Nesta madrugada, o Rafael Grampá tuitou com cópia para mim e outros jornalistas e quadrinhistas um link pra um texto intitulado Cida aprova "reserva de mercado" para quadrinhos, do Diário do Vale.
O texto aborda este projeto de lei, que estipula que, em quatro anos, editoras que publicam quadrinhos no País terão que publicar 20% de títulos de HQs nacionais comercialmente. A ideia é incentivar a indústria brasileira.
O debate começou logo cedo no Twitter, com o característico limite de caracteres pra atrapalhar. Trago-o pra cá, fazendo deste blog um espaço, assim como propus mais cedo que o FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte crie um espaço para esse debate.
Já deixo claro: sou contra o projeto. E não é só porque o projeto de lei não acerta nem mesmo a grafia de "Mauricio de Sousa".
Alguns dos meus pontos:
1) A criação de uma cota interfere em linhas e projetos editoriais. Imagina se você tem uma editora de clássicos e recebe a orientação de publicar novos autores por decreto? Estraga o plano. Nas HQs, é a mesma coisa: uma editora deve poder decidir que tipo de material quer publicar, porque isso gera custo pra ela, e tem a ver com a imagem que ela quer passar pro leitor.
2) A contrapartida governamental é mínima e abstrata. Diz que vai apoiar, ajudar etc. E o governo pode até dizer "Já fazemos isso". Estará certo.
3) Alguém tem que financiar os eventuais encalhes. Isso vai acabar encarecendo quadrinhos que normalmente venderiam. Isto é: os quadrinhos de fora, e os daqui também, que compramos, que já fomentam o mercado, que já fizeram o mercado evoluir muito na última década, vão ser prejudicados.
4) Quem define o que é quadrinho de qualidade? E quem garante que essa qualidade será respeitada? E que não vão surgir picaretas pra produzir HQs de baixo custo, enchendo o mercado de lixo, só pra cumprir cota?
5) Se as editoras quiserem fazer birra e começarem a publicar quadrinhos nacionais feitos nas coxas, aqueles que mais afastam o leitor do que promovem a leitura? Pra isso, nem precisa de lei, basta ver alguns títulos oportunistas que de vez em quando pintam por aí de olho em alguma grana governamental.
6) Editoras novas oxigenaram o mercado de HQ nacional. Algumas delas testaram o mercado com materiais feitos lá fora. Uma lei de cotas só inibe a entrada de novas editoras na área.
7) Mesmo sem Mauricio de Sousa, o mercado de quadrinhos brasileiro hoje já é bastante grande e vem crescendo num ritmo que parece saudável em todas as pontas: lojas, editoras, autores, obras, eventos...
8) Não faz muito sentido priorizar quadrinhos na educação quando nem outras artes bem mais maduras no País recebem a mesma atenção. É simplesmente descabido. Fica parecendo uma muleta pro incentivo à leitura. Acho legal que as pessoas leiam HQs, mas também leiam romances e poesia, e assistam a peças de teatro e a filmes, visitem exposições, dancem, cantem. HQ é legal, mas não é tudo na vida.
9) Se o incentivo é só pra HQ nacional, logo teremos uma distorção como o do estudo de literatura, com milhões de jovens lendo Marília de Dirceu sem nunca terem lido uma página de Goethe, Shakespeare ou Borges.
10) O fato de HQ ser um meio "barato" pra promover a cultura nacional, aliás, saiu de onde? Há algum estudo? Quem diz que é fácil e barato fazer HQ? E quem define esses custos?
11) Qual o sentido dessa proposta diante do mercado digital e do mercado independente, com os sites que publicam quadrinhos? Como essa proposta conversa com o que está acontecendo de verdade no mundo das HQs, e com o que vai estar acontecendo daqui a quatro anos?
Enfim, esses são meus pontos. Convido a todos pro debate nos comentários. O espaço é todo seu!
39 comentários:
Vou estrear a caixa de comentários aqui, concordando geral com Nasi, com uma pequena ressalva.
O mercado se pôs de pé, tem que ganhar por seus méritos e é isso aí. Agora um ponto potencialmente interessante da lei é no que diz respeito às tiras de jornais. O acesso à publicação das tiras em jornal sempre foi difícil e a competição nunca muito justa, porque as tiras americanas, por terem uma distribuição massiva e mundial competem com valores que não tem como ser significativos para alguém que publica em um jornal ou em dois ou três.
