03 outubro 2012

Viñetas Serias: os quadrinhos como objeto de estudo

Entre os dias 26 e 29 de setembro, aconteceu, na Biblioteca Nacional de Buenos Aires, o Viñetas Serias – Segundo Congreso Internacional sobre Historieta y Humor Grafico.



Com participação de estudantes, pesquisadores e professores de diversos países, trata-se de um evento que procura criar um espaço para discussão, reflexão e troca de ideias sobre as histórias em quadrinhos.

Brasil, Argentina, Chile, França, Espanha, Uruguai, Estados Unidos, entre outros países, mostraram que há um número cada vez maior de pessoas dentro e fora das universidades dispostas a pensar as histórias em quadrinhos como meio de expressão cultural, artístico e social.

A maioria esmagadora dos participantes veio de diversas universidades e áreas de conhecimento. Como os quadrinhos ainda não têm uma tradição e uma teoria sólida, podem servir como objeto de estudo para pesquisadores de História, Sociologia, Literatura, Semiótica, Linguística, Comunicação, Artes, Educação etc.

O Brasil teve uma participação expressiva, com pouco mais da metade do total de artigos inscritos.

Os pesquisadores brasileiros abordaram diversos títulos e aspectos dos quadrinhos. Houve artigos sobre Watchmen, Batman, Fábulas e V de Vingança, considerados sob perspectivas de ideologias, representações e sociedade, mas predominaram as análises sobre Henfil, Angeli, Mutarelli e outros autores brasileiros. As pesquisas também chamaram a atenção para certas produções nacionais que estavam esquecidas, como a Editora Outubro, que produziu muitas histórias em quadrinhos de terror na década de 1960.

O congresso apresentou também uma interessante paisagem da produção em quadrinhos da Argentina, Chile e Uruguai. Muitos trabalhos destacaram o profundo impacto que a ditadura teve sobre esses países, deixando marcas profundas que se refletem desde o fundamental El Eternauta até o recente álbum El Síndrome Guastavino, com roteiro de Carlos Trillo.



Destaque para a história do quadrinhista chileno Luis Jiménez. Autor de diversas HQs populares em seu país, ele era também um militante político e desapareceu em 1973. Por duas vezes, foram encontradas ossadas que foram identificadas como suas e, depois, se mostraram um engano. Seu destino permanece desconhecido até hoje, mas acredita-se que tenha sido assassinado pela ditadura aos 25 anos de idade.

A investigação sobre Jiménez foi feita pelo escritor Jorge Montealegre, que a transformou em um livro (Apariciones y desapariciones de Luis Jiménez) que também reúne diversas páginas, desenhos e histórias completas do desenhista.

Congressos como o Viñetas Serias demonstram como cada vez mais as histórias em quadrinhos são pensadas e discutidas como relevantes objetos de estudo que permitem refletir sobre a nossa história, cultura e sociedade.

2 comentários:

Lucas Piter disse...

Estudo O Alienista no mestrado. Eu vou engatar Black Orchid no doutorado (Análise do Discurso, UFMG). Gostaria de manter contato por e-mail (o que pode gerar boas publicações para o blog). A maior dificuldade é encontrar gente para conversar sobre quadrinhos de forma mais profunda. johannlufter@yahoo.com.br

Marcio Garcia disse...

Que bom descobrir iniciativas assim, também faço pesquisas sobre quadrinhos principalmente como ferramenta de incentivo à leitura.
Estamos por ai