Quando você compra um livro, de modo geral, não existe uma classificação etária sugerindo que esta ou aquela obra só possa ser lida por adultos ou pessoas maduras. Não é o que ocorre nos quadrinhos, principalmente nos Estados Unidos, país onde a HQ precisa de bula para alertar pais, censores e os chamados defensores da moral e dos bons costumes.
Recentemente, o Brasil também voltou a entrar nessa dança e teve alguns incidentes relativos à adequação dos quadrinhos, classificação etária e um pequeno surto histérico sobre a importância dos bons costumes e a “devassidão” da nona arte.
Você já deve ter notado que só os frequentadores e os vendedores das comic shops é que são presos com a compra ou venda de uma revista considerada inapropriada por um motivo qualquer. Ninguém é detido comprando na Amazon, na livraria da esquina ou no jornaleiro (se bem que nos Estados Unidos faz tempo que não se vende quadrinhos em bancas de jornal).
Quando uma criança assiste a um programa de TV às 23 horas, e, portanto inapropriado para sua idade (uma vez que as TVs se autocensuram adequando sua programação para os horários nos quais se imagina que as crianças – todas elas anjos de inocência – já estejam dormindo), ninguém bate na porta da sua casa para punir os pais que permitiram tal ato.
E são raríssimos os incidentes nos quais um cinema é multado ou fechado por permitir a entrada de jovens para assistir a um filme inadequado à sua faixa etária.
Nos quadrinhos estadunidenses é comum que toda a indústria crie rótulos, classificações, se autocensure de acordo com os interesses de lojistas, distribuidores e outros grupos com a desculpa que estão defendendo o artista e o mercado de HQs.
Depois de ler uma série de textos escritos por Frank Miller, Alan Moore, John Byrne, Mark Evanier, Amanda Conner, Neil Gaiman, Steve Bissette, relativos à censura nos quadrinhos nos últimos 30 anos, tive um surto mental e rapidamente produzi a tirinha abaixo, inicialmente postada no meu Flickr, e reproduzida aqui a pedido do Sidney.
(Clique na imagem - reduzida para não atrapalhar a diagramação - e depois em all sizes para ampliar)
6 comentários:
Tome cuidado para não ofender os grupos anti-ironia. :)
Essa tira me lembra um conto de ficção científica que eu li (se não me engano, na Isaac Asimov Magazine, edição brasileira, no. 2) em que um grupo tenta ensaiar Hamlet de Shakespeare, mas não consegue, porque sempre tem uma assciação que proíbe o uso de alguns dos artefatos. Por exemplo, se alguém se esconde atrás de uma cortina para matar uma outra pessoa, a Associação dos Cortineiros reclamava porque dava a impressão que as cortinas seriam perigosas.
D certa forma a culpa é das pp HQs q embora tenham praticamente o mesmo tempo d vida q o cinema diferente deste quase sempre c idiotizaram como entretenimento p/chegar ao público infanto-juvenil(principalmente nos comics). Isso leva à subestimação da capacidade da molecada em ler, curtir e entender quadrinhos d qualidade.
Lembro q aos 12 colecionei a excelente "Elektra-assassina" q vinha classificada como "imprópria p/menores d 16" e além d cumprir o roteiro acima ñ me tornei nenhum pervertido mas acho q a coisa já deu 1 melhorada d uns anos p/cá
E a tira tá hiária
concordo, pra ficar melhor falta linkar os textos mencionados...
Ops, é hilária. Falha nossa
Livros não têm alertas nem sistemas de classificação, mas têm algo parecido, na forma do resumo da obra na contracapa. Assim, você pode saber de antemão o que esperar da leitura e decidir se leva ou não. Alguns, aliás, até exageram na apresentação para aparentar serem MAIS violentos/depravados do que são.
Livros e filmes nasceram como entretenimento para adultos, vindo depois as obras infantis. Quadrinhos, por outro lado, são filhos diretos dass tiras de jornal e nasceram --e foram por um longo tempo-- entretenimento para todas as idades. Daí o drama do povo da "moral e dos bons costumes", que se viu traído por essa mídia, quando esta resolveu buscar outros públicos além do seu original.
Sou favorável não à censura, como a do "Comics Code", mas a uma forma de classificação etária ou de especificação de conteúdo que indique se a publicação tem conteúdo ofensivo a alguém.
Apesar de alguns dizerem o contrário, certas coisas devem, sim, ser mantidas fora do alcance das crianças. Claro que isso não impedirá que um jornaleiro venda uma revista imprópria a um menor (eu mesmo já comprei a minha cota quando era garoto), mas ao menos a editora já fez sua parte.
E acho que certas coisas sequer deveriam ser tema de uma obra artística: escrever sobre sexo com menores e estupro ou violência contra a criança como se fossem coisas boas ou aceitáveis é doentio e não deve ser de maneira alguma incentivado. Claro, Wladimir Nabokov e Dalton Trevisan escreveram sobre isso, mas usam-nos para ilustrar coisas como a sordidez da humanidade.
Pra resumir, vamos escrever sabendo para quem escrevemos e usar nossa liberdade com responsabilidade.
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