31 janeiro 2011

Qual a melhor nacional que você leu em 2010?

Tem mais uma enquete rolando aqui no Blog do Universo HQ.

Desta vez, para aproveitar o Dia do Quadrinho Nacional, comemorado em 30 de janeiro, a ideia é saber de nossos leitores qual foi a melhor HQ brasileira de 2010.

E também mensurar se, após um ano incontestavelmente bom (no aspecto criativo e quantitativo) para os quadrinhos nacionais, isso se reflete no público consumidor.

Caso a sua opção não esteja nessa lista de quase 50 títulos (todos dispostos em ordem alfabética), por favor, vote em "outra" e escreva nos comentários qual foi a obra.

Vota à vontade.

Melhores e piores de janeiro

Apesar de 2011 prometer grandes lançamentos para o mercado de quadrinhos, janeiro começou num ritmo "morno". Então, é hora de conhecer os melhores e piores do mês, na opinião do time do Universo HQ. Desta vez, Ronaldo Barata e Guilherme Kroll Domingues ficaram de fora.

Vale lembrar: as opiniões são pessoais e não precisam ser sobre um lançamento do mês.

Não há limite para as indicações dos melhores, que não são listados necessariamente em ordem de preferência; e nem pros piores.

Sidney Gusman

Melhores: Gaston # 15 – É só broncos! (Asa, em parceria com o jornal Público);
Gaston # 16 – Tabefes para o Lagaffe (Asa, em parceria com o jornal Público);
Fábulas # 7 - Noites (e dias) da Arábia (Panini);
Vertigo # 13 (Panini);
Vertigo # 14 (Panini);
El dia del juicio, escrito por Ricardo Barreiros e desenhado por Solano Lopez (Doedytores);
El peregrino de lãs estrellas, escrito por Carlos Trillo e desenhado por Enrique Breccia (Doedytores);
Y - O último homem - A senha (Panini);
Homunculus # 10 (Panini).

Piores: Hetalia - Axis Power - Volume 1 (NewPop);
A noite mais densa # 7 (Panini).

Sérgio Codespoti

Melhores: L'Île Au Trésor suivi de Enlevé!, de Hugo Pratt e Mino Milani (Casterman);
Scarlet # 3, de Michael Bendis e Alex Maleev (Icon/Marvel);
Scarlet # 4, de Michael Bendis e Alex Maleev (Icon/Marvel);
Beaux Arts Sexe et BD (revista sobre quadrinhos da TTM Éditions);
L'Immanquable # 1 - La BD en avant- première, de diversos autores (DBD).

Pior: Generation Hope # 1, de Kieron Gillen e Salvador Espin (Marvel).

Marcelo Naranjo

Melhores: Classificados # 2 Devir;
Classificados # 3 Devir;
Gefangene – Sem saída (Zarabatana);
O homem é bom?, de Moebius (L&PM);
Justiceiro - Zona de Guerra (Panini).

Pior: nenhum

Marcus Ramone

Melhores: Terra X - A saga completa (Panini);
Homem-Aranha # 108 (Panini);
Vertigo # 12 (Panini);
Tex Ouro # 52 (Mythos);
O melhor de Hagar, o horrível - Volume 5 (L&PM);
Cebolinha - 50 anos (Panini);
Almanaque do Tio Patinhas # 1 (Abril);
Almanaque do Prof. Pardal # 1 (Abril);
Almanaque do Zé Carioca # 1 (Abril);
Almanaque do Pato Donald # 1 (Abril);
Almanaque do Peninha # 1 (Abril);
Clássicos da Literatura Disney -Volume 27 - O avarento (Abril).

Piores: Rock'n'Roll Comics # 5 - Def Leppard (Revolutionary Comics);
Almanaque do Mickey # 1 (Abril);
Almanaque do Pateta # 1 (Abril).

Eduardo Nasi

Melhores: Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo - Volume 2 -Underground, de Pedro Franz (independente);
Eu queria ser mulher, de Laerte após poema de Mario Sá Carneiro, na Ilustríssima, da Folha de S.Paulo, em 16 de janeiro de 2011;
Daytripper # 1 a # 10 (DC Comics);
Feliz (Pequeño Editor).

Pior: A noite mais densa # 3 (Panini Comics).

Ricardo Malta Barbeira

Melhores: Preacher – Salvação (Panini);
MAD Especial # 10 (Panini);
Marvel Max # 77 (Panini);
Marvel Max # 78 (Panini).

Piores: X-Men Extra # 107 (Panini);
O invencível Homem de Ferro # 7 (Panini);
A morte do Super-Homem (Abril);
O retorno do Super-Homem # 3 (Abril).


Delfin

Melhores: Fracasso de Público – Heróis mascarados e amigos encrencados (Gal);
Fracasso de Público – Desencontro de titãs (Gal);
Cerebus – Volume 1 (Aaardvark-Vanaheim);
Cerebus - Volume 2 - High Society (Aaardvark-Vanaheim);
The death of Groo (Epic Graphic Novel).

Pior: Roger Rabbit - The resurrection of Doom (Marvel Graphic Novel).



Lielson Zeni

Melhores: Desenhando quadrinhos, de Scott McCloud (Makron Books);
Preacher - Volume 8 - Às portas do inferno (Panini);
Xampu - Lovely losers (Devir);
Tempo, de Chris Ware, na Piauí.

Piores: Wolverine # 73 (Panini);
Wolverine anual # 4 (Panini).




André Sollitto

Melhores: Ao coração da tempestade (Quadrinhos na Cia.);
The Spirit - As novas aventuras (Devir);
Fierro # 52 (Ediciones de la Urraca)
Y - O último homem - A senha (Panini).

Pior: A teia do Aranha # 3 (Panini).


Zé Oliboni

Melhores: Bone One Volume (Cartoon Books);
O Cabra, de Flávio Luiz (independente);
Asterios Polyp (Pantheon) .

Pior: nenhum.



Diego Figueira

Melhores: Calvin e Haroldo - Deu "tilt" no progresso científico (Conrad);
(Leya / Barba Negra).

Pior: Marvel Action # 29 (Panini).

Marcelo Santos Costa

Melhores: 52 # 1 a # 13 (Panini);
A noite mais densa # 7 (Panini);
Biblioteca Histórica Marvel - Quarteto Fantástico - Volume 1 (Panini);
Y - O último homem - A senha (Panini);
Aldebaran - A catástrofe (Panini);
Cebola Jovem - O grande prêmio (Panini);
Buda # 1 a # 7 (Conrad);
Jornada ao Oeste - Volume 1 (Conrad);
Conan - Ciméria (Mythos);
Animal Man - Volume 1 (Vertigo);
Animal Man - Origin of The Species - Volume 2 (Vertigo);
Animal Man - Deus Ex Machina - Volume 3 (Vertigo).

Pior: O flagelo dos deuses (Devir).

28 janeiro 2011

Vai pro gol

Este post não tem nada a ver com quadrinhos, mas com outra de minhas paixões - abandonada há quase 20 anos: o futebol de mesa, o popular, jogo de botão.

Durante a infância (ainda no bom e velho Estrelão e com bolinha chata) e a adolescência (já com botões, mesas e regras oficiais, além da bolinha redonda e de feltro) joguei muito - e bem, modéstia à parte. Tanto que cheguei a ser federado pelo Clube Atlético Indiano e minha carteira da Federação Paulista de Futebol de Mesa, ainda guardada em casa, é uma das mais antigas, a de número 11, se não me engano.

Foram dois ou três anos em que viajei por várias cidades e fui a diversos bairros de São Paulo para defender o Indiano em competições por equipe e individuais. Um barato!

