Vendendo e comprando quadrinhos
A cena é corriqueira. Você está num local que, entre seus produtos (ou como produto principal) vende revistas em quadrinhos, e não consegue encontrar o item que está procurando. Obviamente, procura o atendente ou dono da loja, e pergunta sobre aquela obra em questão. Para sua surpresa ou indignação, recebe como resposta um “não sei”, ou “acho que não, teria que procurar”.
Paciência, você pensa, e continua sua busca. Eis que encontra a dita cuja, e não graças à ajuda de ninguém. Quando vai pagar, o ser humano do parágrafo anterior faz de conta que não percebeu que você localizou a revista que tanto queria, que ele nem sabia ter na loja.
Este é um exemplo genérico, entre outros piores, sobre algo que me intriga profundamente. Com um mercado tão concorrido em todas as áreas, o profissional de vendas, seja executivo ou comerciante, deve estar cada vez mais “antenado” com seus clientes. Por que no mercado de quadrinhos isso é exceção, e não regra? Lembrando que nem todo local é assim, obviamente - também existem bons profissionais.
Mas vamos dar uma rápida passada por uma aula de administração de empresas. Será que as regras do comércio e os fundamentos teóricos básicos de vendas estão presentes neste ramo de atividade? Vejamos apenas três deles – sem esquecer das óbvias diferenças entre bancas de jornais, lojas especializadas, sebos e livrarias:
Simpatia - É o mínimo exigido. Vamos supor que você visita uma mesma loja ao menos uma vez por semana, há mais de cinco meses. Se após esse periodo ninguém lhe dá sequer um “boa tarde”, ou fingem que não conhecem você, talvez seja hora de pensar seriamente em mudar o local de suas compras. Sabemos que, fora as pessoas “normais”, alguns nerds colecionadores de quadrinhos são um tanto quanto estranhos, mas, ainda assim, merecem ser atendidos decentemente. E ninguém gosta de cara feia, ainda mais quando vai gastar dinheiro.
Conhecimento do produto - Sabe a Liga da Justiça cômica? Pois é. BWA-HA-HA-HA-HA-HA... só rindo mesmo. Lógico, nem todo lugar é assim, mas vamos aos fatos: na maioria das vezes, os lojistas não sabem o que estão vendendo. Impressionante.
Com a verdadeira inundação de todos os tipos de quadrinhos em nosso mercado, é impossível que qualquer um, incluindo o vendedor, consiga ler tudo. Isso não é necessário, nem deve ser exigido. Mas se aquela pessoa que está ali, no balcão, nem ao menos gosta de HQs, como vai prestar um atendimento decente?
Imagine um açougue no qual o atendente não sabe nem diferenciar as carnes. “Eu queria 1 kg de picanha!”. E o cara coloca no pacote 1 kg de alcatra. Você volta lá? Não precisa responder.
Outra situação hipotética: você entra numa loja de perfumes, para comprar um presente para alguém. Não fica muito mais fácil quando o vendedor(a) lhe passa informações sobre os produtos? Se você pensou neste momento algo como “Nossa, Naranjo, parabéns, você descobriu a América...”, pode parar de tirar sarro. Acredite, meu amigo, na prática não é tão simples assim.
Vale também lembrar que o cliente comprador de quadrinhos, boa parte das vezes, é bem informado sobre o assunto. Ele lê revistas informativas e acompanha sites especializados, como, por exemplo, o Universo HQ. :-)
O que o lojista pode fazer, então? No mínimo, o mesmo que o leitor: demonstrar interesse. Saber diferenciar os gêneros e as editoras já é alguma coisa. Localizar rapidamente os produtos também ajuda, ou melhor, é importantíssimo. Ter noções básicas sobre os melhores autores é um requisito interessante. Se puder ler um pouco e fornecer dicas de produtos com propriedade, melhor ainda. Atender com boa vontade, veja só! Com isso, é grande a chance do cliente comprar mais do que pretendia. Que tal?
Disposição dos produtos - Tem coisa pior do que ir ao supermercado e não encontrar o que está procurando? Imagine se o item de limpeza que você quer está junto com os chocolates. Pois algo similar acontece, principalmente nas livrarias. Antigamente, era uma luta inglória encontrar quadrinhos nas grandes redes e lojas. Hoje, devido ao elevado número de lançamentos, elas tiveram que se render e disponibilizar um setor exclusivo para HQs. Normalmente, na ala infantil. É hilário encontrar nesse espaço obras adultas, quando não eróticas, como Omaha, a Stripper ou O Clic, à disposição para serem folheadas. No dia que uma mãe encontrar o filhote com um destes álbuns nas mãos e der aquele escândalo, quem sabe os responsáveis acordem para a realidade...
Isso que não vou mencionar tópicos como Aptidão para vendas, Conheça o cliente, Venda valores e por aí afora, que podem perfeitamente ser adaptados para todos os ramos de negócios. Afinal, hoje, com o mercado tão competitivo, o cliente vem em primeiro, segundo e terceiro lugar.
Antes que alguém reclame, sei que temos lojas que conjugam ótima gama de produtos com atendimento adequado e simpático. Nem precisa de propaganda, porque você sempre vai indicar para os amigos e voltar lá, não é mesmo?
Para ilustrar essa matéria, coloquei algumas imagens de uma loja especializada norte-americana. E por ora ficamos por aqui, que estou com vontade de comprar revistas em quadrinhos. Sem brigar com o atendente, de preferência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário