olímpico em 1982 e 1984, respectivamente. E fiz a festa quando aquele timaço comandado pelo Zé Roberto Guimarães trouxe nosso primeiro ouro olímpico em 1992.

Mas esse time atual é inigualável! Nunca na história do vôlei mundial uma seleção exerceu um domínio tão amplo: 21 competições, 17 títulos, 3 vices e um terceiro lugar. E ganhando tudo de mais importante no esporte. Nem nas fases de domínios russo (anos 70), norte-americano (1984 a 1988) e italiano (década de 1990) houve um time que ganhasse tanto, praticamente não dando chances aos adversários.

Dante, outro gigante, comemora mais um ponto com Giba e SerginhoNa Itália, onde se joga o campeonato de clubes mais equilibrado do planeta, após a conquista do sexto título da Liga Mundial (este ano), um jornal estampou: "o vôlei é um esporte disputado por seis jogadores de cada lado, separados por uma rede e no qual o Brasil sempre vence". É bem por aí! É a melhor seleção de todos os tempos!

E muito disso se deve ao excelente Bernardinho. Quando ele assumiu a seleção, depois do trabalho pífio de Radamés Lattari, levou caras novas e montou um time campeão. Nem a perda de jogadores importantes, como Maurício, Giovanni e Nalbert impediu que o time se mantivesse no topo.

A vontade de vencer desse time emocionaGiba, Ricardinho, Serginho, Gustavo e companhia são ídolos mundiais. Onde vão jogar são endeusados e recebem salários compatíveis ao seu talento. Mas, claro, dentro da realidade do vôlei.

Apesar disso, Bernardinho consegue incutir na cabeça desse grupo um desejo incessante pela vitória. A vibração, a raça que os atletas e o técnico demonstram, como foi dito na transmissão da Globo, parece ser de um time que está em busca de seu primeiro grande título.

A Polônia, coitada, não viu a bola, exceto no segundo setE aí vem o porquê do título deste post. Se nossos "craques" do futebol tivessem um décimo da humildade, da gana e da honra de defender as cores do Brasil dos atletas do vôlei, teríamos faturado o sonhado hexa. Mas não. O rei dos malabarismos só os faz (na seleção) em comerciais da Nike; o Máskara prefere ajeitar o meião num lance decisivo; o boneco da Michelin foi à Alemanha como se tivesse ido a um spa; e o dublê de Ronald Golias ou Quico (aquele do Chaves), com seu discurso empolado e zero de comando, parecia mais preocupado com seu livro Formando Equipes Vencedoras... Fala sério, quem vai comprar essa tranqueira?

Se há alguém que poderia escrever um livro assim, é o Bernardinho. Este é um líder, um comandante, um estrategista, um trabalhador, que analisa as minúcias de cada adversário e depois faz seus jogadores treinarem à exaustão. E nenhum deles reclama, mesmo sendo campeoníssimos, mesmo tenho ganhado tudo em seu esporte.

Giba, o melhor jogador do mundo, que trabalha como um iniciante e coloca o grupo sempre à frente! Viram, Ronaldos?O Giba é o melhor jogador do planeta há anos. Foi assim nos últimos Jogos Olímpicos, na Liga Mundial deste ano e agora no Mundial. Mesmo assim, o cara treina como um iniciante, se dedica à beça, tem a humildade de, como na semifinal contra a Sérvia e Montenegro, se sujeitar a ficar um bom tempo apenas passando, até que seu jogo "entrasse". E mais: quando o repórter da Globo lhe dá os parabéns por ter sido eleito o bam-bam-bam do campeonato, ele disse que o prêmio que importava mesmo era a medalha de ouro e o troféu. Alguém já viu algo parecido no futebol?

Uma pena que no Brasil o vôlei jamais terá a importância do futebol, mas Bernardinho, Giba, Ricardinho, Dante, Gustavo, André Heller, André Nascimento, Serginho, Rodrigão, Anderson, Murilo, Samuel, Marcelinho e toda essa comissão técnica mereceriam uma estátua. Uma não, várias.

E eles só não dão mesmo uma lição nos jogadores da seleção de futebol que pipocaram na Alemanha, porque a "turma" do futebol (salvo uma ou outra exceção) jamais terá humildade para isso.

9 comentários:

Marcus Ramone disse...

Não sou fã de vôlei, minha paixão esportiva é e sempre será o futebol.
E, por isso mesmo, tá batendo uma invejazinha dessa outra camisa verde e amarela, que realmente honra o Brasil e dá alegria sincera aos torcedores. Quisera eu ser fanático por vôlei neste momento e sentir a emoção que não encontrei naquela Copa que já tô apagando da lembrança...
Pena, também, eu não ter assistido a essa partida da seleção de vôlei. :o(

Anônimo disse...

No próximo campeonato, vão botar cola na quadra do Brasil e amarrar o braço dos nossos jogadores pra ver se equilibram um pouco as coisas e dão alguma chance pros outros... 3x0 numa final com um placar folgado desse. Isso não existe não! Caceta! :)

João Marcos disse...

Concordo plenamente Sidney!! Principalmente nas comparações com a seleção de futebol! Grande abraço, amigo! E aquelas fotos dos livros no post acima!! Fiquei babando!!! Rs!!

Sidney Gusman disse...

João, vários leitores estão se candidatando a "amparar" minha coleção! Mui amigos... :-)

Anônimo disse...

Cara, fiquei muito feliz em ver essa homenagem ao bom e velho voleibol...pq estou cansado de ouvir que o Brasil é o país do futebol...
Show!!! Meus parabéns Sidney, e ainda por cima vc jogava volei?..quando quiser marcar um contra é só avisar..rsrs
qudadrinhos e muito volei pra vc!!!

Abraços

Kiyomi disse...

Gusman, faz muito tempo que frequento o site e nunca comentei... A respeito dos jogadores de voleibol brasileiro, eles são de humildade incomparável a aquele outro esporte.
Uma pena que não pude ir, e olha que a final foi perto de onde eu trabalho!!!
PS: e continue com o site, está demais de bão!

Sidney Gusman disse...

Anônimo, como marcar um contra se não sei quem é você? :-)

Hoje estou aposentado, mas de vez em quando bato minha bolinha.

Abraço

Anônimo disse...

opa, desculpa ae....
agora me identifico...rsrs
quando quiser voltar a ativa, é só avisar!!! tem um pessoal q joga todo o final de semana.

mazp@bol.com.br

Sidney Gusman disse...

Matheus, joguei na festa de final de ano da Mauricio, na segunda. Dei umas boas cortadas, mas teve uma hora em que subi num bloqueio e quando caí... ai, minha coluna.

Como falei pra galera: a conta não é "há quantos anos eu não jogo", mas sim "quantos quilos atrás eu jogava". :-)