E isso andava esquecido até a semana passada, quando, muito sem querer, conheci o Felipe Figueiredo, que está fazendo o documentário Vai pro gol. Na verdade, ele ia entrevistar o Mauricio de Sousa, que jogou na infância (como a maioria da molecada pré-geração videogame), e acabei contando um pouco das minhas peripécias no botonismo.

Resultado: fui entrevistado pelo Felipe e estou até no trailer do documentário, que pode ser visto abaixo. Depois da conversa, admito: estou com vontade de tirar minha velha Seleção Brasileira de 1982 da gaveta e voltar a "bater uma bolinha", mesmo que seja só por diversão.

Vai Pro Gol. Documentário. from Felipe Figueiredo on Vimeo.

27 janeiro 2011

Um brasileiro em Angoulême – Parte 1

Por Douglas Lambert

Hoje começa o Festival de Angoulême, o maior do gênero no mundo quando o assunto é exclusivamente quadrinhos. No ano passado, estive por lá em decorrência de uma viagem por motivos profissionais e familiares que realizei à Europa, acompanhado de minha namorada, que planejou quase todo nosso itinerário. Numa janela entre um compromisso e outro tornou possível conhecer o evento e a cidade.

Por isso, a intenção deste texto é contar um pouco da experiência de participar do festival. As ruas, a cidade, o público, os artistas... Tudo sob um olhar descompromissado, sem obrigações com jornais, editoras ou blogs.

O texto foi divido em três partes, de acordo com as datas em que lá estive: 29, 30 e 31 de janeiro. E você confere todas abaixo.

Além das fotos que você verá abaixo, há muitas outras, na minha conta do Flickr, que podem ser conferidas aqui.

Então, que a viagem comece.

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Angoulême, 29 de janeiro de 2010

Chegamos a Angoulême pela manhã e o festival começara no dia anterior. Por isso, perdi alguns eventos interessantes, como o primeiro Encontro Internacional, com Sempé, um debate sobre quadrinhos interativos no Auditório da Cité e uma conferência no Pavilhão Jovens Talentos sobre o trabalho de tradução.

Nas bilheterias, os visitantes trocavam o ingresso comprado antecipadamente por uma pulseira de identificação ou compravam uma na hora. Eram três pontos de venda: um próximo à Praça New York, outro no Campo de Marte e o último no Edifício Castro, sendo que este não realizava a troca, apenas vendia ingressos. E não é fácil descobrir isso, pois há pouquíssima informação à vista nas ruas, apenas indicações de direção.

As pulseiras eram feitas de um material plástico, em cores bastante chamativas, como as usadas em blocos carnavalescos ou rodeios. A que valia para os quatro dias do evento era amarelo-fosforescente, mas também azuis e laranjas. Em qualquer um dos casos, depois de colocadas, elas só saíam do punho se fossem rasgadas.

Junto com a pulseira era entregue uma brochura com informações sobre o festival e cada um dos eventos, além de uma grade de horário bem detalhada e um mapa muito ruim de se localizar. Também era possível encontrar essa grade em pontos estratégicos.

Le Nouveau Monde


Já de pulseira, seguimos para o local mais próximo, O Novo Mundo, uma enorme tenda montada na Praça New York que abrigava um dos dois Espaços das Editoras e o Espaço dos Quadrinhos Alternativos.

Lá dentro, ambos se confundiam. O que existia na verdade era um estande grande da L’Association (editora de perfil alternativo, fundada em 1990, com publicações importantes no portfólio, como Persépolis, de Marjane Satrapi) e um monte de estandes pequenos de companhias menores.

Era possível encontrar uma quantidade absurda de títulos e autores por metro quadrado. Crianças, adolescentes, adultos, idosos, homossexuais, heterossexuais, pornógrafos, fetichistas, estudiosos, intelectuais... Havia espaço para todo tipo de público.

Para uma pessoa com pouco contato com o universo dos quadrinhos europeus, como eu, entrar num ambiente como este é um misto de vergonha e deslumbramento.

Vergonha por desconhecer cerca de 90% dos álbuns e/ou autores; e deslumbramento por descobrir novos traços, histórias e estilos a cada passo. De um lado, Frank Santoro lutava para entender se um senhor queria seu desenho/autógrafo no formato paisagem ou retrato; do outro, uma pequena multidão se aglomerava para ver Chongrui Nie, um dos autores de Le juge Bao, desenhar. Nomes que, até então, eu nunca tinha ouvido falar...


Ah, e havia também, no fundo, um pequeno café, próximo a um bueiro. O cheiro era horrível...

Espace Fnac-SNFC Selecion Officielle


Em frente a Rua Hergé estava o Espace Fnac - SNCF Selecion Officielle, uma tenda na Praça St. Martial em que os 58 álbuns concorrendo ao prêmio Fauve Fnac-SNFC (o prêmio do público) podiam ser lidos. A entrada era gratuita.

No mínimo dois álbuns de cada título estavam disponíveis no local: um portátil, colado a uma placa de acrílico transparente (para diferenciá-los), e outro fixo a um totem. Uma boa quantidade de puffs (confortabilíssimos) e cadeiras estavam à disposição dos leitores, assim como seis computadores para o público votar no prêmio ali mesmo. Eu me diverti horrores lendo Dungeon Quest, do sul-africano Joe Daly (votei nele), e quase todo Misery Loves Comedy, do Ivan Brunetti.

Outra atração do espaço eram os 20 minutos de bate-papos com alguns dos autores (às vezes, só o desenhistas; outras, só o escritor; e até ambos) dos álbuns da seleção do prêmio do público. Isso rolava a cada 45 minutos, mais ou menos.


Enquanto lia, assisti de canto de olho o Matthieu Bonhomme, desenhista do L’Esprit perdu (que ganhou o prêmio internacional em 2010) falar sobre seu processo criativo e seu método de trabalho.

Almoço


Almoçar em Angoulême é caro, como em qualquer outro lugar na França. Quem tenta fugir do tradicional sanduíche na baguete paga mais ainda. Os lanches custavam uma média de 5 euros, enquanto o prato do dia nos restaurantes não saía por menos de 8 euros.

Tinha também o salvador da pátria, o kebab, semelhantes ao popular “sanduíche grego” no Brasil. Deliciosos e feitos na hora, com molhos diversos (o de hortelã era maravilhoso), salada, muita carne e acompanhado de uma bela porção de batatas fritas, custavam 4,50 euros. Embora fossem mais baratos e bem mais gostosos, a procura por eles era menor.


Filas enormes nas barracas de baguetes (quase todas na frente de alguma atração do festival) e restaurantes cheios contrastavam com casas de kebab relativamente vazias.

Em todos os lugares, a bebida não saía por menos de 2 euros, com exceção da água, tradicionalmente oferecida (1 litro) como cortesia pelos restaurantes franceses.

Rencontres au Conservatoire


O Auditório do Conservatório era palco de diferentes atividades. Em Os Encontros desenhados, autores eram convidados a emular seu ateliê pessoal e trabalhar diante do público em um de seus projetos atuais. Já em Os Encontros - Quadrinhos e romance noir, profissionais debatiam suas adaptações deste gênero literário. E em Os Encontros - Hergé acontecia um debate sobre a obra do criador de Tintim. De todos esses, só consegui comparecer ao último.

O evento em questão aconteceu às 13h30min. Tratava da relação entre Hergé, Hitchcock e Agatha Christie, e tinha como participantes o escritor Benoît Peeters, autor da biografia de Hergé, entre outros livros e quadrinhos (ele aparece no documentário Tintin et Moi, do dinamarquês Anders Østergaard), e o crítico literário François Rivière.

Também estava presente um mediador que se apresentou logo no início do debate e fugiu rapidinho assim que tudo terminou. Como cheguei atrasado, perdi o nome dele. Outro encontro aconteceria no dia seguinte, no mesmo horário, e abordaria as origens da “linha clara”, termo que designa o estilo de desenho empregado por Hergé.

O debate que presenciei durou cerca de uma hora e meia e fazia uma aproximação da obra dos três autores, tratando, em especial, da maneira com que cada um deles cria o suspense. Com atenção maior a Hergé, o que, dado o caráter do festival, era inevitável.

A maior parte das falas foi do Benoît, que se mostrou muito simpático e respondeu longamente as perguntas do público, quando o debate foi aberto. Disse que As joias da Castafiore era o ápice da criação do suspense nas obras de Hergé. O mediador também falou bastante e parecia conhecer bem a obra de Hitchcock. Já o François limitava-se a responder secamente tudo o que lhe era endereçado.

Por completa falta de experiência e por um bocado de sono, resultado de uma longa viagem sem dormir, não gravei o debate e nem fiz anotações importantes. Mas o ponto que lembro mais claramente tratava de como os três eram “simplificadores”, um termo usado pelo Truffaut em sua célebre entrevista com Hitchcock para designar autores que eram capazes de criar grandes tramas sem se utilizar recursos complicados tanto na forma, quanto no conteúdo.

Era um contraponto ao que Truffaut chamava de autores “complicadores”. Acredito que o David Lynch seja um bom exemplo deste segundo grupo.

Mas é bom deixar claro que esses termos não foram usados como elogio ou crítica negativa, apenas para descrever os autores.

Expo Blutch, Fabio e Dessin d’humor


Ao lado do Conservatório, próximo à Praça Henri Dunart, aconteciam três exposições. Blutch e Fabio Viscogliosi tinham seus trabalhos, a grande maioria “extra quadrinhos”, expostos. Muitos rascunhos, algumas esculturas (no caso do primeiro) e um ou outro original de trabalhos publicados. A terceira era uma mostra de caráter historiográfico sobre desenhos de humor. Do século XIX a Chris Ware.

Todas eram muito boas. Mas, no caso das exposições focadas nos artistas, faltou um pouco de contextualização dos trabalhos. Soltas demais, não apresentavam data de realização das obras ou qualquer informação minimamente explicativa, além de um parco texto de apresentação no início.

Eram artistas apresentando suas obras em um salão de maneira bastante tradicional, quase como numa galeria de arte à espera de um possível comprador. Se você já era familiar ao trabalho deles, ótimo; se não, azar seu...

A mostra de desenhos de humor era diferente. Muitas obras, resultado de um excelente trabalho de pesquisa, com textos bem elaborados e informativos, além de, como era de se esperar, extremamente engraçada.

O único problema, comum às três exposições, era o espaço escolhido para realizá-las. Uma ala inteira de um edifício antigo extremamente apertado, com muitas salas ligadas por corredores estreitíssimos e de difícil circulação.

Estranhamente, as imagens que acompanham este texto parecem mostrar exatamente o contrário!


Quadrinhos argentinos


No Auditório da Cité aconteceram dois eventos interessantes focando os quadrinhos argentinos. O primeiro foi sobre o artista argentino Copi, que morou muitos anos em Paris. Logo em seguida, um debate sobre as HQs contemporâneas de nossos hermanos. Acabei perdendo ambos enquanto visitava as exposições do Blutch e demais.

De qualquer maneira, vale registrar o fato. Além do mais, é bastante curioso ter de ir até Angoulême, do outro lado do Oceano Atlântico, para ver dois debates sobre quadrinhos de um país com o qual o Brasil faz fronteira. Felizmente, esse cenário parece estar mudando.

Le Monde des Bulles


No Campo de Marte estava O Mundo dos Balões, com o segundo Espaço das Editoras. Nele era possível entender o que realmente aconteceu no final de 2009, quando a prefeitura ameaçou cancelar o festival.

Era um lugar enorme, com estandes imensos, como os que as grandes editoras brasileiras montam nas bienais do livro no Brasil. O público, significativamente mais jovem, se amontoava em maior número nas filas de “autógrafo”.

E a palavra está entre aspas porque não é uma simples assinatura: era um desenho completo, passado a limpo e, muitas vezes, até colorido com aquarela. Uma arte inteiramente original.

Só que para entrar nesse espaço era necessário mostrar a pulseira-ingresso, os livros não tinham desconto algum e era proibido pedir “autógrafo” em qualquer coisa a não ser a obra do autor (pequenos cartazes avisavam isso, mas esqueci de fotografá-los).

Ou seja, você só entra lá para comprar um álbum se realmente gostar do autor e quiser o “autógrafo” ou se pretende revender os livros autografados na internet.

O motivo da briga da prefeitura era esse. Ela montava as tendas, modificava toda a estrutura de transporte da cidade, desviava pessoal de função e pagava hora extra (já que o festival se estende por todo o final de semana) para que as editoras vendessem os mesmos livros que você poderia encontrar em qualquer livraria por um preço idêntico. E ainda tendo de pagar para entrar!

Para a prefeitura de Angoulême, isso não parecia fazer muito sentido, ainda mais em tempos de crise econômica.

Existiram também, obviamente, interesses políticos mascarados, que não conheço bem o suficiente para dar nome aos bois, mas o fator econômico me pareceu relevante o suficiente para questionar a maneira com que as grandes editoras participam do evento. Elas pagam o aluguel do estande e mais nada. Uma quantia mínima, certamente, perto dos lucros que têm.

Quem chega, como eu, achando que vai comprar um monte de quadrinhos baratos se decepciona. Sendo brasileiro, então... Entre, por exemplo, pagar € 27,55 (que era o preço médio da maioria das novidades) no Gênesis do Robert Crumb ou gastar R$ 34,93 numa promoção de lançamento (que se estendeu por bons meses em diversos sites), vale mais a pena comprar por aqui mesmo.

Já os álbuns que demorarão anos para ser lançados no Brasil, se é que um dia sairão por aqui, autógrafo à parte, é preferível adquiri-los em livrarias especializadas de Paris, com algum desconto.

Como para chegar a Angoulême você precisa descer de avião em Paris e depois pegar um TGV, vale a pena ter isso em mente e separar uns dois dias para visitar a capital francesa.

Nesse ponto, o festival foi bastante frustrante. “Não vale a pena comprar quadrinhos na Europa. Tem de ter muito dinheiro! Como essas pessoas compram tanta coisa? A fila do autógrafo está enorme e todo mundo está com todos os livros do cara na sacola! Devem ter gastado mais 100 euros em obras de um único autor e ainda são duas da tarde do segundo dia!”. Esses eram pensamentos constantes.

Le Monde des Collectionneurs


Na Praça do Mercado estava O Mundo dos Colecionadores, espaço dedicado à venda de todo tipo de bugiganga que se possa colecionar. Bonequinhos, estátuas, livros raros ou só antigos, pôsteres... Tinha de tudo, até material de desenho (bem barato por sinal - as raras canetas PITT, da Faber-Castell que por aqui não saem por menos de 12 reais, lá estavam por 2 euros, e em toda variedade de cor). A tentação era enorme.

Curiosidade: a empresa responsável pelo licenciamento dos produtos do Tintim não estava lá dentro, embora muitos de seus produtos estivessem à venda em outros estandes. Ela estava no espaço Le Bouveau Monde, junto das editoras alternativas. Era um estande relativamente grande, posicionado em uma esquina, o que aumentava o espaço para exposição de seus produtos.

