Curiosamente, os dois quadrinhos trazem o mesmo objeto como uma parte essencial da trama: uma caixa.
Um aviso: se você ainda não leu nenhuma das HQs e é do tipo que não gosta de saber nada da história antes de apreciá-la, pare sua leitura aqui. Quem quiser uma análise melhor e mais ponderada, leia os reviews no site, os links estão no primeiro parágrafo.
Retomando o raciocínio, achei muito interessante como as caixas têm papéis análogos nas duas HQs.
Na mitologia grega, Pandora abre uma caixa que libera todos os males para a humanidade. Entretanto, antes que tudo saia, ela consegue fechá-la mantendo apenas uma coisa lá dentro: a ilusória esperança. É esse arquétipo que a caixa ganhou nas narrativas: tudo de ruim já saiu, o que há lá dentro é a esperança, ainda que ilusória.
Em Achados e Perdidos a esperança está lá junto da caixa, a esperança que Dev tem de reencontrar o pai. Já em O Louco, a Caixa e o Homem tem-se a esperança de entender a loucura com o que há na caixa.
E as caixas e suas ilusões são peças-chave para as construções tanto de Dev quanto do Louco e do Homem. Nas duas HQs, tudo orbita a caixa, mas são as reações adversas dos personagens frente às caixas que faz cada uma das narrativas se desenrolar para lados opostos.
Dev precisa se livrar da caixa e de suas esperanças vazias de rever o pai pra reencontrar o equilíbrio. Já o Louco e o Homem trocam de lugar ante a caixa, transitando entre o controle e o descontrole, a loucura e a sanidade.
Evidente que o que há dentro das caixas não importa. Em Achados e Perdidos mesmo, isso nunca chega a ser revelado. Mas em O Louco, a Caixa e o Homem essa revelação acontece em um momento muito marcante da história, que não chega a surpreender o leitor, pela maneira como o tema é apresentado e porque desde a época de Pandora a humanidade sabe o que há do lado de fora da caixa. E lá dentro, tudo é possível, o Gato de Schrödinger pode estar vivo e morto ao mesmo tempo.
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