Então me pergunto se uma reserva de mercado nesse setor não estabeleceria um certo balanço à questão.
Abraço.
Sidão, nós, velhinhos, já vimos essas leis de obrigatoriedade no cinema dos anos 80 e nunca adiantaram nada, só ampliaram a quantidade de filmecos (que me lembre, apenas Ilha das Flores se salvava) exibidos obrigatoriamente nos cinemas.
Essa prática atrapalhava a todo mundo, dos exibidores, que eram obrigados a adequar seus horários para enxertar aquelas coisas antes dos filmes principais, ao público, que tinha de aturar 99% de lixo antes de assistir o que pagou para ver.
Ou seja, reserva de mercado para HQs não, por favor! Isso é paternalismo que remete à Era Sarney.
Eu falei “Sidão”, mas vale para o Nasi também, apesar de achar que ele não deva ser tão velhinho quanto o Sidão e eu. ;-)
Acho que seria mais interessante o Governo conceder benefícios/insenções fiscais para a publicação de material nacional.
Muito mais atrativo para as editoras e não geraria a obrigatoriedade tal como dispõe nesse projeto.
Lá vamos nós de novo. O brasileiro adora uma muleta que vira mutreta-panelinha-só-para-os-amigos não é mesmo? Querem saber? Nem nos anos 60 os quadrinhistas tinham razão. Que me perdoem os que já morreram, mas naquela época a luta contra o Superman e o Batman em favor do Lampião e do Aba-larga já não fazia sentido, porque se publicavam muitas histórias nacionais. E agora vamos lá de novo: provavelmente algum AMADOR que não tá conseguindo publicar por não ter um trabalho bom (convenhamos, o mercado no momento está bem favorável para quem é profissional) deve ter feito um lobby com o deputado que é autor da lei. Isso é recorrente no Brasil, infelizmente. Nos anos 80 tivemos uma reserva de mercado de informática que nos atrasou em 20 anos em favor dos computadores coBRa e similares. Acabaram de aprovar uma lei que obriga emissoras de TV a cabo a exibirem programação nacional, bla-bla-bla, etc. Só que o canal de maior audiência na TV a cabo já tem 90% de produção nacional, o segundo colocado, 60%, e assim por diante. Tenho um monte de amigos em produtoras, nenhum tá feliz. Será que o mesmo destino aguarda quem faz quadrinhos?
Dúvida: uma editora poderia republicar material nacional antigo para cumprir a cota? Ou precisa ser 20% de HQ inédita? Se republicação servir, o resgate de HQs clássicas brasileiras poderia ser um efeito colateral bacana dessa lei besta.
O FIQ começa em seis dias e a programação é intensa. Não temos como incluir mais uma mesa para este debate específico. No entanto, existem algumas alternativas:
1. Nos dias 09 e 10, teremos duas mesas que vão tratar das questões relativas ao mercado editorial. então são dois bons momentos para que esta questão seja posta.
2. O FIQ, Gibicon e Rio Comicon, criaram um Fórum dos festivais de quadrinhos. Pretendemos, durante o FIQ, divulgar um documento. Podemos discutir e incluir, neste documento, um chamado para o debate sobre esta proposta de lei.
3. Solicitar ao autor do projeto uma audiência pública para que artistas, editores, pesquisadores e gestores públicos da área, possam ser ouvidos e incluídos no debate.
Acho ótimo, Afonso! Vamos usar essas alternativas.
Alguém sabe como está a tramitação do projeto? Em quais comissões já passou?
O Nasi apontou um monte de defeitos de uma lei de cotas (e não uma reserva de mercado, cujo termo assusta por lembrar o que houve na informática nos anos 1980) e tem muita razão.
Mas a lei tem bons aspectos que precisam ser vistos, como o abastecimento obrigatório de bibliotecas em projetos subvencionados e também a abertura para o mercado de tiras, dominado pela distribuição de tirinhas internacionais. Até onde eu lembro, pra piorar, há apenas uma distribuidora de tiras gringas no Brasil, que fatura os tubos com reimpressões ad infinitum de tiras canceladas há mais de dez anos, como Calvin e Haroldo.