Valsa com Bashir


Na Sala Nemo, do Edifício Castro, estava marcada para as 20h30min uma sessão de Valsa com Bashir com a presença do diretor Ari Folman. Era preciso comprar um ingresso separado (2 euros), sem necessidade de apresentar a pulseira.

Chegamos às 19h, imaginando longas filas, o que não aconteceu. A porta da sala foi aberta uma hora depois e a sessão começou quase às 21h. Esperaram todos os lugares serem preenchidos para o filme começar.

Pouco antes, o diretor entrou, se apresentou e falou que após a sessão voltaria. Já estava cansado de ver seu filme e esperaria lá fora.

O filme foi exibido com áudio original, em hebraico, e com legendas em francês, tudo ao som de fortíssimas assoadas de nariz por parte dos franceses.

Aparentemente, assoar o nariz é uma coisa extremamente comum e corriqueira entre eles. Não existe um “aqui não pode, porque atrapalha os outros”. Toda hora é hora.

Sem contar que as diversas camadas de roupas, ao serem retiradas, revelavam um odor extremamente peculiar de suor. Não foi uma sessão das melhores.

As luzes se acenderam e o diretor entrou ao som de longos (e merecidos) aplausos. Falou brevemente sobre aspectos gerais do filme e abriu espaço para perguntas. A maioria delas queria saber sobre o processo de produção: a gravação e seleção dos depoimentos, a captação de verba, a escolha pela animação em Flash...


Uma ou outra pergunta sobre a montagem, principalmente pela escolha em colocar imagens “reais” no fim do longa-metragem. Mudando um pouco a linha geral dos assuntos, perguntei:

– Ari, gostaria que você falasse um pouco sobre a versão em quadrinhos do filme e sobre a decisão de fazê-la.

– Bom, o motivo de termos feito essa versão foi porque podíamos fazê-la. Nunca nos passou pela cabeça transformar o filme em quadrinhos até uma editora de Nova York nos pedir a adaptação. E não foi difícil. A arte já estava praticamente pronta. O desafio foi adaptar a enorme quantidade de diálogos para texto sem torná-lo enfadonho.
– E você gostou do resultado? – uma outra pessoa perguntou.

– De algumas versões, eu gosto; outras, odeio. Por isso, costumo evitá-las. A de Israel, odeio. A única que acho realmente boa é a americana.

– E a francesa? – perguntou um sujeito na primeira fila.

– A francesa não é ruim, não.

O debate foi encerrado pouco antes das 23 horas e voltamos para a estação de trem, à espera de nossa carona.

Um brasileiro em Angoulême – Parte 2

Por Douglas Lambert

Angoulême, 30 de janeiro de 2010


– Sábado - disse o atendente do Edifício Castro -, a cidade fica extremamente cheia. É o pior dia.

E ele estava certo. Havia muita gente na rua e nem mesmo uma nevasca de pouco mais de três horas na parte da manhã foi capaz de desanimar as pessoas.

Mas também era o melhor dia. Encontros Internacionais com Robert Crumb, David Heatley e Ivan Brunetti.

Sistema de transporte


Angoulême (capital do Departamento da Charente, um dos quatro que compõem a região Poitou-Charente), como todo município, é subdividida em bairros; e o festival limita-se, basicamente, à pequena área interna da muralha da antiga cidade medieval que foi um dia, hoje chamada de centre-ville, o centro.

Andar pelo festival, portanto, tem de ser a pé. Os demais bairros não são longe, mas nevando e com frio é necessário pegar um ônibus ou táxi para se deslocar até lá. Pensando nisso, a prefeitura modifica o sistema de transporte público para facilitar a vida dos visitantes.

Durante o festival, o passe de ônibus sobre de preço, de € 0,70 passa a € 1,00, mas você tem direito a utilizá-lo naquele dia quantas vezes quiser, pagando uma única vez. Economia de 40 centavos, imaginando apenas duas viagens, ida e volta. Funcionava das 5 às 23h, de segunda a sábado. Aos domingos, das 12 às 18h.

Além disso, uma linha de ônibus gratuita saía da Gare, a estação de trem, e percorria praticamente todos os locais onde aconteciam atividades. Isso era bastante útil, pois o centro fica num morro próximo ao rio Charente, e tem subidas muito íngremes.

Os flocos grandes e muito bonitos de neve, e o vento frio do início do dia impediram qualquer um de andar a pé. Então, o sistema de transporte municipal foi testado e aprovado.

Rencontre internationale


A experiência do dia anterior, com exposições cheias e mal montadas, a segregação entre editoras grandes e pequenas e o foco extremamente comercial dos espaços montados nas praças, forçou uma maior atenção para a Sala Nemo, do Edifício Castro, local da sessão de Valsa com Bashir e também local dos Encontros internacionais.

No dia 29, o primeiro foi com Hayashi Seeichi, o pessoal da Fluide Glacial, Luca de Santis e Sara Colaone. Mas no sábado (30) a programação prometia. Alan Martin, Robert Crumb, David Heatley e Ivan Brunetti, Floc’h e Rivière e, por último, Enki Bilal.

Kevin O’Neill, Joe Sacco e Dash Shaw completavam a programação do último dia (31).

Os encontros tinham uma hora e meia de duração. Cravado. Os primeiros 60 minutos eras exclusivos dos mediadores e componentes da mesa, que apresentavam o convidado e davam um breve histórico de sua carreira. Em seguida, faziam perguntas e abriam a meia hora final para dúvidas do público. Na porta eram distribuídos fones de ouvidos para a tradução simultânea inglês/francês e francês/inglês. Tudo muito organizado.

Robert Crumb


Como era esperado, o encontro com Crumb chamou todas as atenções do dia. A reverência era tamanha, que eu jurava que ele sairia de lá como vendedor de alguma coisa - o que, para minha surpresa, não aconteceu.

Muita gente esperava na porta da sala e algumas pessoas chegaram a entrar no encontro com Alan Martin só para garantir o seu lugar. Felizmente, a sala foi esvaziada e todo mundo teve de esperar do lado de fora. A porta seria aberta pontualmente no horário marcado, às 12 horas.

Sala cheia. Gente sentada no chão, na escada, saindo pelo ladrão... Mas foi tudo calmo. Não houve correria ou empurra-empurra. As pessoas foram lentamente se posicionando, de maneira muito engraçada, no meio da sala. Os cantos, inclusive os primeiros assentos, ficaram livres, o que permitiu a quem chegou em cima da hora conseguir um bom lugar.

Na mesa estavam o editor francês de Gênesis, o mediador do debate e o autor. Sentada na plateia, de frente para ele, estava Aline Kominsky-Crumb, com uma florzinha de crochê presa no seu longo e cacheado cabelo vermelho. Os dois são idênticos a como se desenham. Na verdade, Crumb um pouco menos, pois tirou a boina.


O debate começou um pouco atrasado e seguiu à risca o protocolo. O mediador começou por um pequeno histórico da carreira (Fritz the Cat, Zap Comics, American Splendor etc.), para depois fazer perguntas sobre como ele começou, o cenário underground de São Francisco, suas obsessões sexuais “por um certo tipo de mulher”. Foram várias questões nessa linha - parecia haver uma necessidade em fazer o homem falar de sexo, mas Crumb se limitava a gesticular ou responder de maneira bastante seca: “Foi algo que saiu”, “Aconteceu”, ou qualquer coisa do gênero. O documentário sobre ele do Terry Zwigoff é mais revelador. Em seguida, trataram de Gênesis.

