A Queda do Superpato
CAPÍTULO II
Sentado em uma poltrona, em frente à lareira, Donald parecia fitar o vazio. Seus pensamentos eram uma miríade de lembranças, ora alegres, ora tristes.
Os momentos maravilhosos que passara ao lado de Margarida; o sonho de ter lindos patinhos (que não pôde ver realizado); o dia do casamento, e até mesmo as brigas homéricas que protagonizara com o Gastão por causa de sua amada. Tudo isso passava por sua mente naquele momento.
Fazia mais de dois meses que Margarida havia falecido, vítima do Prof. Gavião. Donald estava desconsolado. Quanto ao Superpato, seu alter ego, desde o dia da prisão do assassino nunca mais fora visto.
Os jornais têm destacado o crescente aumento da criminalidade em Patópolis. Ninguém consegue explicar o sumiço do maior (e único) herói da cidade.
Outros super-heróis também tiveram suas carreiras abreviadas (Superpateta foi morto pelo Dr. Estigma; Morcego Vermelho sofreu um acidente e está paralítico; Vespa Vermelha está preso por matar a sangue-frio um assaltante já desarmado; Borboleta Púrpura aposentara-se para cuidar de seu marido, o Peninha, vulgo Morcego Vermelho; Superpata... bem, esta era a Margarida, que até já havia se aposentado há uns poucos anos). A cidade, agora, estava à mercê da bandidagem.
Donald permanecia ali sentado, olhos fixos na lenha que queimava na lareira. Em um certo momento, olhou para o alto, fechou os olhos, deu um prolongado suspiro e levantou-se. Ficou por alguns segundos em pé no meio da sala e chamou:
- Huguinho... Zezinho... Luisinho... Venham aqui. Tenho algo importante a lhes dizer.
Os sobrinhos apareceram depressa. Já estavam preocupados com seu tio, há horas ali calado e fitando o nada.
- O que foi, tio? – perguntou, esbaforido, Zezinho.
- Tenho algo a lhes revelar. Além de um pedido a fazer.
Deu as costas aos sobrinhos, voltou a sentar na poltrona e virou-se para os rapazes. E desandou a falar:
- Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer a vocês por estarem passando esse tempo em minha casa. Realmente eu teria feito uma besteira se ficasse sozinho, amargando esta maldita solidão e a falta da... vocês sabem de quem. Imagino que vocês também estão curiosos sobre o paradeiro do Superpato, que há meses não tem dado as caras na cidade.
- Sim, estamos. Mas... o que ele tem a ver com o que o senhor tem a nos dizer? - indagou Huguinho.
- Calma, garoto – rebateu Donald. – Acontece que eu sei onde ele está.
Silêncio total. Os gêmos se entreolham.
- Meus queridos sobrinhos... Eu sou o Superpato! - disse Donald, em voz alta.
A reação de Huguinho, Zezinho e Luisinho foi um misto de surpresa, descrédito e galhofa.
- Que brincadeira é essa, tio? – perguntou Luisinho.
- Não é brincadeira. Fiquem certos de que não estou louco, também. Sigam-me, vou mostrar-lhes uma coisa.
Donald dirige-se a seu quarto, seguido pelos estupefatos sobrinhos. Abre a porta e segue até o enorme guarda-roupa, abre-o e revela uma fileira de cabides repletos de uniformes do Superpato.
- Meu Deus! M-mas... isso não quer dizer nada. O senhor pode ser um fã dele, e guarda todas essas coisas. – diz um dos sobrinhos.
- Donald expressa um leve sorriso no canto da boca. Aperta um botão no piso do guarda-roupa, e o fundo se abre como uma ponte levadiça, revelando uma escada que segue em direção ao subsolo.
O espanto se faz presente nos três rapazes.
- Eu não acredito no que estou vendo! Isso é fantástico! – exclama Zezinho.
- Podem me acompanhar? – pergunta Donald, e desce as escadas.