A questão da reimpressão de material histórico é ótima também; a lei simplesmente não fala em ineditismo. Uma faca de dois gumes, como todos sabemos.
Acho que demonizar a lei sem ver seus lados bons é também um erro.
Acho que o principal e positivo aspecto da lei é fazer com que os atores deste mercado se movimentem - autores, produtores, editores, leitores - e que possam discutir esse futuro (e, segundo o site da Câmara, foi aprovada a moção para audiências públicas - http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=450497). A favor ou contra, é importante a discussão. Mas, tirando isto, não consigo ver vantagens na criação da lei. Na verdade, quando o governo tenta criar um mercado regulando a parte da oferta, o que temos é encalhe. Seria mais adequado criar a demanda - seja através da inclusão de HQs em curriculo básico, seja incentivando a profissionalização, seja dando apoio a eventos como FIQ/GibiCon/RioComicCon e outros, seja dando mais e melhor educação para os leitores poderem decidir, sim, o que eles querem consumir.
É muito comum que as leis sejam elaboradas sem suporte na realidade, infelizmente. Os pontos levantados no post são pertinentes.
Se o problema é oportunizar a divulgação dos trabalhos nacionais, parece que não será a criação de uma quota legal que irá saná-lo, pelos motivos já expostos.
Entretanto, concordo com o esforço governamental para ampliar o espaço no mercados das HQs para os títulos brasileiros: desde que isso seja feito em homenagem à liberdade de escolha de quem interessar possa; e não como um reforço positivo ao sentimento nacional, vez que isso promove distorções.
Sempre fui a favor do mote "quem sabe faz a hora não espera acontecer". Por isso resolvi escrever, desenhar, finalizar, editar e distribuir minha HQ sozinho, por conta própria. dar a cara à tapa, e deixar os leitores decidirem se vale à pena ou não. Depois me uni ao pessoal do Quarto Mundo, e vi que não estou sozinho na luta. Claaaro que uma ajuda na distribuição seria ótimo, creio que este é o principal obstáculo num país continental como nosso Brasilzão. Mas creio que lei de reserva - seja ela qual for - não gruda, não ajuda, pelo contrário.
A próxima etapa do projeto é a Comissão de Educação e Cultura.
http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cec/membros
Agora é saber quem será o relator.
Acho que leis de incentivo são extremamente necessárias no Brasil. Ela já existem em muitos países da Europa. É uma forma de proteger a cultura local que, quando bem aplicada, cumpre seu papel. Ninguém está sendo proibido de consumir só quadrinhos americanos, mas está sendo dada uma oportunidade de se encontrar mais conteúdo nacional nas livrarias. O problema está mesmo na frase "quando bem aplicada". Lei de incentivo ao cinema nacional na Argentina funciona muito bem e eles tem o melhor cinema latino-americano da atualidade. Nada de salas cheias de porcaria. O mesmo vale pra Espanha, Portugal e etc. O caso da TV à cabo não é o ideal, mas já vejo um certo avanço em favor das produções nacionais. O mesmo, pode sim, ser feito para os quadrinhos.
Achei o trâmite: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=450497
Vejam que o Deputado Rui Costa, realtor do projeto, pediu uma audiência pública. Alguém poderia fazer contato com a assessoria deste deputado para saber se a audiência já foi convocada. Se não fosse o FIQ, eu mesmo poderia fazer, mas não tem jeito.
Quem quiser pode se cadastrar na página para acompanhar o projeto.
Aqui o site do deputado relator: http://www.ruicosta.com.br/
Lá tem também o twitter dele.
Reserva de mercado a história já comprovou que não funciona, pelo contrário só atrasa pois estimula a produção de "tapa buracos" ou cópias puras e simples, foi assim com a informática, com o cinema, então já sabemos onde vai dar. Agora o incentivo, seja através da isenção de impostos ou até mesmo do financiamento já é outra história e pode dar certo, desde que feito de forma a não estimular as falcatruas.
Dizer que leis de incentivo não funcionam é negar a realidade: o Canadá tem leis que incentivam a produção de animações. E hoje o Canadá é uma potência em desenhos animados, fazendo parcerias até com estúdios brasileiros.
Ou seja, o problema não é a lei.
O problema é que no Brasil se usa o incentivo da lei para que uns e outros se locupletem.
