15 novembro 2011

O amor valente (um texto um pouco mais pessoal que uma resenha)

Aconteceu de, na noite que antecedeu um feriado nacional de 15 de novembro, eu ter um daqueles sonhos que ficam incomodando até que você o anote ou até que o telefone toque e estrague tudo.

O telefone não tocou, então tive que escrever.

Neste sonho (e acredito que os sonhos, na verdade, são pedaços de vidas paralelas de nossas contrapartes em algum mundo diferente do nosso, que conseguimos acessar e vivenciar de camarote, sem interferir em nada), encontrei uma garota cujo nome eu não lembrava, ou nunca soube. Alguém com quem literalmente sonhei há mais de 20 anos e, neste outro sonho, reencontrei. E ela também se lembrava de mim.

Não sei quais as chances disso acontecer, de dois universos específicos numa miríade de multiversos cruzarem novamente os seus caminhos e, neles, duas pessoas específicas entre bilhões que podem existir talvez em apenas uma realidade. Mas foi o que houve. Onde estávamos não era uma festa, mas uma reunião, com cara de reencontro de colégio. Ficamos circulando, um cruzando o caminho do outro, por tempo suficiente para eu ficar cansado de ter medo e ir falar com ela.

Ela estava com um daqueles conjuntos jeans de uma peça que eram meio vestidinho, meio jaqueta, cheios de bolsos. Cabelos meio compridos, um batom meio discreto, olhos meio castanhos, mas tudo mais colorido do que costuma ser. Por algum motivo, tinha uma pia no meio do corredor pro qual levei a garota.

Antes de falar qualquer coisa, lavei meu rosto, olhei bem pra minha cara no espelho e foi muito estranho me ver um pouco mais jovem, sem cabelos brancos e sem bigode. Quando me virei, ela me deu a mão, abriu uma porta e me levou para um quarto simples. Eu me deitei num tapete fofo, ela sentou do meu lado, de frente para mim e, daí, comecei o diálogo que anotei ao acordar:

- Da última vez, você me virou as costas.
- Eu lembro. Você não viu, mas eu olhei pra trás.
- Eu não. Fui embora e nunca mais te vi.
- Eu perguntei de você. Ninguém sabia de nada.
- Eu não sei onde eu estava. Nem sei como voltei pra cá.
- Agora você voltou.
- Mas eu sei que vão me arrancar daqui de novo.

Então, ela se deitou do meu lado, sempre olhando pro meu rosto, seu corpo sempre junto ao meu.

- Então, você não pode esquecer.
- Eu nem sei o seu nome. Nunca soube. Mas sei o que sempre quis te dizer.
- Mas não precisa mais agora.

E acordei logo depois de ela me beijar, olhar direto para mim e me dizer, enfim, o seu nome.

Quando acordei, estava ao meu lado o livro novo do Vitor Cafaggi, Valente. Eu tinha lido logo antes de dormir. De algum jeito, funcionou como um portal. Pois todo mundo já passou por isso, neste ou em qualquer outro universo: uma história de amor que começa com um olhar, num lugar casual, e que é diferente para as duas partes, e que tem desencontros, que não funciona como se fosse um roteiro elaborado de cinema, em que um monte de subterfúgios acontecem para impulsionarem o romance.


Tudo é simples porque, nas histórias de amor da vida real, muita coisa se passa apenas na cabeça das duas (ou mais) partes envolvidas. E nenhuma delas pensa a mesma coisa nem do outro nem sobre o que está acontecendo, mesmo quando o amor se torna correspondido.

Valente funciona porque conta histórias de amor que acontecem com qualquer pessoa (ou que, na pior das hipóteses, já aconteceram). Sentimentos puros, com frios na barriga, brilhos nos olhos, sorrisos bobos no meio da rua, desvios incríveis para encontros pequenos que parecem valer uma eternidade. Eu já fiz tudo isso. E, no sonho de hoje, pude fazer de novo, ao reencontrar um antigo romance de sonho. Do único jeito possível.

É preciso ser valente para admitir que são esses romances adolescentes, dos primeiros da vida, aqueles que nunca serão esquecidos ou maculados. No fundo, é isso. É preciso ser Valente.

3 comentários:

Quatro D disse...

Isso foi... profundo. Quisera eu ter um sonho desses que pudesse me lembrar, pq minha vida amorosa sempre foi uma falha (por medo, acidentes ou coisa parecida).

Obrigado por compartilhar o pensamento.

El Bergo disse...

desculpem postar isso aqui, mas não achei o contato no site.
nesse fim de semana vai acontecer um lançamento coletivo de gibis independentes:

Lançamento Coletivo das HQs:

"Gibi Gibi" de Luiz Berger, Mateus Acioli e Heitor Yida.
+
"Bátima" e "Não Fui Eu" de André Valente,
+
"O Plexo Holístico" de Diego Gerlach,
+
"Golden Shower 2" de Cynthia Bonacossa
+
"Bananas" de Cynthia B. & Chiquinha
+
"Calendário Pindura 2012"
+
"Peixe fora d´água" de Diego Sanchez e Laura Lannes


dia 25 (sexta)- 19h HQ MIX - Praça Rossevelt 142
http://livrariahqmix.blogspot.com/

dia 26 (sábado)- 20h El Cabriton - Rua Augusta 2008
http://elcabriton.com/blog/



flyer:
http://img822.imageshack.us/img822/7398/flyerlancamentogibigibi.jpg

evento no facebook:
http://www.facebook.com/events/236034343129114/

.zita. disse...

Lindo o texto. Deu muita vontade de ler o quadrinho.... =)