O que se segue é a visão de um cenário futurista. Uma sala cheia de computadores e máquinas inimagináveis, carros, motos e helicópteros com designs dignos de um desenho de Flash Gordon, armas parecendo vir de um conto de Isaac Asimov.
- Esse é o Ninho do Pato. O que acham?
- Tio, eu não tenho palavras pra descrever! Mas agora tudo faz sentido... As suas saídas noturnas quando éramos garotos... Sua insistência em você mesmo lavar suas roupas... E tantas outras coisas suspeitas e esquisitas...
- Pois é, Luisinho. No começo, meu esconderijo era naquele casarão abandonado na Colina dos Patos. Depois, quando o Tio Patinhas morreu e deixou sua fortuna para mim, comprei esta mansão em que vivo agora. Todas essas coisas que você vê aí foram construídas pelo Pardal.
- O Pardal sabia de tudo?
- Sim, Huguinho, desde o começo. Ele me fornecia gratuitamente toda a parafernália. Quando fiquei quaquilionário, passei a remunerá-lo por isso.
- Mas, por que só agora o senhor foi nos contar tudo isso?
- Por um motivo simples, Zezinho: não tenho mais condições de continuar vestindo o manto do Superpato. Estou velho demais, e psicologicamente afetado com a recente tragédia que ocorreu em minha vida. E como Patópolis não pode ficar sem seu maior protetor... Quero que vocês sejam o Superpato!
- O quê? Nós? – indagam, em uníssono, os três sobrinhos.
- Sim. Isso mesmo. Vocês já são adultos, têm o mesmo porte físico que o meu, são mais jovens e estão em pleno vigor físico, devido a suas atividades esportivas constantes. O resto se resolve com treinamento. E já podemos iniciar hoje.
- Tio, que loucura é essa? Nós não podemos fazer isso. Somos casados, temos nossas famílias. Como iremos administrar as duas vidas? Além disso, precisamos dar toda a atenção do mundo às nossas mulheres. Afinal, Lalá, Lelé e Lili ainda estão muito abaladas com a morte da Margarida. – rebateu Huguinho.
- E tem mais – completou Luisinho. – O que o senhor quis dizer com “nós” sermos o Superpato, e não um de nós?
- Bem... Vocês se esqueceram de que já foram o Zorrinho? Todos pensavam que o pequeno herói era um só, mas, na verdade, eram vocês três que se “transformavam” nele. – disse Donald.
- Mas nós éramos crianças. No máximo, puníamos algum moleque que puxava os cabelos das garotas. – rebateu Luizinho.
- Pensem sobre isso. E lembrem-se de que Patópolis precisa de vocês. Na época em que eram escoteiros-mirins vocês sempre tiveram habilidades para livrar a mim e ao Tio Patinhas das encrencas em que nos metíamos, em cada aventura inventada pelo velho muquirana. Agora, é a vez de livrar uma cidade inteira das encrencas em que os vilões a meteram. Conto com vocês.
Dito isso, Donald deu as costas e subiu novamente as escadas, deixando os sobrinhos de olhos arregalados e boquiabertos diante da situação.
Ao chegar no topo, no último degrau, virou-se para os três e disse:
- Isso tudo agora é de vocês.
Donald voltou para a poltrona na sala de estar. Recostou-se, fechou os olhos e recomeçou a pensar em Margarida.
Alguns minutos se passam, ele ouve passos aproximando-se. Abre os olhos. São seus sobrinhos, que entreolham-se, meio desconfiados, e depois dizem, numa só voz:
-Nós aceitamos. Queremos ser treinados. Seremos o novo Superpato.
Continua...
Um comentário:
Poxa, super demais... O único fic que eu vi melhor que esse é "sangue sobre patópolis"... Fantástico! Interessante sabermos o futuro dos heróis, coisa que as revistas nunca dizem.
Ass: Crítico do Leste
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