Uma lição para Ronaldos, Robertos e ParreirasPela segunda vez este ano, peço licença no
Blog para falar de esportes. Felizmente, dessa vez é pra comemorar, não para desabafar, como foi após nossa eliminação vexatória da Copa do Mundo de futebol, na Alemanha. Que seleção é essa do vôlei masculino? A única vez que senti algo parecido em termos de identificação com o torcedor foi com o saudoso Ayrton Senna.

Eu joguei vôlei por muito tempo, em seleções de escolas e universidades e adoro o esporte. Passei a jogar depois do
boom do vôlei nos anos 80, conseqüência dos vice-campeonatos mundial e olímpico em 1982 e 1984, respectivamente. E fiz a festa quando aquele timaço comandado pelo Zé Roberto Guimarães trouxe nosso primeiro ouro olímpico em 1992.
Mas esse time atual é inigualável!
Nunca na história do vôlei mundial uma seleção exerceu um domínio tão amplo: 21 competições, 17 títulos, 3 vices e um terceiro lugar. E ganhando tudo de mais importante no esporte. Nem nas fases de domínios russo (anos 70), norte-americano (1984 a 1988) e italiano (década de 1990) houve um time que ganhasse tanto, praticamente não dando chances aos adversários.

Na Itália, onde se joga o campeonato de clubes mais equilibrado do planeta, após a conquista do sexto título da Liga Mundial (este ano), um jornal estampou: "o vôlei é um esporte disputado por seis jogadores de cada lado, separados por uma rede e no qual o Brasil sempre vence". É bem por aí! É a melhor seleção de todos os tempos!
E
muito disso se deve ao excelente Bernardinho. Quando ele assumiu a seleção, depois do trabalho pífio de Radamés Lattari, levou caras novas e montou um time campeão. Nem a perda de jogadores importantes, como Maurício, Giovanni e Nalbert impediu que o time se mantivesse no topo.

Giba, Ricardinho, Serginho, Gustavo e companhia são ídolos mundiais. Onde vão jogar são endeusados e recebem salários compatíveis ao seu talento. Mas, claro, dentro da realidade do vôlei.
Apesar disso, Bernardinho consegue incutir na cabeça desse grupo um desejo incessante pela vitória. A vibração, a raça que os atletas e o técnico demonstram, como foi dito na transmissão da
Globo, parece ser de um time que está em busca de seu primeiro grande título.

E aí vem o porquê do título deste
post. Se nossos "craques" do futebol tivessem um décimo da humildade, da gana e da
honra de defender as cores do Brasil dos atletas do vôlei, teríamos faturado o sonhado hexa. Mas não. O rei dos malabarismos só os faz (na seleção) em comerciais da Nike; o Máskara prefere ajeitar o meião num lance decisivo; o boneco da Michelin foi à Alemanha como se tivesse ido a um
spa; e o dublê de Ronald Golias ou Quico (aquele do Chaves), com seu discurso empolado e
zero de comando, parecia mais preocupado com seu livro
Formando Equipes Vencedoras... Fala sério, quem vai comprar essa tranqueira?
Se há alguém que poderia escrever um livro assim, é o Bernardinho. Este é um líder, um comandante, um estrategista, um trabalhador, que analisa as minúcias de cada adversário e depois faz seus jogadores treinarem à exaustão. E nenhum deles reclama, mesmo sendo campeoníssimos, mesmo tenho ganhado tudo em seu esporte.

O Giba é o melhor jogador do planeta há anos. Foi assim nos últimos Jogos Olímpicos, na Liga Mundial deste ano e agora no Mundial. Mesmo assim, o cara treina como um iniciante, se dedica à beça, tem a humildade de, como na semifinal contra a Sérvia e Montenegro, se sujeitar a ficar um bom tempo apenas passando, até que seu jogo "entrasse". E mais: quando o repórter da
Globo lhe dá os parabéns por ter sido eleito o bam-bam-bam do campeonato, ele disse que o prêmio que importava mesmo era a medalha de ouro e o troféu. Alguém já viu algo parecido no futebol?
Uma pena que no Brasil o vôlei jamais terá a importância do futebol, mas Bernardinho, Giba, Ricardinho, Dante, Gustavo, André Heller, André Nascimento, Serginho, Rodrigão, Anderson, Murilo, Samuel, Marcelinho e toda essa comissão técnica mereceriam uma estátua. Uma não, várias.
E eles só não dão mesmo uma lição nos jogadores da seleção de futebol que
pipocaram na Alemanha, porque a "turma" do futebol (salvo uma ou outra exceção) jamais terá humildade para isso.