Nada de novo saiu. Tudo que muitos já leram em entrevistas na época do lançamento ou quando primeiro se ouviu falar da obra, alguns anos atrás. Crumb aceitou fazer a adaptação depois de receber um belo adiantamento que, mais tarde, quando teve a real noção do tamanho do trabalho, pareceu uma quantia muito pequena.

Foram anos de trabalho. Aline, da plateia, disse brincando que o marido ficava trancado num quarto e só recebia água e comida após terminar um determinado número de páginas.

Crumb disse que gostou de trabalhar assim, pois foi produtivo. Contou também que chegou a se sentir como se aquilo fosse uma penitência para pagar seus pegados anteriores. “Você desenhou toda essa pornografia? Ok! Agora vai adaptar o Gêneses”. Perguntado se soubesse o tamanho da empreitada de antemão aceitaria o trabalho, respondeu sem dúvida: “Nunca”.

Como referência para o trabalho, ele disse ter utilizado basicamente outros quadrinhos, mas não citou nomes. Acredito que foram usados mais como referência para a composição dos quadros e estruturação da narrativa do que para pesquisa historiográfica.

Frames de Os 10 Mandamentos, que imprimiram para ele em grandes quantidades (chegou a dizer que tem praticamente um flip book do filme), eram utilizados para referência de vestuário.

Obras renascentistas, ou mesmo do Século 19, como as de Gustave Doré, não foram usadas. As primeiras por serem “românticas demais”; e o segundo por ser “muito barroco, cheio de frescuras. Inútil”. A arte dá época, por sua vez, era pouco útil por ser simples demais.

Quanto ao texto, ao “roteiro” da obra, disse ter optado por uma adaptação o mais próximo possível do original, mas que, mesmo assim, ainda achou brechas para alguma interpretação.

Nesses pontos, tentou, na medida do possível, deixar seu ego e seu humor de fora. Citou o caso da destruição de Sodoma e Gomorra. No Velho Testamento, não está explícito o que exatamente estão fazendo de tão mau assim para que merecessem ser destruídos.

Nas obras que pesquisou e que adaptam esse trecho, as pessoas estão bebendo, usando drogas, transando... “basicamente, se divertindo!”. Ele, então, optou por retratar gente sendo morta, roubada, estuprada... Coisas que considera ruins.

Nas várias críticas que li sobre o Gêneses, o ponto central de qualquer argumento negativo, que quase sempre levava em consideração uma historiografia da obra do autor, era a falta da mão do autor. O humor, o sexo, o politicamente incorreto não está explícito como grande parte dos fãs esperava.

Alguns atribuíram isso a uma tentativa de mudar sua imagem pública, o que o autor negou. Outros disseram se tratar de uma resposta aos “fundamentalistas”, como chegou a ser perguntado. Crumb não negou, mas também não afirmou que fosse sua motivação real (além do adiantamento). Respondeu algo como: “Vocês estão dizendo que isso está na Bíblia? Pois eu adaptei palavra por palavra o texto e não encontrei nada disso”.

Mas o Crumb está no texto. Mascarado, escondido nessas pequenas brechas interpretativas que só aparecem diante de uma comparação com as demais adaptações.

Durante o debate, ele comentou que se perguntava quem iria comprar o livro. “Fãs do Crumb não vão comprar. Religiosos não vão comprar. Quem irá comprar?”.


Essa é uma questão que o editor também se fez e que até hoje não consegue entender: a que público o livro atinge?

Cristãos e judeus responderam de maneira surpreendentemente positiva. Pessoas escrevem agradecendo a adaptação, pois ela serviu de ponto de partida para a leitura do texto original, da Bíblia em si.

Chegam a pedir para ele adapte o restante do Velho Testamento (a cara de terror que ele fez quando esse fato foi citado aproxima a chance disso acontecer do zero). O contrário disso era o esperado.

O livro também recebeu críticas – está longe de ser uma unanimidade. E uma delas arrancou risos da plateia: a pessoa disse que Gênesis é difícil demais de ser lido, diferentemente das outras obras do autor.

“I’m sorry”, Crumb respondeu.

O autor também comentou que foi criticado quanto à aparência de Deus, severa, arcaica e que lhe foi revelada num sonho. “Qual é? É Deus! De que outra maneira você poderia desenhá-lo? É Deus!”. Por fim, disse que não vê seu livro como algo religioso, mas que o trabalho em si pode até ter sido. E que provavelmente vá voltar a desenhar pornografia.

Levantou-se e avisou que não iria autografar nada e nem fotografar com ninguém. Aline e o restante do pessoal do festival o cercaram rapidamente. Um pobre artista inglês que se aproximou precisou ser efusivamente convencido de que Crumb realmente não autografaria nada.

Depois de algum tempo, entenderam que ele só queria entregar seu trabalho como presente. Crumb pegou, guardou em sua bolsa e agradeceu. Tentaram escapar por uma saída lateral, mas ela estava fechada e tiveram de abrir caminho pela multidão que saía pela porta principal. Fim.

Hospedagem


No intervalo de meia hora antes do encontro com David Heatley e Ivan Brunetti, prestei atenção na conversa entre dois jovens norte-americanos, um artista e uma editora. Entre um assunto e outro, comentaram sobre a hospedagem em Angoulême. Ela não tinha conseguido hotel e estava fazendo “bate-volta” de Paris naquele dia. Ele estava na casa de amigos. A situação de ambos não era diferente de muitos ali, especialmente a dela, por ser sábado.

Arrumar um lugar para se hospedar em Angoulême é extremamente complicado. São pouquíssimos os hotéis e a grande maioria deles, os mais bem localizados, pelo menos, são reservados para o pessoal do evento. Produtores, editores, autores, grandes expositores...

O público, a menos que reserve com enorme antecedência, é obrigado a fugir para as cidades ao redor. Cognac é a maior delas, “sub-capital” da região da Charente, e recebe grande parte dos turistas de “última hora”. Entre aspas, porque não é tão simples assim.

Minha namorada (e tradutora e chefe de excursão) e eu começamos a planejar a viagem em julho de 2009. Os ingressos do festival foram nossa primeira preocupação, compramos antes mesmo de pensar em hospedagem.

Em meados de setembro, quase cinco meses antes, todos os hotéis da cidade estavam lotados, segundo o site Booking.com. Fiz reserva para dois no Hotel Angoulême. “Perfeito! Nem acredito que consegui hospedagem na cidade”, pensei.

Em outubro, minha namorada percebeu que o hotel, apesar do nome, ficava em Cognac, a 40 quilômetros de onde imaginávamos.

Tivemos de apelar para o Couchsurfing, site em que você oferece uma cama, um colchão, uma rede ou só sua companhia para um viajante, geralmente mochileiro, que conhece pela internet. De graça.

Parece arriscado, mas com antecedência é possível achar pessoas interessantíssimas. Você monta seu perfil e vai buscando possíveis candidatos a seu anfitrião.

No nosso caso, fomos muitíssimo bem recebidos e acolhidos. Ficamos a pouco mais de dois quilômetros do centro da cidade. O anfitrião nos buscou na Gare quando chegamos, deu dicas de transporte, serviu cerveja, fez crepe, nos explicou a política local e as contas do município com os festivais, nos levou de volta à estação de trem no último dia... Perfeito.

Fica aqui a dica para quem for a Angoulême nos próximos anos. No lugar de se planejar com antecedência para conseguir um hotel em Angoulême por 70 euros, tente, bastante tempo antes, uma cama na casa de alguém que mora lá. Além de economizar uma boa grana em diárias, você ainda ganha um amigo e aprende algumas coisas.