Não tem como você criar uma legislação favorável e boazinha se quem vau meter a mão na obra é um picareta por natureza.
É uma questão de caráter de um povo, que só está acostumado a levar vantagem em tudo, enquanto pisa nos outros ou enaltece colegas que lhe puxam o saco.
Produto mesmo, criação, idéia e autenticidade?
Ganhar dinheiro com o que se cria?
Isso não vale nada.
JRP, Lei de incentivo é uma coisa..reserva de mercado é outra completamente diferente no meu entender...Senão vejamos, o incentivo incentiva, estimula, ajuda, dá uma mão...reserva de mercado, reserva, garante, independente de qualidade...
Totalmente contra. Quadrinho nacional não precisa de cota. Justamente agora que uma nova geração vem quebrando barreiras aparece uma idiotíce dessa!
É um retrato do país que quer resolver as coisas sempre da forma mais rápida e fácil possível, mesmo que essa forma seja porca. Hiperinflação? Taca plano Cruzado e acaba com a inflação por decreto. Superlotação dos presídios? Então não prende mais ninguém. Alta taxa de reprovação. Aprovação automática e tá resolvido o problema do ensino. Povo não tem dinheiro? É só o governo dar dinheiro. As editoras estão publicando quadrinhos de vários autores nacionais menos o meu? Vou lutar por uma lei que a obrigue a me publicar. O político quer ficar bem na fita sem ter que arcar com o ônus? Joga na conta das editoras e obriga elas a publicar essa tralha.
E vem cá, a maior parte das editoras que publicam HQs hoje já não preenchem espontaneamente essa cota? Já não conquistamos nosso espaço na mídia, nas livrarias e nas vidas dos leitores por conta própria, com obras de qualidade? E será que, se essa lei aparecesse em meados dos anos 90, será que o quadrinho brasileiro hoje seria tão bom? Será que teria evoluído tanto? Ou estaria estagnado, cheio de grupos mutantes com um índio entre os integrantes?
Outra: é esse o argumento que eu quero pra publicar o meu trabalho por uma editora? "Ó, publiquem a minha HQ ou vocês se ferram". Cara, eu não tenho seis braços, não sou filho de ninguém influente nem tive até hoje dinheiro pra comprar um Mac ou um Cintiq. Moro em São Paulo há menos de um ano, morava em Petrópolis até então. Não tenho nada de especial. Nem tenho lá muita lábia. Tinha apenas boas propostas nas mãos, e com isso publiquei em uma série de editoras diferentes nos últimos anos, sem falar o que tá vindo por aí. Sinceramente? Na melhor das hipóteses, acho essa lei um papelão. E quem pensa que vai ganhar o meu voto com ela, tá se iludindo. E quem pensa que vai virar autor ou atingir o público através dessa lei, tá se iludindo também. Se alguém que não é publicado hoje passar a ser só por causa da lei, esse alguém vai apenas desperdiçar papel. Se não há leitor, não há autor. A não ser que criemos uma nova lei obrigando os leitores de quadrinhos a lerem 20% de quadrinhos nacionais. Na prática, essa lei vai iludir o ego de uma meia dúzia que não quer correr atrás e vai atrapalhar a vida de muita gente séria.
Senhores, ao que parece, ainda não me aprofundei neste assunto em questão, esse projeto de lei é muito similar ao apresentado pelo deputado Simplício Mario PT-PI em 2006, por meio do Núcleo de Quadrinhos do Piauí, o qual eu represento como presidente. Felizmente, percebemos que as cotas são uma questão delicada (apesar de acreditar que podem ser úteis se bem utilizadas) e preferimos esquecê-la. Hoje, temos outro projeto em questão, como podem ver no link e NÃO trabalhamos com a hipótese de cota obrigatória, mas com incentivos fiscais SE a editora atingir um mínimo de quadrinhos nacionais lançados. Vejam no link http://nucleodequadrinhospi.blogspot.com/2011/08/projeto-de-lei-incentivo-aos-quadrinhos.html
Eu quis dizer, que "as cotas OBRIGATÓRIAS são uma questão delicada e preferimos esquecê-la." E trabalhamos com incentivos fiscais SE a editora atingir um mínimo de quadrinhos nacionais em banca. Nenhuma editora teria obrigação de publicar o que não quer... Os incentivos estariam dentro do que prevê a Lei Rouanet (de 4 a 6% do imposto de renda)... Este novo projeto está sendo apresentado por OUTRA deputada: Iracema Portela, aqui do PI.
