Alex Toth
Por Franco de Rosa
A notícia da morte do Alex Toth me deixou muito triste. Fiquei sabendo pelo Universo HQ. No dia anterior, eu estava consultando três álbuns com desenho dele para um trabalho que estou fazendo, já faz alguns meses, sobre "Preto-e-Branco".
Conversei então com o Shima, Seabra, Gustavo Machado e Primaggio. Todos nós sempre cultuamos o Toth. Não só pelo trabalho dele em animação, mas principalmente pelo domínio do preto-e-branco, que descobri ao acompanhar seus trabalhos no Zorro de capa e espada, quando fui desenhar a série para a Ebal.
Alex Toth foi dos poucos artistas que, sem estar presente, reunia numa mesa de bar um bando de desenhistas a comentar os trabalhos dele. Isso sem termos uma única página do cara na frente. O desenho dele aparecia na mente de todos. E todos comentavam os detalhes, ou o que haviam descoberto, ou aprendido com essa fera.
No primeiro encontro que ocorreu entre os quadrinhistas da Grafipar em Curitiba, em 1980, promovido pelo Claudio Seto, na mesma rodinha estavam Shima, Watson Portela, Seabra, Jô Fevereiro, eu e Gustavo Machado. Foi nosso primeiro "grande debate Tothiano", no qual discutíamos as descobertas sobre os trabalhos dele.
Quem havia chamado a atenção de todos para o artista tinha sido o colecionador Giovanni Voltolini. E nós tínhamos naquele período apenas os Zorros de Walt Disney, algumas historietas românticas publicadas na La Selva nos anos 1960 e os quadrinhos da Warren, como referência. Não havia edições em portfólio como hoje.
E todos nós vibrávamos com a paginação e a composição de cenas de Toth, nas quais ele apresentava tudo de forma simplificada, e de como "enganava" ao fazer personagens em primeiro plano, em preto, ocupando a maior parte do quadro, equilibrando a composição.
A expressão "enganando" sempre foi usada pelos desenhistas para dizer que o artista aplicava um truque gráfico que permitia que ele não elaborasse muito o trabalho. E Toth possuía muitos macetes que repetia em suas obras, sempre com sucesso e mestria.
Posso citar uma boa dezena de artistas brasileiros que estudaram a arte de Toth e sempre levantavam seu nome, comigo, em bate-papos: Rodolfo Zalla, Walmir Amaral, Fernando Bonini, Rubens Cordeiro, Joe Bennett, Ota, Ofeliano, Paulo Hamasaki, Mozart Couto, o argentino Eduardo Risso e até mesmo o francês Jean-Claude Mezieres.
Eu possuo dezenas de histórias back-ups de Toth que recortei de um montão de revistas. Também tenho várias cópias de HQs inteiras dos anos 1950. Como muitos outros, coleciono as obras dele e sou apaixonado pelas suas figuras femininas. A Canário Negro que ele fez para a DC nos anos 70 é insuperável. Cheguei a fazer uma historia em quadrinhos de oito páginas inteiramente “clonada” dos desenhos dele em 1982, quando estava aprendendo o ofício. Foi um grande laboratório.
Agora, com a morte dele, fiquei emocionado com as declarações das pessoas no site Tothfan. Principalmente a do espanhol Béa, que começou a publicar na Warren, onde Toth era um deus.
Com certeza, com a morte de Toth, que morreu bonito, sobre a prancheta, como muitos artistas revelam que gostariam de partir pra outra, muita coisa do mestre vai aparecer e ser lembrada. O que só fará bem aos nossos olhos e alma.
Que o mestre Alex Toth descanse em paz.
Um comentário:
Me desculpe a ousadia, também sou fã incondicional do toth. ele. continua vivo nos pincéis dos artitas que citou, como também nas pranchas de centenas de outros. Porém, se obsevar bem, a página de amostra é de outro artista, discípulo de toth, carmine infantino. Repare em suas composições e compare com outras histórias dele(Infantino) e verá que tenho razão. talvez o pincel seja do toth, mas com certeza, o lápis é do Infantino. Um abraço.
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