David Heatley e Ivan Brunetti


Com um público significativamente menor, em relação ao bate-papo com Crumb, pouco mais de 30 pessoas se espalhavam pelo auditório/sala de cinema e, às 14 horas, foi iniciado o encontro. Dos dois convidados, Ivan foi o primeiro a ser apresentado pelos dois moderadores.


Parte de uma safra de autores baseados em Chicago (da qual Chris Ware também faz parte), com forte caráter autobiográfico em seus trabalhos, Ivan é o organizador de Comic Book Anthology, excelente antologia (em dois volumes) publicada pela Yale Press, professor no Chicago Arts College e estava em Angoulême em decorrência do lançamento de Misery Loves Comedy, livro que reúne os três primeiros volumes de Squitzo, com suas obras lançadas nas décadas de 1980 e 1990.

Bastante tímido e de fala mansa e suave, Ivan foi muito simpático e respondeu às perguntas sem constrangimento. Parava, vez ou outra, para se desculpar pela chatice de suas falas monotônicas e lamentava que estivesse causando sono nos presentes.

Sobre seu trabalho como professor, comentou que muitos de seus alunos não gostam da leitura obrigatória de quadrinhos antigos que pede. Afoitos, se preocupavam demais em publicar seus trabalhos para fazer dinheiro e fama sem a devida atenção à história desse meio.

Disse que, para ensinar a contar histórias, pedia que grande parte dos trabalhos fosse de cunho autobiográfico. Assim, o aluno já saberia a história que teria de contar e seu foco se voltaria para como narrá-la.

Nesse ponto, fez questão de deixar clara a diferença entre arte-terapia e quadrinhos autobiográficos. Enquanto o primeiro é algo exclusivo à relação paciente/terapeuta, não pressupondo, portanto, publicação; o segundo é pensado exclusivamente para tal, visando o leitor. Pode, é claro, haver uma intersecção entre os dois, mas isso não é regra.

Disse que não está contente com seu traço, mas que começa a se identificar com a maneira como desenha. Isso explica a mudança constante em sua arte em Misery Loves Comedy, seu início de carreira, e o motivo pelo qual copiava deliberadamente o estilo de outros autores. Todo trabalho era um exercício.

A apresentação de David Heatley foi mais modesta. Limitou-se a tratar de My Brain is Hanging Upside Down, também de caráter autobiográfico. Ele explicou que já estava ficando bastante conhecido como “o cara que faz quadrinhos de sonhos”, numa referência ao tipo de trabalho que vinha publicando fazia algum tempo.

Por isso, decidiu fazer algo para mudar esse rótulo. Optou por fazer um álbum inteiramente autobiográfico, que tratava desde as suas experiências sexuais com homens, mulheres e dildos na juventude até o ódio que sentia por sua mãe.

Como o livro todo trata de sua vida, é inevitável que pessoas próximas a ele sejam representadas em determinados momentos. Ele citou uma antiga vizinha com quem teve um caso, filha de uma amiga de sua mãe.

Tempos depois, ao abrir seu e-mail, viu na caixa de entrada uma mensagem sua com o assunto “Eu li seu livro...”. Suando frio, abriu e se surpreendeu com o conteúdo extremamente elogioso, que dizia, entre outras coisas “eu e meus pais rimos muito lendo juntos”.

“Tentei imaginar o que faria os pais dela rirem ao ler que eu transava com a filha deles no quarto, enquanto eles conversavam com a minha mãe na sala”, brincou.

A reação desses conhecidos, pai, mãe, amigos, esposas, ex-amantes etc., diante de quadrinhos que retratam suas vidas, sob o ponto de vista de outra pessoa, foi uma das primeiras questões colocadas pelo público quando o debate foi aberto.

David disse se manter bastante próximo aos pais e que seus primeiros quadrinhos causaram um certo constrangimento na família ao serem publicados. Nos trabalhos seguintes, decidiu mostrá-los e conversar com eles antes.

Ivan, em uma abordagem diferente, e bastante característica de sua personalidade melancólica, disse que é abençoado pelo desinteresse dos pais sobre seu trabalho, o que lhe garante bastante liberdade com um mínimo de constrangimento.

Para ambos, Charles Schulz é uma referência, especialmente para Ivan , que citou, já no final do debate, seu panteão pessoal para exemplificar: “Schultz > Deus > Homem > Cachorro > Gato > Ivan”.


David não chegou a tanto. Disse que passou a gostar mais de Peanuts já adulto e que admira a maneira como consegue tratar temas absolutamente complexos, adultos e autobiográficos usando crianças como personagens principais.

No debate aberto, perguntei a Ivan como se configura hoje o campo de estudos em histórias em quadrinhos no meio acadêmico norte-americano. Ele respondeu que ainda é muito limitado. Há diversas análises de conteúdo por outras ciências, como pedagogia e sociologia, mas pouquíssimas aulas que tratam especificamente de HQs.

As disciplinas que ministra, por exemplo, são as únicas do Chicago Arts College. Assim, dado o panorama de alguns anos atrás, em que qualquer discussão sobre o tema era algo quase utópico, ele vê o estudo de quadrinhos dentro das universidades com bastante otimismo e com uma aceitação crescente, porém lenta.

Ao final do debate, ambos agradeceram a presença de todos e Ivan se desculpou de novo por fazer as pessoas dormirem. Estariam, cada um no estande de sua respectiva editora, autografando seus álbuns no dia seguinte. E todos estavam convidados a comparecer.

Expo Crayonnés


Na Casa dos Autores acontecia a exposição Crayonnés, com obras de 26 jovens em residência artística por lá.

Em um sobrado, com cômodos bastante apertados e sem qualquer adaptação para acolhimento de grandes públicos, era a pior mostra para ser vista. Eram vários autores, com duas ou três páginas expostas, sem qualquer explicação ou contextualização (o mesmo mal das exposições de Fábio e Blutch). Obras identificadas apenas pelo nome e a nacionalidade do autor.


Além disso, a quantidade de pessoas ali era insuportável. O edifício era tão mal planejado, que em determinado momento os presentes tinham de andar em fila indiana para ver os trabalhos fixados em um corredor estreitíssimo.

Se alguém se detivesse observando mais atentamente um trabalho que, por ventura, pudesse ter chamado a sua atenção, parava a exposição inteira. Não passavam dois lado a lado.

Então, ficava naquele aperto; e eu imaginando qual seria a reação das pessoas e da organização no caso de um incêndio ou mesmo de alguém que simplesmente passar mal. Difícil aguentar dez minutos lá dentro.

Fim do dia


A última atividade do dia foi ler mais coisa no Espaço Fnac - SNCF. Terminei Misery Loves Comedy e passei por alguns outros títulos.

Les Enfants du Capitaine Grant, de Alxis Nesme e Jules Verne, e George Sprott: 1894-1975, de Seth.

Fomos embora às 20 horas, chutados pela segurança no fim do penúltimo dia do festival.

Um brasileiro em Angoulême - Parte 3

Por Douglas Lambert

Angoulême, 31 de janeiro de 2010


O último dia do festival é também o mais curto. As atividades começavam às 10h e se estendiam até às 18h. Além da cerimônia de entrega dos prêmios, às 16h30min, no teatro da cidade, só os Encontros Internacionais prometiam algo.

Joe Sacco


Para mim, o encontro com Joe Sacco era o mais esperado, depois do com Robert Crumb (não conto o com Sempé, para não ficar triste). Imaginava muita gente na porta, filas enormes, pessoas interessadas e até alguns jornalistas.