Incentivo é outro papo. Aí, sim, pode ter um resultado positivo. E, na pior das hipóteses, se não ajudar por algum motivo, também não atrapalharia em nada. Mas a obrigatoriedade é tiro no pé. É dar um motivo pra editora que não publica ainda quadrinhos continuar não publicando.
Outra coisa: a lei estabelece tiragens e condições para a publicação das HQs nacionais dessa cota? Se a editora fizer algumas edições em PB, 20 páginas, 500 exemplares de tiragem e sem pagar aos autores (que publicarão em "parceria", em troca da divulgação de seus nomes), aí preenche-se a cota?
O nosso projeto de lei, que será apresentado pela deputada Iracema POrtela - PI diz o seguinte:
"O percentual de títulos estipulado no “caput” deste artigo será estipulado da seguinte forma: a cota mínima de quadrinhos nacionais deve ser calculada em comparação com o total de páginas de quadrinhos lançados pela editora durante um ano.
§4ºA distribuição dessas páginas em quais e quantas revistas fica de acordo com a conveniência da editora."
Esse projeto de lei é um bom jeito de destruir a indústria de quadrinhos no Brasil por definitivo.
Não vamos ter quadrinhos nacionais, mas também não vamos ter quadrinhos internacionais, talvez eles achem que isso é justo.
Sou frontalmente contra qquer sistema de cotas ou reserva de mercado. Como alguns amigos já citaram, isso em nada ajudou a produção cinematográfica nem a indústria de computadores, automóveis, brinquedos...
Mercado se conquista pela qualidade e não na base da canetada. E temos visto o surgimento de muitos roteiristas/desenhistas talentosos nos últimos anos, sem necessidade do paternalismo do Governo.
Quanto aos incentivos, aí é diferente. Mais que o PNBE, que vinha garantindo uma boa compra de quadrinhos pelo governo federal, o ProAC de São Paulo tem patrocinado ótimos títulos nos últimos anos. "Bando de Dois", do Danilo Beyruth, é o melhor exemplo.
Agora, fica a pergunta: o que as entidades de classe das editoras de quadrinhos (alguém sabe dizer quais são: CBL, SNEL?) estão fazendo a respeito?
Quando li essa matéria, lembrei do problema da lei que obriga salas de cinema a apresentarem filmes nacionais. Muitos donos de salas de cinema preferem pagar a multa a passar filmes nacionais, pois perdem menos dinheiro assim. Quando o dono do cinema coloca o filme nacional “para não pagar multa”, tem que arcar com os prejuízos de sessões vazias.
Mas voltando aos quadrinhos, temos que pensar também porque essas editoras não publicam quadrinhos nacionais. Porque eles não dão retorno. Mas porque eles não dão retorno? Porque as editoras se acostumaram a somente imprimir e mandar para as bancas. Sem nenhuma ação de marketing, sem nada de propaganda nem nada. Simplesmente jogar um produto na prateleira e esperar que ele se venda é o segredo do fracasso. Os heróis americanos e os mangás já vem com todo marketing (filmes, animes, brinquedos, video-games…)embutidos, as editoras nacionais só precisam imprimir e botar nas bancas. Quer dizer, não adianta obrigar ou dar incentivo para editoras fazerem um trabalho que elas não sabem fazer.
Será que não seria melhor dar incentivo a quem já trabalha pelo e com o quadrinho nacional? Ou tentar qualificar profissionais para empresariar o quadrinho nacional?
É verdade, Rodrigo... Particularmente, acho que falta um trabalho melhor de nossos editores, mas isso está mudando. Muitas editoras lançam material nacional ultimamente, mas que ficam devendo em criar linhas editorias, eventos, concursos, em caçar talentos, em lançar propostas no mercado... Isso falta e poderia ajudar bastante....