Os cartazes de divulgação de Gaza: 1953 (no original, Footnotes in Gaza e, no Brasil, Notas sobre Gaza), álbum que o autor estava lançando no evento, faziam grande estardalhaço para a presença dele.

Por isso, esperava por algo que, no final das contas, não aconteceu, pelo menos não nos moldes com que eu aguardava - e isso foi muito bom.

Pouquíssimas pessoas compareceram (a hora e meia de antecedência com que cheguei ao Edifício Castro não se justificou) a um debate intimista e com um Joe Sacco extremamente simpático, muito eloquente e interessado em falar com o público.

Joe chegou cedo e ficou algum tempo conversando com o público do lado de fora, esperando a autorização para entrar na sala. Ao assumir seu lugar à frente da mesa, ficou aguardando com um ar de quem dominava perfeitamente esse tipo de situação.

Afinal, jornalista que é, certamente está mais do que acostumado a interagir com outras pessoas do que artistas tímidos, melancólicos ou só ranzinzas, até.

A conversa começou, como é o costume dos encontros, com um histórico da carreira do autor. Formado em jornalismo, se desencantou com a profissão ao se ver empregado num jornal de pequena circulação nos Estados Unidos. Lá, com pouquíssima liberdade para escolher suas próprias pautas, era obrigado a escrever matérias compradas por anunciantes.

Desistiu da profissão e mudou-se para a Europa após algum tempo. Em determinado momento, estava em Berlin, fazendo pôsteres e arte de discos para bandas locais. Mas, cansado da cobertura parcial e extremamente simplista que recebia dos conflitos no Oriente Médio pela imprensa norte-americana, em especial, decidiu partir rumo à Palestina, em busca de uma visão mais completa dos fatos.

Os resquícios de sua formação e a atual ligação com as artes plásticas o fizeram pensar em criar algo a partir dessa experiência. Daí, surgiu o álbum Palestina.

Durante o processo de criação das páginas de seu primeiro trabalho, ficou clara para ele a necessidade de ir à Bósnia cobrir a guerra por lá de maneira semelhante ao que fizera no Oriente Médio. E assim por diante...

Confesso: não sabia bem o que esperar dele. Até então, tinha lido só algumas páginas de Palestina e, na época, não gostei muito, principalmente por achar uma coisa exibicionista demais. Um americano indo até lá para mostrar a realidade local e se colocando dentro da história?

Isso me parecia gonzo demais. Um quase “Hunter Thompson em quadrinhos”. De certa forma, eu estava certo, e isso é bom.

Quando questionado sobre sua presença dentro de seus trabalhos e o seu papel duplo de narrador e personagem, uma das primeiras coisas que Sacco fez questão de colocar foi sua admiração pela obra do Dr. Gonzo.

Disse que, por mais que você busque, não encontrará melhor trabalho jornalístico de cobertura das eleições norte-americanas que Fear and Loathing: On the Campaing Trail 72. Sobre a obra, ainda não publicada no Brasil (pelo que sei), vale a pena destacar alguns pontos.

Hunter Thompson, a pedido da revista Rolling Stones, cobriu, de dezembro de 1971 a dezembro de 1972, toda a campanha presidencial norte-americana. Mas seu papel não foi o de mero espectador/repórter: ele foi além.

Seu texto era direto, abusado e extremamente crítico. Muito diferente do jornalismo literário criado por Truman Capote em A Sangue Frio, em que o jornalista faz as vezes de Deus (onisciente e invisível), o seu jornalismo gonzo tinha como principal característica a sua presença constante vendo, observando.

Ele era tão parte da notícia quanto a notícia em si; e sua atuação mudou, pelo menos por algum tempo, a maneira com que o jornalismo tratava a política. Ficou tão famoso que, posteriormente, acabou sendo prejudicado por isso.

Uma fonte rápida de informação sobre sua obra pode ser encontrada no documentário Gonzo: The Life and Work of Dr. Hunter S. Thompson.

O caso de Joe Sacco é semelhante. Como Thompson, sua função dentro do texto/quadrinho não é de mero exibicionismo, mas de “verdade metodológica”. Ele não está lá para parecer descolado, inteligente ou mesmo bobo (como ele se retrata na maioria das vezes).

Está lá para dizer “Isso tudo não é mentira. Eu estava lá. Eu vi!”. Entender isso mudou de tal forma minha relação com a obra de ambos, que hoje ambos estão no coração do meu projeto (em construção) de mestrado.

Ao tratar de Notas sobre Gaza disse o que já havia dito em várias entrevistas até então e que certamente foram repetidas no Brasil na ocasião do lançamento.

Joe Sacco demorou sete anos para finalizar a obra - num processo de, pelo menos, dois anos exclusivamente voltados para pesquisa. Havia começado a se interessar pelo assunto ao deparar com uma nota de rodapé em um relatório antigo da ONU sobre a situação da Palestina.


Disse também que foi muito mais difícil desenhá-lo, por ser seu primeiro trabalho histórico, quase etnográfico, e menos jornalístico. As cenas que reconstroem a Faixa de Gaza dos anos 50, por exemplo, foram baseadas em fotografias antigas e descrições.

O autor admite que tinha ciência de haver uma chance grande de ter errado ou que de pintarem contradições nos relatos que colheu, mas que, na medida do possível, tentou deixar isso também à vista do leitor - há todo um trecho do livro que reconta a história expondo possíveis contradições no relato das testemunhas.

Quanto ao seu trabalho como jornalista, disse que outros colegas de profissão costumam invejá-lo, por ter anos para escrever uma única matéria. No entanto, apontou que isso também pode ser um problema.

Afinal, anos escrevendo e desenhando uma única matéria podem transformar seu tema, a ponto de deixá-lo completamente desatualizado. Assim, disse ter tido sorte de com Notas, pois a história já é antiga e não havia mais como ela mudar.

A certa altura do debate, perguntei sobre o Haiti, que na época havia acabado de ser completamente destruído pelo terremoto:

– Joe, você começou seu trabalho com quadrinhos jornalísticos em Palestina por estar descontente com a cobertura sobre o conflito entre palestinos e israelenses. Qual a sua visão sobre o que aconteceu recentemente no Haiti, de acordo com noticiário recente.

Ele respondeu mais ou menos assim:

– Infelizmente, não pude acompanhar da maneira como gostaria essa tragédia no Haiti, pois estou há algumas semanas viajando em turnê de lançamento do livro. No entanto, me parece que a situação por lá é mais ligada a uma questão de pobreza extrema do que resultado de um desastre natural. Nesse sentido, acho que questões ligadas a conflitos e guerras são mais difíceis de serem cobertas do que desastres naturais. Afinal, não existe um culpado humano e o jornalismo pode mostrar-se mais humano”.

– E também mais cínico, pensei.

Terminado o debate, fui até a mesa conversar um pouco com ele. Mais pessoas tiveram a mesma ideia e Sacco atendeu um a um. Chegou até a me passar seu e-mail, que guardo como um autógrafo em meu caderno de campo.

Musée de la BD



Esta, certamente, é a parte mais triste de toda a viagem. Sinto até vergonha de contar... Não visitei o museu!

Assim que saímos do encontro com Joe Sacco, almoçamos e fomos ao Musée de la BD. Instalado em uma antiga fábrica de papel, o recém-reinaugurado e reformado espaço é lindo, amplo, com enormes sofás para o visitante ler qualquer um dos quadrinhos disponíveis para consulta e com uma meia-luz que convida a pessoa cansada a um maravilhoso cochilo. E eu o fiz.

Mas não fui o único. Muita gente também dormiu. Meu consolo foi comprar, mais tarde, o enorme La Bande Depenei: Son Histoire et son Maitres, livro editado pelo próprio museu, que conta a história do quadrinho francês e belga, além de falar um pouco sobre os comics norte-americanos.


Musée Municial e Hôtel de Ville


O Museu Municipal de Angoulême é muito bonito, um prédio antigo que estava em reforma na época, e possui uma variedade enorme de peças em exposição.

De história natural (esqueletos de animais antigos encontrados em Angoulême) à arte contemporânea, lá estava localizada a exposição Quando o Louvre convida as Histórias em Quadrinhos. “Uma exposição histórica”, pensei. Nada disso.

A exposição trazia obras dos artistas Nicolas de Crécy, Marc-Antoine Mathieu, Éric Liberge e Bernar Yslaire, que tinham como plano de fundo o Museu do Louvre.

Na parede, as obras eram expostas exatamente como eram encontradas nos álbuns, ou seja, caso já conhecesse esses trabalhos, você ia até lá para ver exatamente a mesma coisa. Nem um balão a mais ou a menos. O que salvava eram as televisões que mostravam uma animação com todo o processo de criação das páginas. Do esboço a lápis à finalização no Photoshop.


No topo da torre do Hôtel de Ville, o antigo castelo do “feudo” de Angoulême (hoje sede da Prefeitura), depois de subir uma escadaria gigante e de uma só “mão” (uma pessoa tinha de avisar quando alguém descia, para que não houvesse um encontro no meio do caminho), o visitante encontrava a mesma situação.

A exposição La Saison des Flèches trazia as mesmas páginas do quadrinho. Esta, no entanto, não possuía as televisões com a animação, mas contava com a presença de um dos autores, Samuel Stento. Um pouco frustrante...

Mas o Hôtel guardava uma surpresa. Depois que anoitecia, projeções eram feitas em suas paredes. Fauve, o mascote do festival, escalava pilhas de livros, pulava de janela em janela, subia em árvores e escorregava na ponta de um lápis. Muito bonitinho. Isso vimos no sábado, dia 30.

Como no domingo, último dia, tudo fecha mais cedo (ainda de dia), vale a pena se programar para não deixar essa atração para a última hora.

Teatro


Estava marcada para as 16h30min a entrega dos diversos prêmios. Meia hora antes, em direção ao teatro onde aconteceria a premiação. Chegamos pouco antes e encontramos o local lotado e de portas fechadas. Ninguém entra, ninguém sai.

Embora seja um evento marcado no calendário distribuído ao público, esta atividade não é para os fãs. Basicamente, só jornalistas e artistas entraram. O restante ficou de fora, sem receber qualquer notícia.

Eu imaginava que fosse acontecer um evento grandioso, com transmissão simultânea em telões espalhados pela cidade para quem não conseguira entrar, como eu.

Nada. Nem a rádio do festival, que anunciava em grandes caixas de som as atrações para a cidade toda, transmitiu. Fiquei sabendo do resultado somente no dia seguinte, consultado pela internet.

Musée du Papier


Logo em frente ao Musée de la BD fica o Musée du Papier (o Museu do Papel).

Lá, eu esperava encontrar algo voltado à história da impressão na França. Angoulême, nos Séculos 18 e no início do 19, foi um dos, se não o mais, importantes pólos franceses de impressão de livros.

Parte dessa história é contata em Ilusões Perdidas, do Balzac, e era por isso que eu esperava. O que encontrei, na verdade, foi um museu dedicado à história de uma fábrica de papel para fumo que estava instalada naquele lugar.

No mínimo, inusitado.

No entanto, por mais que fosse, em certo grau, algo interessante, o local limitava-se a uma sala de pouco mais de 50 m² no subsolo.

No piso superior, na outra sala que integrava o museu, estava a exposição de quadrinhos russos, muitíssimo mais interessante que qualquer outra até então, pois não apresentava uma cópia das página publicadas, mas sim diversos originais.

Alguns trabalhos eram baseados em fotografias de esculturas de massinha que formavam pequenos quadrinhos, quase tiras, pornográficas. Uma professora que leva os meninos ao zoológico para ver animaizinhos transando, um casal que faz sexo em público. Coisas do tipo.

Além disso, também havia obras feitas no local, colagens e grafites feitos na parede do museu...


Mas, como nada é perfeito, a mostra também sofria por uma curadoria extremamente mal feita. Embora muita coisa fosse apresentada sem balões (se eles existiam naqueles trabalhos, era impossível saber), outras eram mostradas com o texto original, em russo. E algumas ainda estavam sem identificação de autor ou data.

Grande parte dos artistas, ou dos responsáveis russos pela exposição, não estava nem aí para nada e ficava conversando na porta, fumando cigarros. Ainda assim, era uma mostra das mais interessantes. Menos francesa, menos certinha...

Fim do dia. Adeus, Angoulême.


Como o pessoal da feira de antiguidades do vão livre do MASP, em São Paulo, pouco antes do horário de fechamento, os expositores já começam a desmontar seus estandes e a encaixotar tudo.

Por volta das 17h, o festival começa a perdeu seu charme e dá a dica ao visitante: “Meu amigo, está na hora de voltar para casa”.

Foi o que fizemos. Rumamos a pé para a casa de nossos anfitriões franceses para também desmontar o nosso circo.

26 janeiro 2011

Preview de Groo - A grande crise


A Mythos anunciou que lançará uma nova edição especial de Groo: A grande crise.

Confira abaixo um preview da obra, em seis páginas no melhor estilo do bárbaro errante. Para ampliar as imagens, clique sobre elas.





Veja algumas páginas de Cripta - Volume 1


Outra novidade da Mythos é a série Cripta, cujo primeiro volume chega ao mercado nos próximos dias.

Veja uma prévia dessas HQs de terror, que fascinaram milhares de leitores nos anos 1960. Para ampliar as imagens, clique sobre elas.









21 janeiro 2011

Anos 80 na pele

Enquanto procurava materiais sobre os quais escrever na matéria especial Grandes coleções Marvel e DC no Brasil, fui descobrindo uma porção de coisas que estavam guardadas (escondidas!) na casa dos meus pais e que fazia muitos, muitos anos que eu não via.

Uma delas é esta tatuagem removível, de uma série que vinha nos gibis de super-heróis da Editora Abril, em 1986.

Acabei não usando a imagem na matéria, pois preferi a de uma propaganda das tatuagens.

Mas escaneei para contribuir com um post do blog Super-heróis - BR e resolvi divulgar aqui também.

Apesar de todo esse tempo (25 anos), a tatoo ainda está firme e forte. Até colou nos meus dedos, depois que retirei uma parte da película protetora.

Encontrei outras bugigangas antigas, nessa minha "caça ao tesouro". Vou mostrá-las aos poucos, aqui no Blog do Universo HQ.

19 janeiro 2011

Pra marvelmaníacos tarados!

Parece incrível, mas, em 1992, a "Casa das Ideias" cometeu Marvel Swimsuit Special, uma revista que trazia em cada página um personagem em pose provocante para satisfazer leitores masculinos e femininos, heteros ou gays.

Fossem quem fossem esses leitores, dá pra ver que quem comprou a revista só podia ser nerd tarado.

Tem até Nick Fury e Tony Stark de sunguinha. Uma lou-cu-ra!

Veja os pin-ups/pôsteres produzidos por Jim Lee, John Romita Jr., Joe Jusko, Marc Silvestri e outros.