Entretanto, bem ou mal, estamos falando de políticas de governo, e não sei se funcionaria "um treinamento editorial" proposto pelo governo... Isso é coisa interna que as editoras precisam acordar e ver o mundo maravilhoso de talentos sem trabalhos que se perdem no Brasil
O professor Paulo Ramos definiu e dissecou a questão com propriedade com perícia de cirurgião.
http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/arch2011-11-01_2011-11-30.html#2011_11-03_21_31_59-135059040-28
O texto da lei é aml redigido, mostra claramente que quem escreveu não faz muita ideia sobre o que está falando.Definitivamente NÃO ha nescessidade de criar uma lei que OBRIGA a publicação de HQ nacional, pois como já foi dito aqui, muitas editoras já fazem isso por conta própria... Mas Leis de incentivo como o ProaC são validas e bem-vindas... É preciso chegar nos palarmentares que querem impor essa lei, e explicar qual é a real nescessidade do mercado nacional, que com certeza NÃO é uma obrigatoriedade de cota ou algo do genero...
Saudações. Apesar das várias falhas neste tipo de incentivo, sou à favor.
Na Coréia, por exemplo, o incentivo do governo permitiu que seu mercado de HQs se desenvolvesse a ponto de já exportarem trocentos títulos pra vários outros países.
Não acho que as editoras escolherão qualquer HQ nacional ruim só pra cumprir cotas, acho que buscarão as melhores possíveis pois, já que devem vender quadrinho nacional, que estes lhes tragam lucro.
Acho que isso aumentará o número de "olheiros de editora" atrás de quadrinhos nacionais de qualidade. Obrigará as editoras a procurar quadrinistas promissores que sempre estiveram por aí, mas nunca foram notados.
pra quem quer saber o que hq autoral
http://luanzcomics.blogspot.com/
100% concordo!
"Que me perdoem os que já morreram"... Bom, quem pode julgar com mais chance de acerto se os desenhistas dos anos 1960 estavam certos ou errados, são os que ainda estão vivos, como o Maurício (eu era criança naquele tempo). Quem tem contato com ele poderia perguntar o que ele pensa daquilo agora, seria interessante. Mas a sociedade era diferente, o mercado era outro, o País era outro, os tempos eram outros.
Olhando para os dias de hoje, o projeto de lei é claramente um anacronismo e não há como, na situação atual, concordar com ele, mesmo que ele possa ter um ou outro efeito (involuntariamente) positivo. Mesmo no fechado mercado de tiras não me parece simpático forçar uma intervenção, principalmente porque quem viveu nas últimas cinco décadas em nosso país (como é o meu caso) não quer saber de intervenções autoritárias.
Como muitos já disseram aqui, as editoras já publicam, as "autoridades" já reconhecem a importância da mídia quadrinhos (o FIQ, aqui na minha cidade é um ótimo exemplo) e já existem mecanismos como as leis de incentivo à cultura que poderiam ser aperfeiçoados e mais divulgados. Se "autoridades" quiserem realmente ajudar ainda mais, sempre encontrarão entidades representativas das editoras e dos artistas, para discutir projetos. Afrouxar o nó da corda no pescoço, concedendo incentivos fiscais aos que publicam, ajuda bastante, é claro. E é uma medida muito mais simpática.
Entre no meu blog , porque eu e meus amigos queremos criar um Gibi tipo Diario de um Banana .
O blog ainda nao postamos nada , mais pode escolher o blog do Manchester City Fc para me comentar :http://gazinhobanana.blogspot.com/
Olá, parabéns pelo debate! Só estou estranhando que o início seja atribuído ao Rafael Grampá (profissional de excelente qualidade), quando que na verdade ouve uma divulgação anterior da AQCSP em Julho de 2011, a pedido da Secretária Parlamentar Patricia Rubin, em nome do Deputado Federal Rui Costa (PT/BA), relator do Projeto de Lei 6060/2009, para que as opiniões fossem remetidas para alimentar uma Audiência Pública.
vejam: http://aqcsp.blogspot.com.br/2011/07/vamos-discutir-lei-dos-20-de-quadrinho.html
Cheguei a enviar uma opinião minha para a Patricia Rubin em outubro de 2011: http://lagartonegroblog.blogspot.com.br/search/label/Lei%20dos%20Quadrinhos%20Nacionais
Alguém mais fez isso? Ainda que seja bacana o democrático debate, acredito que possa ser infrutífero se desperdiçada a oportunidade de levar-se a mesma opinião para os canais adequados. Que excelente oportunidade para sermos ouvidos! Contra ou favoravelmente, façam valer a oportunidade de serem oficialmente ouvidos.
Um abraço,
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